Portal Vermelho
A filósofa protopetista Marilena Chauí acha que as eleições presidenciais deste ano da graça de 2006 realizam-se em cenário pré-medieval. Diz que apoiadores de Lula são "apedrejados" nas ruas, "levam soco na cara e no estômago". Afirma que a Justiça Eleitoral porta-se de maneira "repressiva e policialesca". E enxerga uma ofensiva da mídia contra Lula.
Chauí está especialmente preocupada com o debate que Lula e Alckmin farão no dia 27 de outubro, na Globo. Receia que a emissora possa desferir algum golpe baixo contra o seu candidato, editando o debate à maneira de 1989, quando do célebre confronto televisivo Lula X Collor.
Enfim, Marilena encontra-se em estado de alerta máximo contra a iminente intromissão dos hunos na cena eleitoral. Em "Origens e Fins", Otto Maria Carpeaux prescreve Erasmo como remédio anti-ações bárbaras: "Contra os bárbaros não nos defenderão outros bárbaros. Devemos opor-lhes uma melhor fé, uma melhor justiça, o nosso próprio espírito e a nossa própria vida."
Chauí prefere dar de ombros para Erasmo. Trocou a filosofia e a pena por armas metafóricas: "Eu estou de armadura e lança em punho, porque estou esperando todas essas barbaridades", disse ela ao portal Vermelho , do PC do B. Leia abaixo a entrevista:
- A mídia vai radicalizar o discurso anti-Lula e a pregação conservadora?
Eu acho que sim. Tudo se torna mais acirrado, e a distinção esquerda-direita fica mais acirrada também. A mídia ganha os contornos que teve na eleição do Collor. Estou só esperando o momento em que vai haver o debate na Rede Globo - e a Rede Globo vai editar, transmitir uma edição do debate. Vocês eram muito jovens. Vocês não se lembram, vocês não sabem o que foi feito naquela ocasião.
- Sabemos, sim...
Eu estou de armadura e lança em punho, porque estou esperando todas essas barbaridades.
- A concentração da campanha na TV não impossibilita o debate de propostas?
O que eu acho é que, como o TSE passou a exercer uma atitude verdadeiramente repressiva e policialesca, o número de debates se reduziu muito - a discussão de idéias na rua, a presença da eleição no espaço público. No Brasil inteiro, com tanto receio de que houvesse uma repressão por partes dos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e do TSE, houve uma espécie de grande silêncio. Afora a televisão, nada mais acontecia. Penso que, nos próximos dias, essa situação poderá sofrer uma alteração, com a presença de uma militância mais aguerrida nas ruas. Eu fui informada, por dois colegas, das agressões que os petistas estão recebendo.
Aqui em São Paulo, na Avenida Paulista. Uma menina que tinha o adesivo do Lula no carro foi apedrejada. Um rapaz que estava usando um distintivo levou soco na cara e no estômago. Foi assim na eleição do Collor. A gente saía e levava pancada. Riscavam o carro da gente, quebravam a janela, batiam nas portas das casas. Foi uma coisa terrível. Vocês são muito jovens e não sabem como foi. Mas foi assim. Agora eu preciso ir embora. Prometi à minha mãe que vou vê-la.