Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 08, 2006

Miriam Leitão Filhos do baby-boom

Neste outubro, os Estados Unidos estão atingindo um número redondo: 300 milhões de habitantes. Entre os países industrializados, é a população que mais cresce e a mais jovem. Os analistas acham que, não por acaso, é também a mais inovadora das economias maduras. De 2000 a 2005, 40% desse crescimento vieram da imigração. Eles celebram as vantagens da imigração enquanto projetam o muro que vai separá-los do México.`

Os Estados Unidos comemoram a marca como prova dos ativos que têm para continuar sendo a economia dominante. A "BusinessWeek", com a conhecida megalomania americana, diz que o país "entrou para o clube de China e Índia de população de, pelo menos, 300 milhões". Detalhe: os outros dois têm mais de um bilhão. Nos próximos 30 anos, pelas projeções demográficas, nenhum país vai chegar a 300 milhões. Os países começam a temer o oposto. A >kern 0.01<"The Economist" conta que a população da Rússia, desde o fim da União Soviética, encolheu em 6 milhões de habitantes e continua diminuindo ao ritmo de 700 mil por ano. Hoje tem 143 milhões e chegará a 2050 com 100 milhões. Itália e Alemanha estão encolhendo, e a França detectou, pela primeira vez, uma diminuição da sua população. O Japão tem hoje 128 milhões de habitantes e chegará a 100 milhões em 2050. Quando chegar nessa metade do século, os EUA projetam ter 400 milhões de habitantes. Os países que estão encolhendo estão preocupados. Há políticas públicas para incentivar o nascimento e apelos nacionalistas dos governos aos casais.

A população dos Estados Unidos tem muitos jovens, o que injeta energia na economia, principalmente num cenário de crescimento econômico e expansão do emprego. Setembro foi um mês ruim para emprego e, mesmo assim, criaram-se 51 mil vagas. Com uma legislação flexível, o mercado de trabalho tira maior vantagem da economia diversificada e high-tech. A vantagem da juventude é que ela é mais criativa, mais disposta a correr riscos, mais predisposta à inovação. Nos EUA, 28% da população têm menos de 20 anos, contra 20% na França e na Alemanha, 19% na Itália e no Japão. Uma pesquisa na Europa mostrou que, entre 15 e 24 anos, 73% das pessoas se sentem atraídas pelos novos produtos; acima de 55 anos, cai para 40%, conta a "BusinessWeek" para provar que ter uma população jovem produz incentivos de mercado para a inovação.

O Brasil nunca terá 300 milhões de habitantes, só se invertesse totalmente a tendência demográfica, o que não acontecerá. Há várias projeções para a população brasileira. Na mais conservadora, ou seja, a que prevê a menor queda do índice de natalidade, o Brasil vai se estabilizar em meados do século com 260 milhões, conta o demógrafo do IBGE Luiz Antonio Pinto de Oliveira, chefe de coordenação de pesquisa de indicadores sociais. Há projeções no Ipea em que a população se estabiliza antes e com menos gente.

— O índice de natalidade no Brasil caiu rapidamente. Em 1960, eram seis filhos por mulher; chegamos no começo da década de 90 com 2,3. Na segunda metade da dé$de 90, parou de cair, talvez por causa da estabilização da moeda. A partir de 2000, voltou a cair e está agora em 2,1. Dois filhos por mulher já é taxa de reposição. O Rio está abaixo disso — conta Luiz Antonio.

No Brasil, éramos 90 milhões em ação em 1970. Agora passamos de 187 milhões. Foi um dos poucos países que agregaram 100 milhões à sua população em menos de quatro décadas. Não repetirá o feito, mas ainda tem uma população extraordinariamente jovem. Nos Estados Unidos, a tese é de que eles têm energia para a inovação porque têm 28% da população com menos de 20 anos. No Brasil, são 36% abaixo dos 20.

— Quando se separa a população por qüinqüênios, o grupo que tem mais gente é o de 15 a 19 anos — comenta Luiz Antonio.

Existe mesmo o bônus demográfico? A tese é de que países com grande população jovem estão numa situação demográfica favorável. Entrando no mercado de trabalho e de consumo, esses jovens alavancariam a economia do país.

— Vários países deram esse salto. Na Inglaterra, foi assim na revolução industrial. Mas é preciso que o mercado de trabalho esteja crescendo — diz o demógrafo.

O novo padrão de produção, em que há menos trabalho em cada unidade de produção, e a economia crescendo pouco transformam a vantagem em problema. Para piorar, na faixa em que temos mais brasileiros, de 15 a 19 anos, a Pnad acabou de flagrar um aumento da evasão escolar.

Nos Estados Unidos, a chegada aos 300 milhões é vista como prova de que uma população que cresce e ainda é jovem manterá o país em crescimento. E eles notam detalhes como: nos estados ensolarados, como Texas e Flórida, a taxa de nascimento é maior. No primeiro censo feito nos EUA, em 1790, o país tinha 3,9 milhões. Em 1915, 100 milhões. Em 1949, 150 milhões e um PIB de US$ 267 bilhões. Foi quando virou superpotência. Em 1968, com 200 milhões, o país tinha um PIB de US$ 909 bilhões. Em 1990, chegou a 250 milhões e US$ 5,8 trilhões de PIB. Agora está nos 300 milhões com um PIB de US$ 13 trilhões.

Parte desse aumento se deve à forte imigração. O imigrante, por natureza, é ousado, e isso é outro fator que incentiva a inovação no país. Exemplos concretos citados pela "BusinessWeek" de americanos que vieram de longe: Andy Grove, da Intel, nasceu na Hungria; Jerry Yang, do Yahoo, em Taiwan, e Sergey Brin, do Google, nasceu na Rússia.

O Brasil recebeu imigrantes no passado, e isso nos encheu de energia. A população ainda é jovem e isso pode ser um ativo. Se não perdermos mais tempo.

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