Há algum tempo não se via uma situação e uma figura pública em relação às quais a advertência se revelasse tão necessária como no caso do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Há seis meses, em seguida à tragédia do Airbus da TAM, em Congonhas, ele foi chamado em desespero de causa pelo presidente Lula para enfrentar o apagão aéreo claramente fora de controle. Em tom bombástico, o ex-presidente do STF, e acima de tudo um político que não tira da cabeça a ambição de escalar o aclive do Planalto, cometeu, já no dia da posse, uma deselegância com o inerte antecessor Waldir Pires, que não se demitia e Lula evitava demitir. Anunciou que o seu mote era "aja ou saia", justificando sem sutilezas a demissão. A partir de então, não parou de falar, apresentando uma sucessão de projetos - um pacote, apesar da ojeriza de Lula - que, a julgar pela ênfase e a segurança com que os lançava, libertariam os usuários do transporte aéreo de todos os seus tormentos, da insegurança de voar à incerteza de fazê-lo com pontualidade.
Depois de anunciar todo o pacote, Jobim saiu de cena durante algum tempo, voltando, agora, a falar para dizer que o pacote não era para valer.
O Aeroporto de Congonhas, para começar, que não seria mais aquele desvirtuado centro de distribuição de vôos (hub) que infernizava a vida dos passageiros, mas fazia a festa do duopólio TAM-Gol, e que "não é e não voltará a ser, em hipótese alguma, ponto de distribuição", a partir de 16 de março voltará a sê-lo. Mas o ministro tem uma explicação para o recuo: "Não é que tenhamos errado", sofisma. "É que reassumimos o controle." A verificar. Mas o fato é que ele demorou meses para descobrir que, se era fácil determinar a transferência de aviões para aeroportos pouco utilizados em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro, era impossível mudar as condições econômicas que fazem de São Paulo o maior centro gerador de tráfego aéreo do País.
Jobim também deu o dito pelo não dito em relação à hipotética terceira pista de Cumbica, mais uma vez descobrindo tardiamente as restrições mencionadas de saída pelos conhecedores do problema, principalmente a ocupação irregular do entorno do aeroporto. O terceiro aeroporto de São Paulo, por sua vez, teoricamente não foi esquecido, mas passa por um adiamento depois do outro. Viracopos também fica para o próximo governo. O que se promete fazer, até 2010, é construir novos pátios para os aviões que operam em Cumbica e "reconfigurar" - ou dar uma guaribada, como se diz - os terminais do aeroporto.
Essas são apenas as expressões mais ostensivas dos recuos do ministro. Do conjunto da obra, pelo menos num caso a responsabilidade não lhe cabe - os cortes no orçamento da Pasta e a decisão presidencial de suspender o aumento dos soldos nas Forças Armadas, na esteira da extinção da CPMF. Já a lentidão no revigoramento da Anac e no saneamento da Infraero, por exemplo, ele não tem a quem debitar. De todo modo, o que há de mais criticável na atuação do ministro da Defesa é sua imitigada propensão a confundir o público, desdenhando da sua inteligência. É o que demonstram, além das explicações sobre o pacote que não era para valer, suas aparições, em uniforme de campanha, segurando uma sucuri, numa versão tabajara do Jim das Selvas. Na arte de enrolar, a diferença entre o ministro e o seu chefe é de vocabulário e domínio da norma culta. No mais, o peemedebista Jobim incorporou o jeito petista de administrar, prometendo e descumprindo.