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O Estado de S. Paulo,
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Manifestações lembram 1 mês da tragédia da TAM
Foram realizados atos em Congonhas, Porto Alegre e Rio
As palavras foram ditas quando os familiares, de mãos dadas, estavam na pista da Avenida Washington Luís, em frente ao local do acidente. A polícia interrompeu o trânsito da via, às 18h25, por dez minutos. O ato teve início às 17h42, no saguão de Congonhas, quando os familiares, em círculo, fizeram um minuto de silêncio. Ao sair do saguão em direção ao local do acidente, a viúva do passageiro Anderson Faleiros estava aos gritos. "O povo precisa sair dessa apatia", dizia Cristine Vitas.
O Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros - o Cansei - reuniu, em Porto Alegre, cerca de 200 pessoas no Aeroporto Salgado Filho. O protesto foi liderado pelo Instituto Liberdade e pelo Instituto de Estudos Empresariais e contou com a adesão do movimento Luto Brasil e de alguns parentes de vítimas da tragédia.
No Rio, cerca de 40 ex-funcionários da Varig, sindicalistas e passageiros protestaram contra o caos aéreo, ontem de manhã, no Aeroporto Santos Dumont, no centro. Vestidos com fantasia e nariz de palhaço, os manifestantes cobravam providências para evitar que aconteçam novos acidentes como o do Airbus.
IML
Ainda falta identificar cinco vítimas do acidente. Ontem, o diretor do Centro de Analises, Exames e Pesquisas do Instituto Médico-Legal (Caep), Carlos Alberto de Souza Coelho, explicou que a principal dificuldade agora é que os fragmentos que restaram foram os mais atingidos pelo acidente. "O DNA é uma proteína, que a uma temperatura muito alta fica volátil e esses corpos foram os que ficaram exposto ao calor maior", explicou.
Ainda não foram identificados Andrei Melo, Ivalino Bonato, Levi Leão, Michele Leite e Rodrigo Benachio. "Acreditamos que em uma semana acabaremos todas as análises possíveis", disse Coelho. A equipe que trabalhou na identificação dos corpos chegou a ser composta por mais de 300 pessoas. Hoje são 62 pessoas, mais especializadas. Segundo o diretor do Caep, as primeiras 14 vítimas foram reconhecidas pelas digitais, 120 precisaram associar técnicas de antropologia (sobretudo comparação de arcada dentária) com exames de digitais e 60 foram identificadas pelo DNA.
'''Cansei'''' faz seu primeiro ato em SP
Movimento contra a corrupção, violência, bala perdida e carga tributária reuniu manifestantes na Praça da Sé
Fausto Macedo e Anne Warth
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As vaias ao presidente ocorreram logo após a execução do Hino Nacional, puxado por Agnaldo Rayol - "a voz inesquecível", como ele foi saudado pelos organizadores do evento. Luiz Flávio Borges D?Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, que passou os últimos dias empenhado em afirmar que a manifestação "é apartidária, apolítica e não contra governo nenhum", declarou que não ouviu o protesto. "Ouvi o Hino Nacional e o povo gritando viva o Brasil."
A ação na praça marcou um mês do acidente com o Airbus A-320 da TAM, com 199 mortos. Foi respeitado um minuto de silêncio em memória das vítimas da tragédia, mas cerca de 40 parentes que foram à Sé saíram de lá revoltados, porque a segurança não permitiu que chegassem ao palanque erguido no pé da escadaria da catedral. Barrada, Ana Queiroz - que perdeu Arthur, de 27 anos - protestou: "Estão usando a gente, perdi meu filho, mas a luta eu não vou perder." D?Urso tentou contornar: "O palanque não pode suportar todo mundo." Ele providenciou para que dois representantes das famílias subissem.
A OAB e líderes empresariais e industriais anunciaram o Cansei dias depois da tragédia e a ele deram o nome de Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. Contra a iniciativa levantaram-se aliados do Palácio do Planalto que vêem na mobilização indícios de "golpismo".
IGREJA
A coordenação do Cansei planejava fazer a reunião na catedral, mas a Arquidiocese de São Paulo não consentiu. Em nota, a Cúria Metropolitana destacou que não houve autorização do uso do templo pelo cardeal-arcebispo d. Odilo Scherer. "A Arquidiocese não desautoriza o movimento, mas não encabeça o protesto nem participa de sua organização."
O ato na Sé foi o primeiro que o Cansei levou às ruas. A organização calculou que 5 mil pessoas participaram. O coronel Sidney Câmera Alves, do 11º Batalhão da Polícia Militar, disse que essa era também sua estimativa. A assessoria do Comando da PM, contudo, acredita que foram à Sé entre mil e 1.500 pessoas.
Na avaliação de D´Urso, o resultado foi muito positivo. "O movimento foi extraordinário. Não havia nenhuma expectativa de reunir um grande numero de pessoas, mas a presença da massa nos surpreendeu. O que importa é que a mensagem foi passada: precisamos convocar a população para fazer algo pelo País", declarou. O presidente da OAB-SP reiterou que o movimento é apolítico e apartidário. "Não houve discursos políticos", ressaltou.
Esse movimento nasce da sociedade, do povo. Esse movimento é apartidário.
O ato, realizado para lembrar um mês do acidente com o Airbus da TAM que matou 199 pessoas, começou com um minuto de silêncio. Parentes das vítimas estiveram no palanque, mas parte deles foi barrada pela segurança por falta de espaço, ficando na rampa de acesso.
Ao fim do ato, um grupo de menos de cem pessoas protestou gritando “Fora Lula”.
Discursaram o padre Antonio Maria, o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista (CIP), e o pastor metodista Vagner dos Santos Ribeiro. O Hino Nacional foi cantado por Agnaldo Rayol. A cantora Ivete Sangalo e a apresentadora de TV Hebe
Tudo é doloroso, a saudade é implacável'
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO. Cerca de 150 parentes de vítimas da tragédia com o Airbus da TAM fizeram ontem manifestação no Aeroporto de Congonhas e em frente aos escombros do prédio da TAM Express, que foi atingido pelo avião e depois implodido.
Emocionados, alguns familiares choraram no saguão do aeroporto, em frente aos guichês da companhia, onde fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos mortos e, de mãos dadas, rezaram o Pai-Nosso.
Os funcionários da TAM pararam o trabalho durante o minuto de silêncio, e alguns acompanharam a oração.
— É muito triste. Tantas pessoas morreram aqui. Isso nos entristece muito. Ainda mais que a gente sabe que nos escombros ainda há coisas deles.
Tudo isso é muito doloroso. A saudade é algo implacável, ela vem mesmo e faz doer mais, muito mais — disse Malu, mulher de Antonio Gualberto Filho, gerente de Desenvolvimento da TAM Express que morreu enquanto trabalhava.
Os manifestantes saíram do aeroporto pela pista lateral da Avenida Washington Luís com faixas com os dizeres “199 mortos — quantas vítimas? Vôo TAM JJ 3054”. Em silêncio, caminharam protegidos pela PM e por agentes de trânsito. Em frente aos destroços do prédio, muitos choraram novamente.
Em uma roda, de mãos dadas, os parentes rezaram e depositaram faixas e muitas flores no asfalto.
A PM fechou o trânsito por quatro minutos para que rezassem outra vez o Pai-Nosso.
— Nós estamos em cima das autoridades. Temos esperança de que, com o engajamento do governo federal, através do ministro da Defesa (Nelson Jobim), possamos dar um basta a esta situação. Que os nossos filhos, nossos irmãos, nossos pais, enfim, todos os parentes dessas 200 famílias não tenham morrido em vão. Que eles possam representar um marco na mudança do sistema aeroportuário nacional — disse o advogado Luiz Salcedo, pai do piloto Diogo Salcedo, que ia começar a trabalhar na TAM.
— Hoje é só manifestação, não é crítica aos responsáveis.
Isso fica para outro momento.
Hoje é uma homenagem aos entes queridos — disse Christoph Haddad, pai de Rebeca, de 14 anos, morta no acidente.
Sobre as medidas estudadas para processar os responsáveis pela tragédia, Haddad disse que uma comissão está analisando as ações que poderão ser feitas em conjunto. Pode ser o primeiro passo para a criação de uma associação de familiares de vítimas.
— A comissão está indo atrás dos responsáveis. Vamos identificar responsabilidades. Um a gente sabe quem é: o governo, que é omisso. Não fiscaliza e possibilita que essas coisas aconteçam. O resto, vamos apurar.
O tempo que levar, nós vamos buscar — disse Haddad.