Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 15, 2006

Eleição no país que não dá certo Alberto Tamer*

Eleição no país que não dá certo


No fundo, esta coluna deveria estar distante dos debates políticos, principalmente após o primeiro, na TV Bandeirantes, do qual o candidato Lula saiu de maca. Afinal, o que está em jogo é o futuro da economia brasileira, nos próximos quatro anos. E o nosso futuro, o seu, o meu, o de todos.

Este é um país centralizado, onde o governo, que absorve 40% da renda simplesmente parou. E quem disse que somos uma economia capitalista, que precisamos menos do Estado? Roberto Campos afirmava sempre que não somos nem uma economia neocapitalista, pois o governo comanda tudo, há barreiras oficiais por todos os lados, impostos que crescem sem ouvir o povo. Aumento de impostos sem retorno algum para a sociedade.

A economia, que estava esmorecida, parou. E não será o simples resultado das eleições no fim do mês que irá acordá-la, pois entre outubro e janeiro há ainda um buraco negro.

Vai demorar muito para desfazer o mal que o nosso estulto isolamento internacional provocou; vai tardar muito para ser rompido, simplesmente porque temos uma política externa ideológica sem diálogo. Não quero ser duro, mas, perdoem-me, brasileiro como vocês, não posso deixar de me entristecer diante da desatenção, do desapreço com que somos tratados nos organismos internacionais. Ainda soam as piadas irônicas sobre o nosso programa da 'fome zero mundial...', ou a reunião presidencial proposta pelo presidente para ressuscitar Doha.Tudo deu em nada. Mas será que eu não estaria exagerando? Não. É só ler os jornais, acompanhar os acontecimentos. Nada mudou. Era tudo irreal, um sonho, fogo de artifício para efeito interno. Os presidentes hesitaram, nós pressionamos, eles se reuniram e saíram com risadas disfarçadas de ironia.

REFORMAS OBSOLETAS...

Mais ainda, o próximo governo vai fazer as reformas há séculos prometidas, com cheiro de mofo, já obsoletas, vai criar condições para atrair investimentos externos ou vai continuar obstruindo a entrada de novos recursos em defesa da dignidade da Pátria ofendida pela agressão colonialista do capital mundial? Tudo isso é importante, está na base de qualquer programa de crescimento econômico.

MAS E OS PROGRAMAS?

Não vamos entrar em questões de política - embora sejam primordiais -, pois economistas e sociólogos fazem suas propostas, mas quem decide de fato é o presidente. E está dando no que deu, nestes esquálidos 2,5% de crescimento, dramáticos, num país pobre que precisa de 6%. É pobre sim, leitor que me manda sempre e-mails malcriados floreados de patriotadas. Saia do centro de São Paulo e você verá isso de dentro do seu carro.Vá e depois me conte...

Mas esta é uma coluna séria que prefere analisar fatos e fazer previsões com base nesses fatos, e não em promessas, ainda mais eleitorais que geram manchetes vazias.

A FIESP ACORDA

A culpa não é só do governo. É da sociedade, é principalmente da classe produtora. Sim, dos empresários que não souberam se unir e agir. Qual o governo, ficaram falando, e nós, jornalistas, publicando, num esforço inútil, pois ninguém cobra nada de ninguém e fica tudo como está.

Agora, todo mundo promete tudo. Até o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, parece que acordou. Em longa entrevista ao jornal Valor, seguida de outras idênticas ao Estado, fez uma promessa que merece atenção. Agora, disse ele, vamos criar um 'ministério paralelo', uma espécie do inglês 'shadow ministry', formado pela oposição, para fiscalizar cada ato, cada promessa, acompanhar o andamento de cada projeto do governo e cobrar no plenário e em público, mobilizando a sociedade.

É mais ou menos isso que Skaf está agora prometendo. Vamos vigiar o governo. No fundo, a diferença é que o 'ministério das sombras', da oposição britânica, vigia e cobra do governo por todos os seus atos e aqui, no caso da Fiesp, vai agir apenas nos fatos que interessam à indústria. No fundo, vai defender os seus interesses, que são até legítimos.

FIESP FECHADA

A Fiesp tem um curso profissionalizante excelente para jovens, mas não o divulga. O Senac, da Federação do Comércio, também. Por quê? Estão Lotados? Pois gastem menos em outras 'promoções' e invistam na sociedade que tudo lhes dá. E não estarão fazendo nada mais do que preparar os seus futuros empregados. Eu já tentei há meses convencê-los disso. Até agora, à toa. Há certamente 'questões' mais prioritárias para a Fiesp e a Federação do Comércio.

O QUE CHURCHILL DIZIA

Mas querem saber de uma coisa? Tudo o que se falar e prometer agora, no calor da campanha, não vale muito. São promessas fáceis. Winston Churchill, que perdeu a eleição no momento em que ganhou a guerra e salvou a Inglaterra, tem uma frase antológica: 'As promessas dos candidatos são o sepulcro dos estadistas'.

Esqueçam as promessas e fiquem atentos aos fatos.Vocês sabem quais são as promessas traídas e as que não serão cumpridas. Isso está no dia-a-dia que levou a esse estupor, essa apatia da sociedade que domina o Brasil que aceita tudo.

Um Brasil onde, aconteça o que acontecer, nunca acontece nada. Desculpem o desabafo, mas não dá mais para segurar! Juro que não dá!

*E-mails: at@attglobal.net

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