Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 19, 2006

Tarso Genro contra Demétrio Magnoli - 2

Tarso Genro contra Demétrio Magnoli - 2

Magnoli recebeu uma intimação judicial para dar explicações sobre uma coluna, de cujo conteúdo trato a seguir. É um procedimento prévio para uma eventual ação por “crime contra a honra”. Tarso, obviamente, tem algumas facilidades de que Magnoli não dispõe: advogado de graça. Ele pôs no caso a Advocacia Geral da União, que é paga por você, leitor amigo.

Bem, e o que escreveu, afinal, de tão grave o então articulista da Folha, hoje no Estadão e no Globo? Reproduzo um trecho: “Tarso Genro, investido na função de ministro da Classificação Racial, está empenhado em suprir a lacuna de aprendizado: a partir de agora, por sua decisão, as escolas ficam obrigadas a incluir nas fichas de matrícula a informação sobre ‘cor/raça’ dos alunos. Essa informação associará a cada nome uma ‘raça’, e não está sujeita à regra do sigilo estatístico que cerca as pesquisas do IBGE.”

E continuava: “O ‘racismo científico’ serviu como instrumento de justificação do imperialismo europeu na África e na Ásia, contornando o princípio iluminista de que os seres humanos nascem livres e iguais. A genética desmoralizou o ‘racismo científico’, provando que a espécie humana não se divide em raças. Para preencher o formulário do ministro da Classificação Racial, os pais devem ignorar a ciência e eleger o preconceito como guia.”

É claro que o agora ministro das Relações Institucionais não quer “explicação”. Não há muito o que explicar no que vai acima. Estamos diante de uma tática de intimidação. Até porque, em sua coluna, Magnoli fazia o que não fazem os defensores da classificação racial, das cotas e de outras medidas que chamam de “discriminação positiva”: dizia com quais critérios trabalhava. Reparem no trecho que segue:

Mas o ministro da Classificação Racial, usando o poder burocrático do aparelho de Estado, resolveu invadir todas as escolas do país e ministrar sua própria aula. Tarso Genro, esse herdeiro inesperado do pensamento social racista de Nina Rodrigues (1862-1906) e Oliveira Vianna (1883-1951), está ensinando as crianças a definirem suas identidades segundo o critério da raça. Ele está dizendo às crianças que o Estado divide os cidadãos em cinco grupos raciais.”

Ora, é evidente que Magnoli, como qualquer articulista, recorre a uma força de expressão quando chama Tarso de “ministro da Classificação Racial”. Porque esse ministério não existe, está usando de um recurso retórico para destacar um parentesco de idéias. Parentesco explicitado no texto, quando cita Nina Rodrigues e Oliveira Vianna. É bom notar que Magnoli não sataniza os dois pensadores, equivocados, sim, já a seu tempo, mas, ainda assim, em consonância com certas teorias racistas — ou “racialistas” — influentes na época.

Se Tarso não entendeu o que Magnoli quis dizer, eu o ajudo. Quis dizer, ministro, que a sua política de classificação racial é anacrônica, passadista, velha. Que, sob o pretexto de se fazer política social inclusiva e progressista, suas escolhas eram, ou são, em verdade, reacionárias, passadistas, já superadas pela ciência. E eu ainda não acabei. Continuo no post seguinte.
Por Reinaldo Azevedo

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