O Estado de S. Paulo |
18/10/2006 |
Estivesse o PT na oposição, seria "estelionato eleitoral" o termo utilizado pelo partido para qualificar os anúncios de que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República só explicará ao Tribunal de Contas o caso das cartilhas e a Polícia Federal só dirá de onde veio o dinheiro do dossiê Vedoin depois das eleições. Como o PT está no governo, Luiz Gushiken, hoje assessor especial do presidente Luiz Inácio da Silva, pede mais prazo ao TCU para explicar, na condição de ex-responsável pela Secom, o destino de R$ 11,7 milhões gastos com cartilhas sobre feitos do governo a respeito das quais existem suspeitas de superfaturamento, desvio de dinheiro público ou, na mais amena das hipóteses, apropriação indevida do material pelo PT. Estivesse o PT na oposição, tal adiamento seria carimbado como uma tentativa deliberada de esconder fatos sobre os quais não há explicação convincente a fim de que o eleitor não disponha de todos os dados a respeito do governo que pretende uma renovação de mandato, para balizar seu voto. Estivesse o PT na oposição, o aviso da Polícia Federal de que só nas "próximas semanas" poderá fornecer indicações mais precisas a respeito de quem forneceu o R$ 1,75 milhão apreendido em poder de petistas que iriam comprar um dossiê e pagar por uma entrevista de Luiz Antônio Vedoin seria recebido como um atraso proposital com o objetivo de evitar hipóteses de constrangimento para o candidato oficial e, assim, também subtrair do eleitor informações importantes para conduzir sua decisão dia 29 próximo. Como o PT está no governo, vale a alegação de que as investigações precisam obedecer a critérios técnicos, mesmo o ministro da Justiça manifestando a certeza de que os acusados "não estão falando a verdade" quando negam conhecimento sobre a origem do dinheiro. Além disso, a polícia dispõe de técnicas de interrogatório e a Justiça de instrumentos como a delação premiada para obter informações necessárias à solução de casos já "praticamente esclarecidos", para usar palavras do próprio ministro Márcio Thomaz Bastos. Está, portanto, evidente que não adianta a oposição espernear. Nada de importante sobre esses dois episódios onde há envolvido grande volume de dinheiro - em um, de natureza pública, em outro, de "origem criminosa", segundo o presidente da CPI dos Sanguessugas, Antônio Carlos Biscaia - será informado à Nação nos próximos 15 dias. Mas em novembro a vida volta ao normal, as coisas retomam seu curso natural e a polícia terá de dizer o que descobriu, o Tribunal de Contas julgará se aceita ou não as explicações de Luiz Gushiken, a CPI dos Sanguessugas prosseguirá na investigação sobre a participação dos ministérios na máfia das ambulâncias, estendendo suas atividades à tomada de depoimentos dos envolvidos na compra do dossiê feito pelo chefe da máfia, os processos dos mensaleiros e sanguessugas tramitarão na Justiça e o passivo, que já era grande antes da campanha, com os adiamentos amoldados ao período eleitoral será monumental. Em matéria de questionamentos éticos e criminais, portanto, não há o menor risco de o ambiente melhorar. As contas avolumam-se no "prego", um dia terão de ser pagas e, se houver juros, o devedor não poderá dizer que a cigana o enganou. Meia-volta À primeira vista, o passado privatista de um e as idéias estatizantes de outro conferem sentido às afirmações do PT de que o PSDB pode vender o Banco do Brasil, a Petrobrás e a Caixa Econômica. Uma segunda olhada, porém, permite perceber que a ocupação partidária dessas instituições é que requererá uma reestatização assim que o PT deixar a presidência. Seja quando for. Pele fina Mário Covas sempre falava com muita graça sobre a dificuldade de enfrentar embates políticos com mulheres. "Elas querem bater como homens, mas na hora de apanhar exigem cavalheirismo. Quem não aceita a regra termina perdedor, acusado de machista, agressivo e mal-educado." Preservadas as proporções, é como se comporta o PT. Bate forte, mas só aceita apanhar de leve, senão aponta no contendor exorbitância nos modos e chora. O partido teria tido oportunidade de provar remédio de fato bom para a tosse se tivesse da oposição ao seu governo o tratamento que deu aos seus adversários quando estava do lado de fora do balcão do poder. Assim é O PT tentou uma vez, não conseguiu, e agora tenta de novo junto à Justiça Eleitoral proibir os tucanos de perguntarem "de onde veio o dinheiro" para pagar o dossiê na propaganda eleitoral, sob o argumento de que a indagação é ofensiva. Não bastassem as tentativas de criminalizar opiniões - como se vê em protestos na internet contra a falta de "fiscalização" e pedidos de "punição" a manifestações críticas ao governo -, os petistas crêem na possibilidade tornar criminosa a dúvida. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 18, 2006
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