Panorama Econômico |
O Globo |
9/1/2008 |
Dois perigos imediatos rondam a economia brasileira neste 2008: a inflação e a crise de energia. A inflação pelo IGP-DI vai continuar subindo, puxada pelos preços agrícolas no atacado, que acumularam uma alta de 24,8% em 2007. O preço da energia no mercado de atacado saiu de R$18 o megawatt/hora para R$475 em apenas um ano. Falta gás e falta água, e há térmica parada. Há riscos na inflação e na energia, mas os especialistas nas duas áreas ainda estão relativamente calmos. Só não se pode correr o risco de o governo não se preparar para o pior. - Na área de energia, não se pode chegar a abril sem um Plano B para o caso de o pior cenário se confirmar - disse o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman. O mês de abril fecha a temporada chuvosa e, até ontem, o nível de chuva estava muito abaixo da média dos últimos 76 anos. Os reservatórios do Nordeste estão com uma média de 27% de água. Sobradinho tem 17%. Quando se fala neste nível, é de água útil. Conta-se a partir do nível mínimo para que a usina funcione. Mesmo assim, o fato de os reservatórios estarem tão baixos indica que o sistema deveria ter sido poupado, com o uso de outras fontes. Mas as outras fontes foram atingidas pela falta de gás. O clima está na origem dos dois problemas. O La Niña reduz o nível de chuvas necessário para encher os reservatórios. A inflação do ano passado foi muito atingida pela seca em vários países produtores, como a Austrália. Os preços dos produtos agrícolas subiram no mundo inteiro e aqui também. Até produtos que são consumidos apenas internamente, como o feijão, ficaram bem mais caros. - O IPC-S está mostrando que, na primeira semana de janeiro em comparação com a primeira semana de dezembro, o feijão subiu 41,83% - disse o economista Luiz Roberto Cunha. Ele acha que os IGPs vão continuar subindo nos próximos meses. O IGP-DI fechou o ano em 7,89%. Segundo Cunha, vão subir porque, nos primeiros meses de 2007, foram bem baixos. O IGP-M de abril de 2007 chegou a 0,04%. As taxas agora serão maiores que as do ano passado. A sorte do país é que os dois fios desencapados não vão se juntar: a falta de energia não vai elevar os preços da energia a curto prazo. Esses preços são reajustados segundo uma fórmula que tem fatores de redução pelo repasse da produtividade. O passado ainda estará ajudando. Nos anos seguintes, esse efeito vai desaparecer. Em 2007, a correção da energia foi negativa, houve deflação. Nos primeiros anos pós-privatização, os preços subiram muito, mas já havia a fórmula nos contratos do repasse de produtividade, que agora está derrubando os preços. Os IGPs podem afetar os contratos em geral. Ao subirem tanto, podem acabar atingindo a inflação oficial em 2008. No ano passado, os preços administrados compensaram a disparada dos preços de alimentos. Em parte, por causa da queda do dólar. Este ano não se terá a mesma âncora. Na energia, o Brasil está hoje na situação estranha de ter 6.000 MW que não estão sendo gerados. São de térmicas a gás que não estão funcionando ou não estão utilizando toda a sua capacidade. Como a Petrobras não tem gás para todas as térmicas do país, ela se comprometeu com a Aneel a fornecer gás para apenas 40%. Esse percentual vai aumentando até chegar a 100% em 2011. Hoje, há térmicas instaladas para produzir 8.500 MW, mas só estão em operação 2.500 MW. Alguns especialistas dizem que uma forte razão para a Petrobras ter comprado termelétricas é justamente para não enfrentar pressão dos donos dessas geradoras. O cobertor curto do gás, o atraso na construção das hidrelétricas, o aumento do consumo estão levando a uma situação perigosa. Oficialmente se diz que o risco de racionamento é pequeno, mas o que está acontecendo hoje é semelhante ao que aconteceu em 1999 e 2000. Em 1999, o La Niña causou a redução das chuvas. Todo mundo contava com que chovesse em 2000, e isso não aconteceu. Perdeu-se a hora de agir. Em 2001, veio o apagão. O ONS esperava, no Sudeste, em janeiro, um volume de chuvas de 92% da média de longo prazo, e esse volume está em 71%. No Nordeste é pior: a expectativa era de chuvas a 67% da média e elas estão em 43%. - Pode chover nas próximas semanas e meses e tudo mudar - suspira um técnico do governo. - O cenário é igualzinho a 2000. O meu medo é de se repetir a mesma história - comentou o diretor de uma distribuidora. As distribuidoras, pelo novo modelo, estão contratadas, ou seja, com energia garantida. O maior problema enfrentam os consumidores livres que estão descontratados. Isso porque o preço da energia no mercado spot está oscilando fortemente. Em uma semana, subiu de R$247 o MWh para os atuais R$475; 92% de alta. Os contratos não são fechados neste valor - costumam ser contratos mais longos -, mas o preço da energia spot nas alturas indica que há muita tensão, o que acaba jogando o preço tão para cima. Ao olhar o nível de alguns reservatórios da página do CPTEC (www.cptec.inpe.br), o que se vê é que 2005, 2006 e 2007 foram anos tranqüilos. O especialista Adriano Pires, do CBIE, acha que agora o país está no início de um ciclo de problemas na área energética. Quem pensa em Plano B no governo acha que há duas soluções de curto prazo. Ambas ruins. Incentivar as indústrias que utilizam gás a usar óleo combustível - e aumentar a poluição do ar em São Paulo - ou fazer um novo plano de racionamento. O consumidor, que poupou 7 mil MW em 2001, voltou a consumir muita energia. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 09, 2008
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