Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 20, 2006

Depósitos de Duda na conta de Freud


Amaury Ribeiro Jr.
Correio Braziliense
20/10/2006

Integrantes da CPI dos Sanguessugas investigam por que publicitário deixou R$ 29 mil nas contas da Caso Sistema de Segurança

Um mês depois de ser acusado de participar da compra do dossiê contra o PSDB, o ex-assessor particular da Presidência da República Freud Godoy volta a assombrar o divã do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um relatório encaminhado por integrantes da CPI dos Sanguessugas à Polícia Federal mostra que duas empresas do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça — a CEP Comunicação Ltda. e a Duda Associados — fizeram no período de janeiro de 2004 a março de 2005 quatro depósitos no valor total de R$ 29.347,00 na conta da Caso Sistemas de Segurança, empresa registrada na em nome de Simone Messeguer, mulher de Freud. Segundo fontes do Banco Central e da Receita Federal, as operações são suspeitas porque toda a grana dos depósitos foi sacada na boca do caixa.

As transações colocam o presidente no foco da crise iniciada dia 15 de setembro com a prisão de militantes envolvidos com a compra do dossiê contra tucanos. Até de ser demitido do cargo, Freud era responsável pela resolução dos problemas particulares de Lula, da primeira-dama Marisa Letícia e até dos filhos do casal. Integrantes da CPI dos Sanguessugas acreditam que a quebra do sigilo de Freud e das empresas poderá esclarecer se o dinheiro de Duda foi ou não usado para pagar despesas de familiares do presidente.

Se ficar configurado um duto ligando a conta bancária de Duda a de Freud e desta a gastos particulares da família presidencial, um novo e grande escândalo terá nascido por causa da história do dossiê. Isso porque a CPI dos Correios mapeou contas do publicitário em paraísos fiscais. Elas foram abastecidas com dinheiro frio. Um dos dados guardados no arquivo daquela comissão é um saque de US$ 5.329 na conta da Dusseldorf Ltde, empresa off-shore pertencente a Duda, sediada nas Bahamas, paraíso fiscal caribenho.

Mensalão
Tal retirada, conforme ficou registrado nos anexos do relatório final da CPI, data de 29 de dezembro de 2003. A taxa de câmbio da época, equivale a R$15.387,49. Quatro dias depois, em 3 de janeiro de 2004, Duda deposita R$ 8.135 na conta da empresa de Freud. Em tese, portanto, a Caso Sistemas de Segurança pode ter recebido dinheiro oriundo do mensalão — suspeita reforçada com o já identificado pagamento de R$ 98 mil a Caso Segurança pela SMPB Comunicação, a mesma de onde saiu o dinheiro da mesada dos deputados.

Ao analisarem a contabilidade da Caso, os auditores fiscais estão cada vez mais convictos que a empresa foi criada em 2004 com o objetivo de dar uma fachada legal a dinheiro sem procedência operado por Freud. “Além dos saques, também é no mínimo estranho que, logo após ser montada na Junta Comercial, a Caso é presenteada justamente com um contrato da empresa do publicitário”, disse um auditor.

Os investigadores também consideram estranho Freud, que recebia um salário de R$ 4.850 mais uma ajuda de custo de R$ 1.800, ter depositado no dia 24 de março deste ano R$150 mil na conta da Caso. A operação também foi considerada atípica por técnicos do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), órgão do governo responsável pelo combate à lavagem de dinheiro.

Os membros da CPI dos Sanguessugas chegaram aos depósitos ao analisar a movimentação bancárias das empresas de Duda obtidas pela CPI dos Correios. Segundo extratos bancários , a CEP Comunicação fez dois depósitos na conta da Caso no valor cada um de R$ 8.135. Os depósitos foram efetuados nos dias 3 de janeiro de 2004 e no dia 9 de novembro de 2004. A Duda Associados também efetuou dois depósitos na conta da Caso: um de R$ 6.577 no dia 10 de novembro de 2004 e outro de R$ 6.500 no dia 24 de março deste ano.

Auditores da Receita Federal se espantam também com a relação da Caso com a SMPB, justificada com um contrato de prestação de serviços. “É no mínimo estranho que uma empresa de Belo Horizonte resolva contratar uma empresa de segurança de São Paulo”, disse um fiscal tributário ao Correio.

A Receita também já sabe que a mulher de Freud passou a ter uma movimentação financeira bem acima de seus rendimentos declarados a partir de 2003 quando o marido foi nomeado secretário particular da Presidência da República.

Os auditores descobriram que a maior parte dos bens do casal é operada por Simone. No dia 28 de agosto, por exemplo, ela entrou com pedido de financiamento no Banco Safra para ampliar sua frota de carros. Isso para não andar a pé, porque Simone já possuía um Corola 2005, um S10 e um Ford Currier avaliados em R$ 150 mil. Procurado desde de a manhã de ontem pelo Correio por meio de seu advogado Augusto Botelho, Freud não foi encontrado. A reportagem também tentou contatar o marqueteiro Duda Mendonça, mas ele não foi localizado.

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