Considerando a posição presidencial de cabo eleitoral cobiçado e, em alguns casos, indispensável, isso quer dizer que Lula pretende fazer valer, na prática, a chamada verticalização, derrubada pelo Congresso em 2006 com seu empenho pessoal.
Interessado em manter o apoio do PMDB para a reeleição, na época o presidente trabalhou contra a posição do PT, que preferia a manutenção da interpretação da Justiça Eleitoral de que os acordos regionais deveriam repetir as alianças eleitorais feitas no plano nacional.
Agora, como seu poder não está diretamente em jogo, Lula quer exatamente o oposto: que os partidos seus aliados se mantenham obrigatoriamente dentro da aliança federal nas disputas municipais, sob pena de não poderem contar com ele na campanha.
Com isso, reduz as chances de apoios partidários do DEM e do PSDB e aumenta as dele de eleger, no âmbito da coligação nacional, um número substancial de prefeitos, consolidando uma forte base para a sucessão presidencial.
Claro que a norma não vale para cidades politicamente insignificantes. Tampouco vale para casos em que a heterodoxia da coligação seja mais importante que a presença de Lula na campanha.
Neste último critério está Belo Horizonte: lá, o governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel não precisam do presidente no palanque para eleger o candidato de uma possível aliança que atenda aos interesses de ambos, nacional, regional e partidariamente falando.
Se levada a sério, essa exigência do presidente na maioria das grandes cidades deverá forçar os partidos aliados a não se dispersar.
Quem quiser ter a presença de Lula - neste ano legalmente livre para se movimentar por onde bem queira -, terá necessariamente de ficar junto ou lançar candidaturas próprias, deixando em segundo plano as conveniências e as divergências locais.
Na disputa mais importante, em São Paulo, Marta Suplicy terá nessa regra de "participação presidencial verticalizada" a motivação principal para fazer de tudo para ganhar o apoio do PMDB e não deixar o partido escapar para a área de influência do adversário.
Em princípio, a cúpula pemedebista demonstra interesse em prestar esse serviço ao PT. O governador Sérgio Cabral Filho, por exemplo, captou há tempos a mensagem e, no Rio de Janeiro, tratou de romper o combinado com o prefeito César Maia (DEM), lançando um candidato para demonstrar ao presidente sua fidelidade.
Se o plano vai dar certo País afora, são outros quinhentos. Mas que será interessante de repente ver os partidos começarem a defender a fidelidade nas alianças, quando há dois anos fechavam questão em favor da tese contrária, lá isso será.
Mais não seja para observar como são frágeis certas convicções diante da fortaleza de determinadas circunstâncias.
Sem consumação
Insatisfeito com a movimentação paulista, principalmente aquela que responde pelo nome de Fernando Henrique, sobrenome Cardoso, o governador Aécio Neves está para a candidatura de José Serra, em 2010, como Geraldo Alckmin está para a postulação de Gilberto Kassab em 2008.
Ambos reagem tentando não se deixar afogar por fatos consumados.
Costas quentes
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não só faz pouco caso das recomendações da Comissão de Ética Pública, como resolveu medir forças publicamente na base do deboche.
Ele poderia se resguardar ao menos até que o presidente Lula receba o parecer da Advocacia-Geral da União sobre o conflito de interesses entre o cargo de ministro e o posto de presidente do PDT.
Mas não, resolveu confrontar e pagar para ver, estrelando a cerimônia de lançamento de Paulo Pereira da Silva à Prefeitura de São Paulo.
"Estou na hora de almoço", disse, ao ser indagado sobre sua presença em ato partidário durante o horário de expediente na função pela qual recebe salário e poder.
Tendo em vista que não é provocação, pois nem ele nem o partido pretendem abrir mão do ministério apenas para se divertir desmoralizando a comissão, a atitude de Lupi só pode ser sinal de convicção de que a parada está ganha.
Pedra no sapato
A ex-deputada federal Zulaiê Cobra é candidata a prefeita de São Paulo.
Zulaiê saiu do PSDB, filiou-se ao PHS e, a bordo do nanico, usará da total falta de cerimônia para dizer o que pensa e do conhecimento profundo sobre as artes e as manhas de seu antigo partido para tentar furar o cerco dos maiorais.