O Estado de S. Paulo |
3/10/2006 |
Os analistas políticos ainda vão gastar muita saliva e intermináveis horas de computador para tentar descobrir qual foi o fator decisivo que explica a derrapada do candidato Lula neste primeiro turno: se foi o escândalo do dossiê, que teria funcionado como gota d"água ("mais uma dessa gente!"); se foi a ausência nos debates da rede Globo; ou se foram ambos. Provavelmente não chegarão nunca a uma conclusão, mas já dá para prever um efeito histórico: a consagração de uma regra segundo a qual candidato que se preze pode optar por não comparecer a um debate, mas não pode nunca passar a impressão de que teme o confronto com adversários na TV. Daqui para frente, sempre que algum candidato evitar o debate, alguém vai lembrar o episódio de setembro de 2006, quando o presidente Lula deixou escorrer uma eleição consagradora já no primeiro turno porque permitiu que se caracterizasse a síndrome da cadeira vazia e de um punhado de pesadas acusações sem resposta. É estranho que ontem o presidente Lula tenha declarado esperar que "idéias e programas de governo sejam agora debatidos". Se estivesse tão interessado no debate, teria dado um jeito antes de fazê-lo acontecer. No comentário de domingo ficou dito neste espaço que a política econômica foi a grande ausente das discussões eleitorais do primeiro turno. Há no momento algumas razões para crer que agora o debate vai aflorar. Uma dessas razões é a de que interessa à oposição que questões espinhosas sejam abordadas sem censura. Para a maior parte da militância do PT, não há nada mais constrangedor do que defender a política econômica do governo Lula, que considera "neoliberal", reflexo dos interesses de banqueiros e rentistas, apanágio do Fundo Monetário Internacional e do Consenso de Washington. Para a maioria dos integrantes da Executiva Nacional do PT e até para ministros do governo, a política de metas de inflação para controle dos preços é a melhor defesa dos interesses do capital financeiro; a formação de superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida) é manobra destinada a desviar recursos dos projetos sociais e do investimento público; e a valorização do real diante do dólar é o instrumento por meio do qual as corporações estrangeiras obtêm mais dólares por reais nas suas remessas de lucros às matrizes no exterior. Há muitas outras críticas que os dirigentes petistas fazem à política econômica do governo Lula, mas essas três são as que fundamentam as demais e as que os levam a exigir mudanças drásticas, embora nem sempre saibam quais possam ser. Se a oposição arrancar do presidente Lula compromisso com as reformas e com a austeridade fiscal, será exigido do PT que defenda o que não gosta. O rombo da Previdência, por exemplo, atingirá neste ano R$ 41 bilhões (cerca de metade do superávit primário) e, no próximo, deverá saltar para acima dos R$ 45 bilhões. É um problema cujo enfrentamento exige determinação. No entanto, ao longo da campanha do primeiro turno, nenhum candidato à Presidência da República foi sincero sobre o tema e preferiu esconder-se. O presidente Lula sugeriu que a sangria pode ser controlada com choque de gestão e combate à fraude e à sonegação. Alckmin preferiu dizer que adotará "regras novas, justas, equilibradas, aplicáveis sem exceção a todos os que ainda não ingressaram no mercado de trabalho". Enfim, em ambos os lados vendem-se ilusões. Como garantir o crescimento econômico sustentável? Já se viu que a estabilidade monetária (inflação sob controle) é apenas precondição. Sem investimento hoje, não haverá mais produção amanhã. Sem a derrubada da carga tributária que se aproxima dos 40% do PIB, não sobram recursos para o investimento e sem corte das despesas públicas, que dependem de reforma tributária, o investimento seguirá insuficiente e frágil. Este é também um ponto sobre o qual os dirigentes do PT se afundam em contradições. Seus gurus econômicos pregam que o desequilíbrio das contas públicas é um problema menor, derivado dos juros altos, que sangram o Tesouro. Por isso, sugerem que o governo ou derrube os juros sem olhar para a inflação que virá depois; ou aplique alguma forma de calote no pagamento da dívida pública. Enfim, mesmo que o governo prefira as evasivas, vai ser difícil agora evitar o debate. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, outubro 03, 2006
Celso Ming - Hora do debate
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