Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Nas nuvens


Editorial
O Estado de S. Paulo
23/1/2008

O novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, só recentemente começou a tomar conhecimento dos assuntos da Pasta - lendo alguns livros e os jornais -, mas está à vontade para garantir que não haverá apagão de energia elétrica no Brasil. O que leva o representante do PMDB no governo a fazer tal afirmação categórica? “É que o próprio presidente (da República) confirmou que não haverá falta de energia, não haverá racionamento, não há nada.” Ou seja, o presidente Lula falou, está falado. Dito de outra forma, o senador sarneysista põe em prática, em seu primeiro momento no Ministério, a recomendação de prudência que recebem os jovens recrutas - manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Por isso mesmo, o senador Lobão, que se dizia que seria tutelado pela ministra Dilma Rousseff - que se opôs à sua nomeação até o último momento -, fez questão de proclamar sua autonomia. “Ninguém tutela o ministro, a não ser o presidente da República”, afirmou, para em seguida, certamente temendo ter ido longe demais, fazer a ressalva de que, sempre que possível, ouvirá a opinião da ex-ministra de Minas e Energia, que tem “muito conhecimento” da área.

Nos últimos anos, a Pasta de Minas e Energia parece estar fadada a abrigar ministros que vivem no mundo da lua. No governo Fernando Henrique, o Ministério foi entregue a políticos que não entendiam do assunto e estavam interessados apenas em ampliar suas áreas de influência. O resultado foi o apagão de 2001, que poderia ter sido evitado por um administrador que só se ocupasse dos problemas da Pasta.

No governo Lula, o Ministério foi entregue à companheira Dilma Rousseff, hoje apresentada como grande especialista do setor energético e eficientíssima administradora. O que não se fala é que ela passou mais de três anos à frente da Pasta, titubeando entre “modelos” de desenvolvimento do setor elétrico. Relutava em aceitar a predominância da iniciativa privada nessa atividade vital para o crescimento econômico, mas tinha de se curvar ao fato de que o Estado não tinha capacidade financeira para construir e operar usinas - e essa situação hamletiana levou à perda de um tempo precioso. Pouco antes de passar o Ministério para Silas Rondeau adotou uma política bífida, que procura atrair capitais privados, mas não desiste de aumentar a participação do Estado no setor energético.

O ministro Silas Rondeau, por sua vez, logo teve de se exonerar, para não provocar constrangimentos ao governo, por ter sido denunciado pela prática de irregularidades. Foi substituído por Nelson Hubner, que ficou numa longa interinidade porque, primeiro, o presidente Lula decidiu esperar que Rondeau se livrasse das acusações, depois, porque o PMDB escolheu o Ministério como parte do pagamento para integrar a base aliada e, finalmente, porque Lula relutou em entregar Pasta de tamanha importância ao senador Lobão.

Em qualquer lugar do mundo, um problema estrutural como a ameaça de um apagão energético seria resolvido com a ampliação do parque gerador. Menos aqui. Quando o problema se tornou evidente, o governo tentou resolvê-lo com recriminações à administração anterior, que já levara o País ao apagão. Isso, é claro, não aumentou a capacidade de fornecimento de energia. Quando o presidente da Aneel reconheceu que havia uma grave crise à vista e o ministro interino de Minas afirmou o contrário, o presidente Lula desempatou a discussão, decretando que em seu governo não haveria apagão. De novo, a vontade política não gerou quilowatts.

Na cerimônia de posse do ministro Edison Lobão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a usar os argumentos de que já lançara mão, agora combinados. Afirmou que Lobão assumia o Ministério num momento “auspicioso” para o setor elétrico, momento “que poderia estar sendo muito melhor se anos atrás tivéssemos feito a lição de casa”. Referia-se ele, é claro, ao governo Fernando Henrique, não aos anos que seu governo perdeu imaginando como seria bom se o Estado tivesse recursos para voltar a ser um grande investidor no setor elétrico.

Nessa história, só não está nas nuvens o PMDB. Emplacou um ministro e agora se prepara para indicar os presidentes da Eletrobrás, Eletronorte e Eletrosul e a diretoria internacional da Petrobrás.

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