O valor do silêncio
O ex-publicitário Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, irá depor esta semana na Justiça de Belo Horizonte. Que não se espere dele nenhuma revelação explosiva.
Valério tenta discretamente reconstruir sua vida. Faliu como empresário, mas é um homem rico. De resto, acertou-se com quem deveria se acertar. Nada ganharia se resolvesse contar o que sabe.
A propósito, resgato nota publicada aqui no dia 18 de abril 2006 sob o título "Comportamento exemplar". Até hoje ela não foi desmentida por ninguém do PT e do governo. Certamente não a leram.
"No segundo semestre do ano passado [2005], um destacado senador da CPI dos Correios foi procurado pelo empresário mineiro Marcos Valério.
- Estou duro de dinheiro. Diga isso a Okamotto - pediu Valério.
As contas publicitárias de Valério haviam sido canceladas pelo governo. E ele estava com os bens bloqueados.
O senador deu o recado de Valério a Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, aquele que pagou R$ 29 mil devidos por Lula ao PT e R$ 26 mil de despesas de campanha de Lurian, filha de Lula, candidata a vereadora derrotada em São Bernardo do Campo. E ouviu de Okamotto algo mais ou menos assim:
- É, não está fácil. Verei o que é possível fazer.
Dias depois, o senador aproveitou uma audiência com Lula no Palácio do Planalto para informá-lo a respeito do apelo de Valério e do encontro com Okamotto.
Primeiro Lula fez "cara de paisagem", segundo o senador. Por alguns segundos, olhou em silêncio para a janela do seu gabinete. Em seguida perguntou:
- E Okamotto?
O senador disse o que ouvira dele. Lula então puxou outro assunto.
Cabeças coroadas do PT reconhecem: Valério tem sido leal ao governo e ao partido. Mais leal do que alguns petistas. Antes de depor pela primeira vez na CPI dos Correios, ele foi procurado em Belo Horizonte por Delúbio Soares [ainda tesoureiro do PT].
Orientados por advogados, os dois combinaram o que diriam à CPI. Contaram a história dos falsos empréstimos tomados por Valério ao Banco Rural e avalizados por Delúbio e José Genoíno, ex-presidente do PT. O dinheiro teria servido para pagar dívidas antigas do partido.
De lá para cá, Valério comportou-se com discrição. Pressionado pela mulher para que contasse tudo, nada contou que fosse capaz de embaraçar ainda mais o governo e o PT.
Na maioria das vezes limitou-se a confirmar o que lhe pareceu indesmentível. E colaborou para que José Dirceu fosse cassado - o que passou a interessar a Lula desde que Dirceu deixou o governo, mas se recusou a renunciar ao mandato de deputado.
Valério e Delúbio têm suportado calados a queda do mundo sobre suas cabeças. Um dia ainda serão recompensados."
Se foram, não sei.