Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 23, 2008

É preciso uma política anti-recessão



Editorial
O Estado de S. Paulo
23/1/2008

O presidente do Banco Central, o ministro da Fazenda e até o diretor-gerente do FMI consideram que uma recessão nos EUA terá efeito negativo sobre a economia dos países emergentes, portanto, sobre a do Brasil, embora a nossa apresente solidez.

A partir dessa visão de pessoas com grande responsabilidade na condução da política econômica, caberia ao governo começar a adotar medidas anti-recessivas para reduzir ao mínimo os efeitos da crise norte-americana sobre nosso ritmo de crescimento.

Se o Comitê de Política Monetária (Copom) mantiver hoje, como tudo indica, a taxa de juros básica, não se pode ignorar que, ao longo do ano, haverá fortes pressões de alguns membros do Copom para elevá-la, em face de uma retomada das pressões inflacionárias que poderão elevar o IPCA acima do centro fixado pelo Conselho Monetário Nacional. Neste momento, essa seria uma decisão muito contraproducente, especialmente levando em conta a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que reduziu fortemente sua taxa básica, o que pode favorecer novas operações de arbitragem.

A crise norte-americana está restringindo a oferta de crédito internacional e elevando seus custos. O governo poderia compensar isso com uma redução do custo do crédito no Brasil, contrariamente ao que se está verificando com o aumento do IOF num período em que a queda da bolsa impede que se captem recursos no mercado de ações.

A evolução da balança comercial e dos fluxos financeiros externos representam um outro fator de preocupações a ser levado em conta. Na melhor das hipóteses, as perturbações atuais terão como efeito uma queda do preço das commodities. Se isso pode ser favorável, ajudando no controle da inflação, terá, todavia, efeito altamente negativo sobre as nossas exportações, trazendo uma desvalorização do real que acabará com a vantagem que nossa economia aproveitou para elevar suas importações.

É evidente, pois, que não é este o momento para se elevar a tributação sobre as exportações, numa economia mundial cada vez mais competitiva. Mas agora o governo está falando em impor, também, um IOF sobre as importações, que já enfrentam a ameaça de desvalorização da moeda nacional.

Já que gosta tanto de criar comissões, o governo poderia constituir mais uma, com a participação do setor privado, para ajudá-lo a pensar numa política anti-recessionista.

Arquivo do blog