PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
31/1/2008 |
A Petrobras suspendeu um contrato de fornecimento de biodiesel para a Vale. O contrato - assinado com fanfarras no ano passado - previa o fornecimento de 20% de biodiesel no diesel vendido à mineradora, por dez anos, para as locomotivas, no valor de R$11 bilhões. Está também renegociando o contrato com a Viação Itaim Paulista. A estatal garante que "não falta biodiesel". O mercado do biodiesel foi criado pelo governo quando estabeleceu que, em 1º de janeiro de 2008, todo o diesel vendido no país tinha que ter 2% de mistura de diesel vegetal. Com base nisso, foram feitos os primeiros leilões da ANP de compra do produto e se organizaram as empresas produtoras. Isso é o que eles chamam de B2. A BR Distribuidora diz que todo o mercado está abastecido com o B2. Mas admite problemas com o que chama de BX, as misturas acima de 2%. Quando é 20%, como o da Vale, é B20; quando é 30%, como o da Itaim Paulista, é B30. Da mesma forma que no gás, a Petrobras vendeu mais do que tinha para entregar. No gás, a empresa vendeu para as indústrias o que poderia ser necessário para fazer girar as termelétricas. Por isso, teve de admitir depois que só tinha gás para 40% das térmicas. E hoje ainda existe ameaça de interrupção de fornecimento para as indústrias que converteram seus processos produtivos para o uso do gás. No diesel, o desequilíbrio é provocado por um pecado original desse mercado: ele também virou um monopólio da Petrobras. Hoje a estatal compra todo o biodiesel do país e o revende: é a única intermediária. No ano passado, a Petrobras assinou seu maior contrato. A própria presidente na época da BR Distribuidora foi à Vale. Agora, a estatal mandou para a Vale a informação de que o contrato não pode ser cumprido. Diz que, após "esgotadas todas as possibilidades", não pode fornecer o produto. A BR afirma que, no caso da Vale, não se trata exatamente de um contrato, mas de um compromisso de fornecimento. Na época em que houve a oficialização do início do fornecimento, com a presença da então presidente Graça Foster na Vale, a imprensa registrou como "contrato". A Vale baseava nesse fornecimento a esperança de dar mais um passo na redução das suas emissões de carbono. As locomotivas da Estrada de Ferro Vitória-Minas e da Estrada de Ferro Carajás passariam a usar a mistura de 20% de biodiesel. O presidente do Conselho da Brasil EcoDiesel, Jório Dauster, diz que diesel no mercado tem, basta que a Petrobras faça novo leilão que aparecerão os fornecedores: - Temos capacidade adicional de oferta, mas certamente o preço será maior. Ele conta que, para organizar a oferta, a ANP fez leilões nos quais a compradora era a Petrobras. Depois a própria estatal fez diretamente o leilão. Apareceram muitos ofertantes, e os preços foram derrubados. - Houve uma competição predatória. Nós chegamos a fechar 42% do volume de oferta, mas ao preço de R$1,80 o litro do biodiesel, que era muito baixo naquela época, e que ficou ainda pior quando subiram os preços da matéria-prima. O biodiesel brasileiro é feito basicamente de soja. O problema é que a soja produz quatro vezes mais farelo que óleo. É por isso que as empresas fornecedoras acabam sendo grandes exportadoras de soja, como a ADM. A Brasil EcoDiesel tentou usar mamona e montou uma rede de pequenos fornecedores. Mas a Índia teve uma grande seca, a produção lá caiu e o preço subiu. A soja também está no maior preço em 25 anos. - A soja está no centro da briga entre alimento e energia e, por isso, tem subido - explica Jório Dauster. A seu ver, o mercado deveria ser liberalizado: - Deveria ser permitida a negociação direta entre produtores e compradores, se não esse mercado nunca vai se organizar; ele tem de ser livre. No início, o monopólio da Petrobras era de petróleo; depois, passou a ser de gás, de biodiesel e se tentou criar até o monopólio do biocombustível. Se, por um lado, isso dificulta o trabalho da empresa, que tem de buscar esse produto esteja ele onde estiver, por outro constrange o mercado a ter um único intermediário. Perguntada sobre isso, a BR Distribuidora não quis falar diretamente com a coluna. Preferiu nos enviar uma nota de texto bem burocrático. Diz que os seus 5.800 postos e os 4.300 clientes de todo o país estão recebendo normalmente o biodiesel B2. "No chamado mercado consumidor, formado por grandes clientes, a BR vem buscando aumentar sua presença oferecendo o produto com misturas customizadas para fins de testes e uso como combustível experimental." Segundo a nota, "Não há falta de produto no mercado", apenas "alguns compromissos para testes" eram apenas para 2007, e o contrato com a Viação Itaim está sendo renegociado. A Vale não considerava "experiência", tanto que preparou suas locomotivas para usar a mistura. Na época do anúncio do negócio, a Vale informou que, em 2008, deixariam de ser emitidas, só com o uso do B20 nas locomotivas, 336 mil toneladas de CO. Volume que, para ser absorvido pela atmosfera, exigiria um reflorestamento igual a 552 Maracanãs de mata nativa. Esse carbono a mais que será emitido é o preço a pagar pela sociedade pela falta do biodiesel. |
Entrevista:O Estado inteligente
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