Corrida às terras
Esta coluna apontou no dia 17 o prognóstico de um reconhecido especialista, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Ele sacode o punho fechado no ar e dispara: "Pode escrever, em cinco anos, os preços da terra estarão pelo menos 100% mais altos."
O estudo do Instituto FNP finalizado em dezembro mostra que o preço médio da terra no Brasil vai quebrando recordes desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2001. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 17,83%, com as cotações médias chegando a R$ 3,86 mil por hectare. (Ver gráfico.) São números que, neste ano, deverão ficar para trás.
A engenheira agrônoma e analista do Instituto FNP, Jacqueline Bierhals, aponta três fatores que puxam pela alta:
(1) Mercado rarefeito - O Brasil é um dos poucos países com áreas a serem exploradas: mais de 100 milhões de hectares. Esse potencial pode ser utilizado para absorver parte da expansão da agricultura mundial, prevista para este e para os próximos anos.
(2) Preço baixo - Comparado com os padrões vigentes em outros países com forte potencial agrícola, o preço da terra ainda é baixo no Brasil.
(3) Crescimento da procura - A crise global que grassa no setor financeiro deve empurrar os administradores internacionais de patrimônio para ativos cujos preços enfrentem menos volatilidade. E aí o mercado de terras se mostra como boa opção.
Não há metodologia 100% segura para aferir o comportamento desse mercado. Para suprir a deficiência, o Instituto FNP conta com uma equipe de 300 informantes que detecta os principais negócios no País. E o que ela comprovou foi o fato de que grupos estrangeiros de vários calibres estão fechando compras de glebas em fronteiras agrícolas com alto potencial de valorização, especialmente em Mato Grosso, oeste baiano e no trio Mapito (Maranhão, Piauí e Tocantins).
Preços baixos são grande chamariz. Enquanto o valor de um hectare na Região Sul girou em torno de R$ 29,2 mil no último bimestre, a mesma área na mata no Amapá saiu por apenas R$ 85.
Depois de um período de relativa estagnação que se seguiu ao recuo nos preços da soja em 2004, o mercado se aqueceu com a corrida ao plantio da cana-de-açúcar a partir de meados de 2006. No ano seguinte, quando se imaginava que o plantio algo exagerado da cana poderia derrubar os preços, foi a demanda por terra para grãos que passou a determinar os preços.
Os arrendamentos também estão em alta, na medida em que os preços das commodities agrícolas e os do boi gordo são tomados como critério de indexação dos contratos.
Mesmo com a economia global ameaçada pelos maus resultados da economia americana, a aposta na terra continua forte, para desespero do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart. Para ele, o aumento do interesse de grupos estrangeiros é uma ameaça para o avanço da reforma agrária no Brasil. Mas o MST não quer acampar no sertão. Quer ficar próximo às grandes cidades.