Capas de VEJA sobre crises econômicas: desta vez somos espectadores | ||
Quando se empurram as cortinas ideológicas à esquerda e à direita e se esquecem as disputas partidárias sobre de quem é o mérito, se de Lula ou de FHC, o cenário aparece com clareza. E o que ele mostra? Mostra que o Brasil que atravessa a presente crise externa nos mercados financeiros é um país bem mais saudável em comparação com aquele que quase soçobrou sob as ondas de choques de turbulências passadas. Como lembrou há duas semanas Roberto Civita, presidente da Editora Abril, na cerimônia de premiação da 34ª edição de Melhores e Maiores da revista Exame: "Temos uma política econômica consistente e responsável. Uma taxa de inflação que permanece domada há mais de uma década. Exportações que batem sucessivos recordes. Investidores estrangeiros cada vez mais dispostos a colocar seus recursos aqui. Uma bolsa de valores que, apesar dos eventuais solavancos do mercado internacional, mostra um vigor inédito. Temos um mercado de consumo potencial invejável, recursos naturais em abundância e uma elite empresarial que se supera em competitividade dia após dia".
Pelas razões acima e pela própria natureza da economia de mercado, não há motivo para pânico. As crises do capitalismo trazem em si o germe da própria recuperação. Elas derrubam o preço das ações, dos produtos e das matérias-primas até o ponto em que comprá-los se torna atraente de novo e o ciclo recomeça em sentido positivo. Para aproveitar em sua plenitude tanto os períodos de prosperidade quanto as oportunidades criadas pelas oscilações globais – e não apenas sobreviver a elas –, o Brasil precisa fazer rapidamente as reformas trabalhista, tributária e previdenciária. Os bons fundamentos da economia ajudam agora o Brasil a se manter à tona na atual crise global de liquidez que está se degenerando em crise financeira e pode virar uma crise econômica. Mas eles não são suficientes. Só as reformas óbvias podem blindar a prosperidade nacional contra intempéries mais fortes.