Coluna - |
O Estado de S. Paulo |
3/10/2006 |
O presidente-candidato Luiz Inácio da Silva que veio a público ontem para saudar "o comportamento exemplar do povo", o processo de apuração de votos, a conduta da Justiça Eleitoral e, em seguida, respondeu a perguntas da imprensa com um sorriso nos lábios e muito amor no coração, não era o mesmo presidente-candidato Luiz Inácio da Silva da semana passada. Enquanto aquele era todo suavidade, este último vociferava, suava, gesticulava, trancava-se em gabinetes com áulicos, jactava-se de só fazer o que lhe interessava, agredia com palavras o Congresso, a imprensa, "as elites", os adversários, a polícia, o Ministério Público e quem mais ousasse, na percepção dele, se contrapor à sua certeza de que ganharia a reeleição no primeiro turno. Disse exatos oito dias antes da eleição, em comício no interior de São Paulo: "Nunca falei que ia ganhar no primeiro turno por modéstia, por respeito. Mas agora falo: nós vamos ganhar essas eleições domingo e, se alguém achar que vai para o segundo turno, pode esperar para concorrer em 2010 por que esta nós já matamos no primeiro turno." Ontem, a maciez em pessoa, afirmou que nunca houve "eleição ganha" e aproveitou o ensejo para defender a publicação das fotos do dinheiro apreendido com os petistas para comprar o dossiê antitucano. "Se o fato aconteceu tem de ser mostrado." Conceito ponderado, mas incerto no tocante à sinceridade do porta-voz, pois quatro dias antes o presidente de seu partido tentara censurar as fotos via judicial; seu coordenador de campanha e seu ministro das Relações Institucionais lançaram diatribes contra a publicação das fotografias, praticamente considerando o aparecimento delas um ato de lesa-pátria. Ontem também o presidente era todo mesuras para com o Congresso - "a caixa de ressonância da sociedade" -, a respeito do qual dias atrás, em reunião com empresários, confessara: seus demônios internos o faziam desejá-lo fechado. Imprensa, a inimiga da semana passada, aliada melíflua das elites preconceituosas, na entrevista de ontem ganhou novo status: "É muito importante numa democracia." A divisão entre ricos e pobres, exaustiva e sistematicamente explorada nos discursos - para os pobres, claro -, ontem também virou pó. "A cultura brasileira não aceita esse tipo de divisão." Eram completamente diferentes os dois personagens encarnados numa só pessoa, tendo a separá-los o resultado de uma votação. Frustrante por causa da expectativa oposta, incansavelmente alimentada pelo verdadeiro pânico de enfrentar um segundo turno. Numericamente vitoriosa, mas politicamente derrotada por causa da cantoria à vitória de véspera. Lula agora tenta apagar a má impressão vestindo um figurino de bom moço, ao molde de não criar mais arestas e não deixar seu adversário navegar sozinho na onda do moço direito, o rapaz civilizado. Os dois personagens só agiram em conformidade um com o outro em relação ao desejo de "descobrir o mistério do dossiê". A nenhum dos dois, pelo jeito, ocorreu perguntar aos réus confessos, todos eles amigos de ambos, do Lula de ontem e do Lula de trasanteontem. Distantes também se mostraram em relação ao tipo de esforço de campanha a ser feito. O de antes não queria saber de grosseria e por isso não foi a debates. O de agora está ansioso para debater, pois, segundo ele, poderá imprimir à campanha um "esforço intelectual" no lugar de força física. Nesse campo mais das idéias e das fabulações do intelecto, o Luiz Inácio de ontem dizia sentir-se muito mais à vontade. Haverá quem enxergue na performance, a retomada do personagem "paz e amor". Houve de fato um quê daquele candidato todo zen de 2002, mas não foi só. Este estava também revestido em invólucro de estadista, buscando imprimir à realização de um segundo turno a naturalidade que o fato não tem para o PT e para o governo. A suavidade do Luiz Inácio de ontem não é uma inovação. Aparece quando a situação se mostra adversa e o recuo estratégico é necessário para estancar danos. Neste aspecto, só destoou da cena o elogio a Fernando Collor, cuja experiência como "ex-presidente", segundo Lula, lhe permitirá fazer um "trabalho excepcional" no Senado. Considerando o tipo de experiência acumulada por Collor na Presidência da República, faltou explicação mais detalhada sobre a natureza da excepcionalidade de seu "trabalho no Senado". Auto-imagem Na fila de votação do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, eleitores discutiam voto obrigatório, manifestando, em tese, preferência pelo facultativo. O mais velho lamenta: "Mas no Brasil não dá certo." A mulher do grupo pondera: "Dá sim, se o eleitor tiver consciência." O mais jovem desempata: "Consciência? Por aqui ninguém tem disso, não..." Isto posto, caem na gargalhada, alheios ao fato de que falam de si. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, outubro 03, 2006
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