Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 01, 2006

AUGUSTO NUNES JB Sete Dias



AFP
No último comício da campanha, o pastor ensina que a culpa é sempre dos outros

O rebanho das ovelhas malandras

"Um por cento pra mim", reivindicou Waldomiro Diniz ao bicheiro Carlinhos Cachoeira no videobandido que desencadeou a inverossímil seqüência de escândalos federais. Assessor especial da Casa Civil no momento em que a patifaria se escancarou, Waldomiro fora companheiro de quarto do chefe José Dirceu e se encarregava de negociar o apoio de parlamentares em votações relevantes no Congresso. Disso Lula sabia. Do resto, jurou que nunca soubera. Com tantos afazeres, como saber, por exemplo, que o companheiro Waldomiro era ladrão?

E então Aquele-que-tudo-sabe-e-tudo-vê começou a incorporar a segunda entidade: Aquele-que-nada-soube-e-nada-viu. Com essa fantasia, o pastor sobreviveu ao estrago produzido pelo rebanho dos delúbios, dirceus, valérios, silvinhos, genoinos, adalbertos das cuecas, mentores, joõespaulos, okamottos, dudas, lulinhas e tantas outras ovelhas malandras. Vieram os mensaleiros, depois os vampiros. Seguiram-se os sanguessugas e os comerciantes de dossiês. E Lula sempre o último a saber, como todos os traídos.

Para safar-se do escândalo do mensalão, simulou ignorar o que ocorria no Palácio do Planalto. Para livrar-se da sujeira do dossiê, fez-se de cego ao que ocorre na churrasqueira do Torto ou na cozinha do Alvorada. Foram erros cometidos por meninos do PT.

"Lula não é refém, é cúmplice", resumiu Arnaldo Jabor no Estadão. "Há um esquema de corrupção ideológica, justificada e absolvida, em todo o aparelho de Estado. Os fins justificam qualquer crime". O doutor Márcio garante a liberdade dos delinqüentes.

O Grande Pastor inocenta liminarmente a bandidagem companheira, grato às demonstrações de apreço da turma. "O que caracteriza os integrantes da máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o Chefão", constatou na Folha o jornalista Otávio Frias Filho.

"Tornou-se evidente que, sob o beneplácito de Lula, a máfia continua a agir de modo cada vez mais desabrido", escreveu Otávio. "A impunidade, como era de se prever, gerou a desfaçatez". Haja desfaçatez. No inverno de 2005, descobriu-se que malas de dinheiro haviam comprado meio mundo no Congresso. Pouco mais de um ano depois, malas de dinheiro abastecem comerciantes de dossiês.

Lula já acha pouco livrar os comparsas da cadeia mais que merecida. No momento, atribui a culpa pelas safadezas sanguessugas ao PSDB em geral e, em particular, ao prefeito tucano Barjas Negri, ex-ministro da Saúde. Agora é assim: inimigos cometem crimes, companheiros - quando muito - cometem equívocos.

"Acho muito estranha essa história de decretar a prisão de pessoas em período eleitoral", irritou-se Lula quando a Justiça pediu a cabeça dos bandidos mato-grossenses. Quem absolve previamente bandidos amigos não pode acusar ninguém. Quem deve tantas respostas não tem direito a perguntas. Há uma quadrilha no coração do poder. O presidente Lula não é inocente.

Cabôco Perguntadô

Leitor de Mauro Santayana, o Cabôco Perguntadô ficou intrigado com a releitura do escândalo do dossiê feita pelo colunista do JB: "Procura-se, com um fato policial, desviar a cidadania de uma decisão política", está escrito na seção Coisas da Política de 25 de setembro. O Cabôco quer saber o que Santayana pensa do atentado contra Carlos Lacerda, origem da crise que levou Getúlio Vargas ao suicídio. Foi um crime político? Ou só mais uma tentativa de homicídio?

Modelo reciclado em Alagoas

Alagoas resolveu acelerar a modernização do país com o lançamento do Fernando Collor modelo Senado. Como a versão presidencial, o Collor-2006 traz uma jovem no banco do co-piloto. Mas é mais pesado, tem o teto pintado de castanho-acobreado e, pela cor da lataria, tomou sol antes do combinado com o mecânico. O motor é o de sempre.

Movimento dos sem-dicionário

Irritado com os efeitos da bandidagem sobre as pesquisas eleitorais, o candidato Lula qualificou de "aloprados" os comparsas envolvidos no escândalo do dossiê. Segundo o dicionário, "aloprado" quer dizer "adoidado", "louco", "maluco".

Como não são chegados a um Aurélio, os integrantes do bando devem imaginar que a palavra significa "amigo" ou "irmão". É assim que Lula sempre se referiu ao churrasqueiro preferido ou ao maridão da secretária.

Yolhesman Crisbelles

Concebido também para premiar o besteirol com roupagem erudita, o troféu vai nesta semana para o compositor e showman Gilberto Gil, ministro da Justiça nos minutos de folga. A frase vencedora, pronunciada em Genebra, procurou justificar a ladroagem companheira:

A corrupção faz parte da dimensão humana e não impede a cidadania.

Traduzindo o palavrório para língua de gente: roubemos à vontade, porque o eleitorado não se importa.

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