O Globo |
23/1/2008 |
O tema central da reunião deste ano do Fórum Econômico Mundial, "O poder de inovação cooperativa", foi literalmente atropelado pela crise financeira internacional que domina as preocupações dos 27 chefes de Estado e das mil maiores empresas do mundo que estarão representadas na reunião anual que começa hoje. Dos cinco pilares conceituais que, segundo a organização do fórum, dominariam a agenda global deste ano, apenas o intitulado "Economia e finanças: debatendo a insegurança econômica" tem a ver diretamente com a crise da economia americana que está contagiando todo o mundo, e certamente será o centro das atenções de um fórum que, organizado para pensar a longo prazo, já se acostumou a ser afetado por crises internacionais. A indefinição afeta também negociações paralelas como a do comércio internacional, prevista para acontecer aqui em Davos nesses próximos dias. Os representantes da União Européia, Peter Mendelson, e dos Estados Unidos, Susan Schwab, depois de reuniões em Bruxelas, preparam-se para enfrentar rodadas de negociação com os representantes do G-20, o grupo dos países emergentes que negocia o fim dos subsídios na agricultura. Brasil, representado pelo chanceler Celso Amorim, Índia e África do Sul tentarão retomar a Rodada de Doha. A incerteza sobre como reagirá a economia americana nessa crise, e sobretudo, quem será o futuro presidente dos Estados Unidos, e quais serão suas prioridades, impedem que se veja com muito otimismo essa enésima tentativa de se chegar a um acordo de livre comércio. Recebi do senador Arthur Virgilio, a propósito da coluna "Tucanos se bicam" publicada domingo, a seguinte mensagem, que publico pelo que revela e, sobretudo, pelo que está dito nas entrelinhas. Parece crescer dentro do partido a tese do governador Aécio Neves, de Minas Gerais, contra o controle da seção paulista e a favor de uma candidatura que reflita a força política das demais regiões do país. Segue a íntegra da mensagem do senador Arthur Virgilio: "Não vejo, sinceramente, que o PSDB se encaminhe desunido para o pleito presidencial de 2010, até porque o debate interno haverá de aquecê-lo e torná-lo mais sincero do que nunca. As decisões cupulistas de 2002 e 2006 é que estabeleceram uma falsa unidade - no mínimo uma unidade frágil e flácida - diante de adversário denso e, com a chegada ao Planalto, muito poderoso; a) Quando coloco meu nome à disposição dos militantes tucanos e da análise da sociedade brasileira, não o faço "inebriado" por nenhuma "glória repentina" trazida pelo episódio recém-encerrado da CPMF. Nele, aliás, minha intenção jamais foi de derrotar José Serra e Aécio Neves. Foi, isto sim!, participar do basta que o Senado teria de dar a um governo perdulário, ineficiente, que escorcha na arrecadação, para jogar fora a poupança nacional pela janela da irresponsabilidade; b) O futuro próximo dirá se obterei - ou não - repercussão significativa, mesmo não dispondo - e não querendo dispor - de máquina oficial a me amparar os passos; c) As prévias, que tanto fortalecem a democracia americana, são desde o final da gestão Tasso Jereissati no PSDB, uma realidade inescapável. Participar delas não é sacrilégio, mas direito de todos e até dever de alguns. Se a de Serra é "no momento a candidatura natural", não vejo por que o choque de idéias no interior do partido possa vir a enfraquecê-la. A menos que suas bases não fossem sólidas, e que, portanto, incontestadas dentro de casa, virasse presa fácil na competição dura do mundo exterior. Logo, José Serra, Aécio Neves e quaisquer outras lideranças de envergadura devem regozijar-se com a perspectiva mobilizadora das prévias e do debate, porque foi sem eles - prévias e debate - que permitimos passivamente a eleição e a reeleição de Lula; d) Não posso concordar com a idéia de a possível candidatura de Geraldo Alckmin à Prefeitura de São Paulo seja vista como "projeto pessoal", impeditivo de "que se construa, a partir de São Paulo, uma base sólida que garanta viabilidade à candidatura de José Serra". Primeiro, porque Alckmin, a quem apoiei para presidente, não pode ser vetado para prefeito de São Paulo. Segundo, porque as definições sobre o futuro imediato de Kassab, excelente governante paulistano, e Alckmin, terão de passar por rodadas e mais rodadas de conversas frutíferas, que visem a unificar o PSDB e a manter e consolidar a aliança nacional com o DEM. Terceiro, porque agir, única e exclusivamente, em função da candidatura José Serra, significaria fazer letra morta das prévias e ignorar quaisquer alternativas às possibilidades e conveniências do atual favorito. Com objetividade, quero um presidente tucano em 2011. Dos possíveis, seu nome pouco me importa. Quero o vencedor; o que saiba agregar; o que respeite seus companheiros; o que não tema a competição; o que seja preparado para o desafio de dirigir o país, o que conquiste o Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste; o que não ponha a perder e densidade tucana no Sul e no Sudeste; o que emocione o partido e redesperte a esperança no país. Esse nome é José Serra? Ele que prove isso na luta, como Obama e Hillary estão tentando fazer. Como McCain denodadamente busca provar; e) Minha caminhada não pode ser vista com menosprezo por ninguém. Tenho 30 anos de vida pública limpa e intensa: três vezes deputado federal, uma vez senador, prefeito de Manaus, vice-líder do PSDB na Câmara, secretário-geral do PSDB, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República; pelo 6º ano consecutivo, líder do PSDB no Senado. Não minimizo concorrente nenhum, porém não sofro complexo de inferioridade. Sou de luta e o Brasil vai testemunhar isso mais uma vez; f) Finalmente, pode confiar em todos nós: Serra, se não for o escolhido, não deixará de ser tucano e patriota; Aécio, nessa hipótese, não se furtará a apoiar o seu partido, pelo país; Tasso, em qualquer circunstância estará com o PSDB que, por duas vezes, presidiu e eu jamais me transformaria em "foco dissidente". Sabe por quê? Porque a nos juntar há uma visão de Brasil que precisará, inadiavelmente, ser posta em prática, a partir de 2011. E porque as prévias partidárias estabelecerão o pacto da unidade construída, em lugar dos ressentimentos e das alianças de pés de barro. A paz dos cemitérios não serve ao PSDB. A verdade, sim! E está nas ruas e não nos conchavos de gabinete". |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 23, 2008
Merval Pereira - Crise, em Davos e entre os tucanos
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