O Globo |
20/10/2006 |
Trazer para o debate político a discussão das privatizações, para ressaltar a diferença da maneira de tratar as coisas do Estado, é uma boa alternativa programática para uma campanha eleitoral medíocre. Ao levar o debate para o plano ideológico, sobretudo explorando a questão das privatizações, o presidente Lula deu um golpe certeiro que trouxe de volta para sua base de apoio a esquerda ex-petista e ainda parte ponderável da classe média, que não é de esquerda, mas se sente "proprietária" de um patrimônio nacional que estaria sendo ameaçado por um novo governo tucano privatista. Outra coisa muito diferente, porém, é o terrorismo eleitoral que está sendo feito pela campanha petista, com a insinuação de que Alckmin eleito, a Petrobras e outras estatais seriam privatizadas. O que mexe mesmo com a classe média, que está abandonando a candidatura tucana em todas as regiões do país, é a possibilidade de privatizar a Petrobras. As demais estatais, como Banco do Brasil ou Caixa Econômica, ainda se mantêm como símbolos de um Estado forte, mas talvez não causem tanta comoção quanto a Petrobras. Basta lembrar que quando foi proposto, no governo Fernando Henrique, que o nome no exterior fosse trocado para Petrobrax para facilitar a comunicação internacional da companhia, foi um deus-nos-acuda. Mas a retomada da ideologia na campanha petista tem seus problemas para essa mesma classe média, que já rejeitou o petismo pelo que ele representava de autoritarismo e conluio com movimentos esquerdistas pouco afeitos à democracia, como o Movimento dos Sem Terra. O anúncio de José Rainha de que a trégua do MST termina domingo, após a eleição, e que o movimento voltará a atuar revigorado pela vitória eleitoral de Lula, é um desses movimentos à esquerda que assustam a classe média do país e atingem em cheio a imagem do governo. Também o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, passou dos limites quando comparou Alckmin a Pinochet, querendo acentuar essa dicotomia entre esquerda e direita. Reforçar a imagem de Alckmin como direitista, salientando suas afinidades com a prelazia papal conservadora Opus Dei, é parte dessa estratégia que levou de volta para a campanha da reeleição parcela da esquerda que havia rompido com o PT e votara em Heloisa Helena e Cristovam Buarque no primeiro turno. O ex-ministro José Dirceu, que já exortara Lula a levar para as ruas os chamados movimentos sociais para defender seu governo, na primeira etapa da crise política que se processa desde o meio do ano passado, volta com sua mania de mobilização popular, desta vez contra o que chama de conspiração das elites brasileiras contra a reeleição de Lula. José Dirceu, em seu blog, acena com a possibilidade de um segundo governo mais voltado para as forças populares. Mas isso não quer dizer que, reeleito Lula, ele terá o apoio desses antigos companheiros e eleitores, e nem que a reaproximação eventual da classe média seja uma adesão definitiva a um segundo governo. O mais provável é que Lula continue tentando se equilibrar entre a cruz e a caldeirinha, e desagradando a gregos e a troianos. No curto prazo, sua estratégia está dando certo e deve levá-lo à reeleição. No longo prazo, não terá como manter um governo que distribui benesses permanentemente e, ao mesmo tempo, mantém o controle do equilíbrio fiscal. A política econômica não mudará, e, portanto, a lua-de-mel com a esquerda, que sonha com um plano B, não durará muito. Ou a classe média continuará sendo achatada pela alta carga de impostos, ou o crescimento do país continuará ameaçado pela falta de reformas estruturais, como a da Previdência. Para fazer as reformas, o governo terá que ter o apoio de pelo menos parte da oposição, e ganhará novamente o combate da esquerda, tanto no Parlamento quanto nos movimentos sociais. O governo já anunciou que não poderá continuar dando aumentos reais ao salário mínimo, nem reajustar os servidores públicos nos mesmos níveis que fez no ano eleitoral, o que fará voltar a relação com esses setores da classe média ao estado anterior. No plano político, terá que superar o processo de impugnação de sua candidatura devido à tentativa de compra do dossiê contra os tucanos. Mesmo que até o dia da eleição não surjam provas evidentes da relação entre sua campanha eleitoral e o dinheiro de origem criminosa, as investigações continuarão, e, como o próprio presidente Lula admite, alguém terá que pagar diante da Lei Eleitoral. A tentativa dentro do PT de jogar a culpa para a campanha ao governo paulista do senador Aloizio Mercadante é rechaçada por ele com veemência. O fato de um assessor direto seu ter sido o homem identificado com a mala do dinheiro o constrange, mas não o incrimina, assim como não vê o presidente Lula incriminado por serem os demais participantes do esquema membros de sua campanha presidencial e seus amigos pessoais. Todo o esquema teria sido arquitetado dentro da estrutura do PT nacional, com o conluio do PT paulista. Uma parte do dinheiro ter vindo de bicheiros do Rio seria uma prova de que a arrecadação foi nacional, o que, se alivia Mercadante, complica a situação da campanha de Lula. Para que tanto Lula quanto Mercadante sejam inocentados, é preciso que prevaleça a tese de que mais uma vez o partido teria agido na ilegalidade, com a autonomia própria que lhe confere sua estrutura poderosa. O próprio presidente Lula, ao afirmar que tirara o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, de sua campanha pela falta de explicação para o caso do dossiê, o colocou no cadafalso. No mínimo, Berzoini terá que responder a um processo no Conselho de Ética, que a oposição pretende promover tão logo termine a eleição. |
Entrevista:O Estado inteligente
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