Os manuais que ensinam como ficar rico
fazem um tremendo sucesso. Mas as lições
da vida real são bem diferentes
Rosana Zakabi
The New York Times |
WARREN BUFFETT Fortuna: 13 bilhões de dólares (doou recentemente 31 bilhões à Fundação Bill & Melinda Gates) Por que não precisou ler livros de auto-ajuda para enriquecer: abriu o primeiro negócio aos 15 anos. Mais tarde, descobriu como fazer fortuna na bolsa aplicando o dinheiro de outros investidores |
A escritora americana Dorothy Parker (1893-1967), que nasceu em berço de ouro e era uma das línguas mais ferinas de sua geração, costumava dizer que, se alguém quer saber o que Deus acha do dinheiro, "basta observar as pessoas para quem Ele o deu". Falar mal dos ricos é o esporte favorito dos remediados – mas todo ser humano de saldo bancário apertado sonha um dia se tornar milionário. A se confiar nos autores de livros de auto-ajuda, esse objetivo é fácil de alcançar. Bastam providências simples como esticar um pouquinho o horário de trabalho, empenhar-se no marketing pessoal e – atitude essencial – pensar como gente rica, não como gente pobre. Recheados de instruções como essas, os manuais que ensinam como se tornar um nababo se tornaram uma febre nas livrarias. Nos últimos doze meses, mais de quarenta títulos do gênero foram publicados nos Estados Unidos e outros dez chegarão às prateleiras até dezembro. No Brasil, há cinco títulos recém-lançados, entre eles o campeoníssimo Os Segredos da Mente Milionária, do consultor financeiro americano Harv Eker (LER ABAIXO), que até a semana passada contabilizava 20.000 exemplares vendidos no país.
Como todos os manuais de auto-ajuda, os livros que ensinam a ganhar o primeiro milhão têm um período de vida programado. Durante a leitura, eles elevam a auto-estima e estimulam pensamentos otimistas com relação ao futuro – até que os dias passam, o mundo real se impõe e os conselhos do texto são esquecidos. Os milionários que tiveram origem modesta, ao explicar sua ascensão, costumam contar histórias de luta e busca de oportunidades, e não de conselhos de almanaque a ser seguidos. O magnata mexicano das telecomunicações Carlos Slim, relembrando a sua história, avalia que o caminho para a fortuna passa por quatro etapas: encontrar a própria vocação, trabalhar no que gosta, cultivar a paciência e perseverar. Agindo dessa forma, o dinheiro virá como conseqüência. São quatro conselhos de bom senso que valem por um manual inteiro recheado de dicas como "arrume um mentor rico", "peça demissão do emprego e comece um negócio próprio" ou "repita para si mesmo a frase 'Eu tenho uma mente milionária'" – algumas das recomendações dos livros.
Claudio Rossi |
SILVIO SANTOS Fortuna: 880 milhões de reais Por que não precisou ler livros de auto-ajuda para enriquecer: aos 18 anos, já era o camelô mais conhecido do Rio de Janeiro. Anos depois enriqueceu com a venda de fundos de capitalização, o Baú da Felicidade. Hoje, é dono de mais de trinta empresas |
Por que, então, os manuais que pretendem conduzir à fortuna fazem tanto sucesso? A psicóloga paulista Ana Fraiman, diretora de uma firma de consultoria especializada em aconselhamento de carreira, acredita ter uma explicação. Diz Ana: "Numa sociedade extremamente competitiva como a atual, busca-se o dinheiro não apenas pelo conforto que ele proporciona, mas pelo status profissional que ele confere. Acumular riqueza, e fazer com que os outros saibam que se está ficando rico, abre caminhos para ascender na carreira". O raciocínio da psicóloga está em sintonia com o que pensava o célebre crítico literário e satirista americano H.L. Mencken (1880-1956). Segundo ele, o dinheiro não é medido pelos algarismos impressos nas cédulas, mas pelo valor exagerado que as pessoas lhe conferem.
O paulista Gustavo Cerbasi, professor da pós-graduação em administração e do MBA da Universidade de São Paulo, é autor de dois livros com conselhos para enriquecer: Dinheiro: os Segredos de Quem Tem e Casais Inteligentes Enriquecem Juntos – este há oito meses na lista de livros mais vendidos de VEJA. Cerbasi arrisca um palpite para o sucesso dos livros do gênero no Brasil: "Com a inflação baixa e um sistema financeiro mais seguro, as pessoas começaram a fazer planos para o futuro". Pode ser, mas, nesse caso, as orientações do gerente do banco podem ser mais úteis e objetivas do que os livros de auto-ajuda. Por mais que essas obras tentem convencer o leitor do contrário, não há fórmulas para ficar milionário. Nem mesmo ganhar uma bolada na loteria é garantia de um futuro dourado. Estatísticas mostram que mais da metade dos felizardos que ganham muito dinheiro com um bilhete premiado perdem tudo num prazo médio de dois anos. Talvez fosse uma boa idéia criar um manual de auto-ajuda para perdulários.
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Divulgação |
O americano Harv Eker é autor do livro Os Segredos da Mente Milionária, que vendeu 600000 exemplares nos Estados Unidos e 20000 no Brasil, onde foi lançado em julho. Em entrevista a VEJA, Eker dá algumas dicas para ficar rico. Ele garante que funciona.
O SENHOR É RICO?
Até os 30 anos eu era um tremendo fracasso, abria um negócio atrás do outro e todos iam à falência. Um dia, resolvi abrir uma loja de equipamentos de ginástica e, em dois anos, já tinha dez filiais. Vendi metade das ações da firma por 1,6 milhão de dólares e passei a prestar consultoria de negócios. Hoje sou rico. Tudo mudou depois que um amigo de meus pais, muito rico, me ensinou como pensam os milionários.
COMO PENSAM OS MILIONÁRIOS?
Os pobres pensam: "Eu nunca conseguirei ficar rico". As pessoas de classe média dizem: "Quem me dera um dia ficar rico". Já os futuros milionários afirmam, com toda a segurança: "Eu vou ficar rico".
POR QUE A MAIORIA DAS PESSOAS NUNCA CONSEGUE FICAR RICA?
Porque essas pessoas geralmente têm conceitos negativos sobre os milionários. Coisas do tipo "Todo rico é corrupto" ou "Para enriquecer, é preciso passar por cima dos outros". Ao associarem coisas ruins ao dinheiro, elas inconscientemente se afastam dele.
O SENHOR DIZ EM SEU LIVRO QUE ESTÁ ERRADO PENSAR EM GANHAR MAIS PARA TROCAR DE CARRO OU COMPRAR UMA CASA MAIOR. POR QUÊ?
Não há nada de errado em querer adquirir coisas novas e melhores. O problema é que, ao colocar esse objetivo em primeiro lugar, passa-se a trabalhar exclusivamente para conseguir comprar o que se deseja. Os milionários fazem o oposto. Primeiro, eles se empenham em acumular dinheiro e só depois pensam em adquirir um novo carro ou uma nova casa.