Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 12, 2008

O PMDB está de volta às Minas e Energia

Dança com lobos

A possível ida do senador Edison Lobão para
o ministério abre vaga para o filho, que transferiu
sua empresa a um laranja para esconder dívidas


Ricardo Brito

Fotos Célio Azevedo/Ag. Senado, O Imparcial
O senador Lobão e Lobão Filho, que confessou o uso de laranjas: "Se eu pudesse voltar atrás, não usaria laranjas"

Dizem que os lobos enxergam coisas que escapam ao olhar dos seres humanos. O senador Edison Lobão, do PMDB do Maranhão, já tingiu os cabelos e comprou ternos novos para sua posse no Ministério de Minas e Energia. Edison Lobão Filho, suplente do senador, também reforçou o guarda-roupa para assumir a cadeira do pai em Brasília. Lobão pai está na política há trinta anos, nunca se envolveu em escândalos e escolheu sempre estar alinhado com os governos, sejam quais forem. Lobão Filho é um estreante. É experiente e astuto como o pai, mas suas habilidades mais conhecidas, por enquanto, concentram-se no mundo dos negócios. Nesse campo ele, sem dúvida, enxerga longe. Em 1999, antes de se candidatar à suplência do pai, Lobão Filho foi advertido de que não era recomendável migrar para o mundo político com dívidas milionárias em bancos públicos e impostos atrasados. Dono de uma distribuidora de bebidas, ele resolveu o problema transferindo suas cotas na empresa para outra pessoa – mais precisamente, para uma empregada doméstica, que só descobriu que tinha se transformado em empresária endividada e sonegadora de impostos quando a polícia e a Receita Federal bateram à sua porta. Para fugir das dívidas e limpar o nome, o futuro senador lobinho usou a doméstica como laranja.

Há dois anos, Maria Lúcia Martins, a doméstica, tomou um susto quando foi intimada a prestar esclarecimentos sobre sua vida empresarial. Só a bancos, a empresa dela devia 5,5 milhões de reais. Ela se viu confrontada com extratos de suas contas que revelavam uma intensa e milionária movimentação bancária. Tudo em seu nome. Suas declarações de renda também confirmavam que, embora endividada, ela era uma empresária atuante. "Fiquei muito assustada, moço", disse a VEJA Maria Lúcia, uma cearense de 40 anos, que trabalha em São Luís, no Maranhão. "Só depois é que fui entender que o negócio não era comigo." Não era mesmo. Maria Lúcia ganha 380 reais por mês, não tem conta bancária e nunca declarou imposto de renda. As investigações feitas pela Receita mostraram que ela foi usada para ocultar uma série de transações irregulares feitas pelos verdadeiros donos da empresa, entre eles o futuro senador Edison Lobão Filho – que desde então é investigado por sonegação fiscal, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e estelionato.

Fotos Ana Araújo
A empregada doméstica Maria Lúcia Martins descobriu que era dona de uma empresa que devia 5,5 milhões de reais quando foi intimada pela Receita Federal

A Polícia Federal descobriu que as contas bancárias em nome da doméstica foram abertas e movimentadas por meio de procurações falsas. Maria Lúcia é analfabeta funcional e mal sabe desenhar o próprio nome. A trama começou a ser desvendada quando a Receita descobriu que um dos donos da Bemar, a distribuidora de bebidas que apareceu em nome da doméstica, era sua patroa, Maria Luiza de Almeida, cujo ex-marido, Marco Antonio Costa, é amigo de Lobão Filho. Nem a patroa nem a empregada sabiam da maracutaia. A transferência das cotas de Lobão Filho para Maria Lúcia foi feita às escondidas, usando as tais procurações forjadas. Exames grafotécnicos feitos pela PF, porém, já identificaram ao menos uma pessoa que assinou os documentos se passando pela empregada. O suspeito é Neuton Barjona Lobão, tio de Lobão Filho e irmão do futuro ministro Lobão. Das mãos do tio Lobão saíram, inclusive, as assinaturas falsificadas de cheques da doméstica.

Procurado por VEJA, o futuro senador admitiu tranqüilamente o ardil. Mostrou-se até arrependido por ter usado a doméstica para se esconder da Receita e da Polícia Federal. "Se eu pudesse voltar atrás, diria para não botar minha participação por meio de laranjas", diz. Lobão explica, porém, que a decisão de transferir as cotas da empresa não foi um ato de malandragem. Foi para continuar com pele de cordeiro. A Bemar pegou um empréstimo no Banco do Nordeste, segundo ele, para fazer caixa. Os negócios, porém, não foram bem e a dívida com o banco cresceu assustadoramente. Para se ver livre das cobranças e evitar futuros problemas políticos, ele decidiu, juntamente com um sócio, transferir as cotas da empresa para uma terceira pessoa. "Não posso ser responsabilizado por essa dívida porque nem usufruí o dinheiro", diz Lobão Filho, numa lógica moral torta, que pode ajudar a compreender seu sucesso como empresário. Rico, sua mais recente aquisição foi um helicóptero. "Comprei para ajudar na campanha da minha mãe", justifica. A mãe de Lobão Filho, Nice Lobão – esposa do futuro ministro Edison Lobão –, elegeu-se deputada federal. Eles enxergam longe.

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