Além de Freud Godoy, Gilberto Carvalho
e José Dirceu passam a ser suspeitos
no caso do dossiê
Marcio Aith
Paulo Pinto/AE | Dida Sampaio/AE |
Freud Godoy e o presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini. O primeiro voltou ao rol de suspeitos no episódio do dossiê; o segundo está cada vez mais enrolado. Outra novidade no caso é o envolvimento de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Lula |
Em reportagem publicada na semana passada, VEJA revelou uma operação abafa deflagrada pelo governo para apagar a participação de Freud Godoy, ex-assessor e ex-segurança do presidente Lula, no escândalo da compra do dossiê. Ele foi acusado pelo petista Gedimar Passos, flagrado com parte do 1,7 milhão de reais, de ser o mandante da operação. A revista informou que o ministro Márcio Thomaz Bastos se reuniu com Freud Godoy logo depois do estouro do escândalo e lhe indicou um advogado. Ele vai precisar de um bom profissional para defendê-lo: seu sigilo bancário foi finalmente quebrado. Tentar desvincular a compra do dossiê das ações do comitê de reeleição de Lula é o ponto fulcral da estratégia jurídica do governo. As razões são óbvias. Pela lei eleitoral, se reeleito, Lula pode perder o mandato caso um fato dessa gravidade seja vinculado a sua campanha. O próprio presidente reconheceu isso na semana passada, usando de extraordinária sinceridade. "Se se cometeu um crime eleitoral, eu e qualquer outro cidadão comum deste país temos que pagar pelo crime que cometemos", afirmou numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Pelo que se sabia até a sexta-feira passada, vai ser uma maratona jurídica e política afastar o dossiêgate de Lula e seus mais íntimos colaboradores. Além de Freud Godoy ter sido arrastado outra vez para o centro da confusão pela reportagem de VEJA, o cruzamento dos extratos telefônicos dos envolvidos no dossiêgate, divulgado pela Polícia Federal, trouxe as chamas da apuração para a ante-sala de Lula. Seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, telefonou duas vezes para Jorge Lorenzetti no dia 15 de setembro. Nesse dia, foram feitas as prisões dos negociadores do dossiê, Valdebran Padilha e Gedimar Passos, no hotel Ibis, em São Paulo. Na noite da última sexta-feira, Gilberto Carvalho admitiu os telefonemas, mas disse que ligou apenas em busca de informações sobre o que estava acontecendo. O primeiro telefonema de Carvalho aconteceu pouco depois das 10 da manhã. O segundo, depois das 18 horas. Ou seja, as duas ligações para Lorenzetti ocorreram horas após a prisão de Valdebran e Gedimar.
Em entrevista a VEJA, Carvalho disse que conversou com o presidente sobre o tema naquele dia. Afirmou que, por volta das 13 horas, informou Lula sobre as prisões. Teria dito: "Presidente, duas pessoas ligadas ao PT foram presas em São Paulo com dinheiro para comprar um dossiê". Lula teria ficado assustado, segundo Carvalho, e exclamado: "Quem iria fazer uma loucura dessas neste momento da campanha?". Pelo jeito, mais uma versão para livrar o presidente está sendo forjada. Não será tão fácil. Como explicar que Carvalho sabia do envolvimento de Lorenzetti com a compra do dossiê – tanto que telefonou para ele em busca de informações – cinco dias antes de o nome do churrasqueiro ter vindo a público como um dos participantes da trama? Mais: por que Carvalho só admitiu os telefonemas mais de um mês depois do estouro do esquema, e somente diante da iminência de ter seu nome revelado pela PF? Outro flagrado nos extratos telefônicos divulgados pela PF foi o ex-coordenador do comitê de reeleição de Lula, Ricardo Berzoini. No mesmo cruzamento de extratos, descobriu-se que o ex-ministro José Dirceu também conversou com Jorge Lorenzetti, mas não foi revelada a data dos telefonemas. Na sexta-feira passada, sem fazer menção à data dos telefonemas, Dirceu confirmou as conversas, mas negou que tenham tido qualquer relação com o dossiê. Típico do amigo do homônimo de Bob Marques.