O Globo |
31/1/2008 |
Um tema objeto de alguns painéis no recém-encerrado Fórum Econômico Mundial foi a desigualdade na distribuição de renda no mundo globalizado, à medida que milhões de pessoas saíram da pobreza na última década nas diversas partes do mundo emergente, da China à Rússia e à América Latina. Muito além dos aspectos puramente econômicos, o tema foi tratado como uma questão política, assim como cultural e mesmo "emocional", já que a percepção de distribuição injusta seria mais importante do que uma medida puramente econômica da diferença entre as classes sociais. Se não for atacada, a questão da pobreza pode se transformar, segundo alguns especialistas, em uma crise mundial. Como exemplo, foi lembrado que a previsão é que a população do globo vai ser de 12 bilhões por volta de 2100 e, se nada for feito, cerca de metade pode estar na pobreza, o que seria "insustentável". A melhora social propiciada pelo crescimento econômico generalizado, se por um lado demonstra as vantagens da economia globalizada, por outro estimula o aumento do consumo por populações que estavam fora desse circuito, o que traz problemas na cadeia de distribuição de alimentos, e estimula o justo desejo por maior participação nos frutos do desenvolvimento, exacerbando a percepção da injustiça na distribuição de renda, tanto entre países quanto entre cidadãos. A maior procura tem conseqüências tão díspares como o preço crescente da energia, a demanda por biocombustível, um aumento da taxa de obesidade. A demanda por comida barata resultou em práticas inadequadas na produção de alimentos, como uma variedade geneticamente modificada de batata que tem o gosto das batatas fritas de "fast food". O consumo deste tipo de comida vai criar uma população "supralimentada e desnutrida", advertiram os técnicos em um dos painéis. As mudanças climáticas são um dos temas principais quando se discute a reorganização da cadeia de suprimento de comida. O desperdício de água, a poluição provocada por tecnologias inadequadas, todas essas questões estão na ordem do dia diante das mudanças que estão acontecendo no mundo, afetando o dia-a-dia dos cidadãos. Um bom exemplo de como o desperdício de recursos pode provocar uma crise no planeta está analisado em um recente artigo de Jared Diamond, professor de geografia na Universidade da Califórnia, Los Angeles, autor dos livros "Colapso" e "Armas, germes e aço". Medindo a diferença de estilo de vida entre o Primeiro Mundo e os países emergentes, o índice médio de consumo de recursos naturais como óleo e metais, e o desperdício de materiais como o plástico e a produção de efeito estufa, é cerca de 32 vezes maior nos Estados Unidos, na Europa Ocidental, Japão e Austrália do que no mundo em desenvolvimento. Ele também faz a conta da população mundial, que passaria de 6,5 bilhões para 9 bilhões no meio deste século. Mais do que o número de habitantes do planeta, ressalta Diamond, o que importa é o total de consumo do mundo. Pois o bilhão de pessoas que vivem no mundo desenvolvido tem um índice médio de consumo de 32, enquanto os outros 5,5 bilhões têm uma média abaixo de 32, em alguns casos chegando a quase 1. Como as pessoas que consomem pouco querem atingir o nível de alto consumo, e os governos de países em desenvolvimento fazem da melhoria do padrão de vida em seus países o objetivo central de seus governos, a visão otimista é de que a tendência é aumentar esse número de pessoas com alto nível de consumo. Ao mesmo tempo, as pessoas que não conseguem essa melhoria de padrão em seus países imigram para os países desenvolvidos em busca desse padrão. A China, com seu 1,3 bilhão de habitantes, está entre os países que melhoram o padrão de vida de sua população, embora ainda tenha um padrão de consumo 11 vezes abaixo dos Estados Unidos. O geógrafo Jared Diamond propõe um exercício: imaginemos que somente a China consiga atingir o nível de consumo dos países desenvolvidos, sem que nenhum outro país altere seus padrões de consumo, nem aumente sua população e a imigração cesse. Mesmo assim, apenas com a inclusão da China, a média de consumo mundial dobraria. E se todo o mundo em desenvolvimento conseguisse atingir os índices de consumo do Primeiro Mundo, seria como se o mundo passasse a ter 72 bilhões de habitantes. Diamond diz que, em vez de pensar que esse aumento de consumo seria um problema, teríamos que pensar que essa ambição de atingir padrões do Primeiro Mundo é natural. E, como o mundo não tem condições de manter o mesmo padrão de consumo para todos os seus habitantes, a solução seria reduzir esse nível para que todos pudessem ter um consumo razoável, evitando os desperdícios. Jared Diamond diz que muito do consumo dos americanos contribui pouco ou nada para um bom padrão de vida, e exemplifica: o consumo de gasolina per capita na Europa Ocidental é cerca de metade do dos Estados Unidos, e mesmo assim o nível de vida lá é mais alto por qualquer critério razoável, seja expectativa de vida, saúde, mortalidade infantil, segurança financeira na aposentadoria, qualidade de escolas públicas. Essa maneira solidária de pensar o mundo seria a única maneira de superar os problemas que teremos que enfrentar neste século de crises. |
Entrevista:O Estado inteligente
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