O Estado de S. Paulo |
24/1/2008 |
Em cinco anos de mandato, o governo Luiz Inácio da Silva fez, com a de ontem, 16 reuniões ministeriais. Pergunta-se: fora esta última, a respeito da qual a notícia é fresca, alguém é capaz de lembrar o conteúdo, genericamente que seja, de um só dos 15 encontros anteriores? Muito provavelmente nem o presidente se recorda de pronto, sem consultar os arquivos, sobre o que se discutiu nas cinco reuniões de 2003, nas três de 2004, nas quatro de 2005, na única de 2006 e nas duas de 2007. Reuniões ministeriais em geral não têm mesmo utilidade prática: nelas não se tomam decisões, não servem como foro para avaliação de desempenho, só atendem a um objetivo: ocupar espaço no noticiário quando há carência de atos ou abundância de fatos negativos a serem relegados a um segundo plano durante um ou dois dias. Prova está no ano de 2006, quando se realizou apenas uma reunião. O governo não parou, mas a prioridade era tomar espaço com fatos eleitorais. Um presidente nada faz numa reunião coletiva de ministros que não possa fazer com mais eficácia na coordenação competente do cotidiano da administração. O encontro de ontem não fugiu à regra. Os ministros, principais assessores e o presidente passaram o dia no Palácio do Planalto compondo um cenário para Lula transmitir com a pompa inerente à circunstância a seguinte mensagem à sua base de aliados no Congresso: fiquem tranqüilos, aprovem o pacote dos impostos, a criação da TV pública e eventualmente a volta da CPMF porque, enquanto a Lei Eleitoral permitir (até junho), as portas de entrada da máquina estatal serão uma serventia da casa. Tal recado o presidente passou logo no início da reunião, ao pedir empenho e aproveitamento do potencial de seus ministros na melhoria das relações com o Congresso. Por “potencial” entendam-se as ferramentas que cada pasta proporciona aos respectivos ocupantes e por “melhoria” compreenda-se o efeito que a oferta daqueles instrumentos terá sobre os donos dos votos a serem registrados nos painéis eletrônicos das duas Casas do Legislativo e a disposição deles de brigar nas eleições municipais pelos candidatos governistas. Nada de ilegal nem de ilegítimo, desde que bem explicitado. Mundo real Da mesma forma, Geraldo Alckmin sem a concordância de Serra não sairá candidato a prefeito: não tem mandato, não tem influência na prefeitura nem no governo do Estado e, se perder tendo batido de frente com o governador, só por um milagre ganha a legenda em 2010. Alckmin pôs seu destino nas mãos do partido, que prefere candidatura própria, mas não tem voz ativa, não dispõe de músculos suficientes para lutar por coisa alguma nem massa crítica para se movimentar. Partido sem corpo, o PSDB caminha para onde a cúpula mandar. Em 2006, quando Alckmin venceu a parada da candidatura presidencial, ele era governador, o que levou a cúpula a contabilizar: se já estava difícil ganhar de Lula com São Paulo a favor, se fosse Serra o candidato com Alckmin contra, seria impossível. Fria Múcio tomou conhecimento pela imprensa, ficou particularmente (mal) impressionado com a autorização para saques em espécie, pediu a sua assessoria todas as informações a respeito, mas não disse se pretende se envolver no assunto. O gabinete responsável pela articulação política não usa os cartões. O antecessor, Walfrido Mares Guia, não quis. Farejou confusão. Carências |
Entrevista:O Estado inteligente
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