Panorama Econômico |
O Globo |
11/10/2006 |
Na próxima semana, o Copom deve reduzir de novo os juros, e, até o fim do ano, a inflação ficará baixa e o câmbio estável, prevê o economista José Márcio Camargo, da PUC e da Tendências Consultoria. Isso significa que está tudo bem? Ele acha que não. O que está bem é o curto prazo, mas o país não tem os pré-requisitos para crescer. "O governo fica com 40% do PIB e não investe; gasta tudo em consumo." Ele acredita num crescimento baixo este ano, um pouco melhor no ano que vem, mas em torno de 3% a 3,5%. Não crescerá além disso, porque, para crescer, é preciso investimento e o setor privado não pode investir mais do que investe. - Como o governo é 40% do PIB e não investe, significa que todo o investimento é feito pelo setor privado. Se o investimento é 20% do PIB e o governo nada investe, isso equivale a dizer que o investimento privado é de 35% do PIB. Ele não consegue investir mais que isso. Portanto, o cenário de curto prazo é bom, sem dúvida, mas o problema continua sendo o longo prazo - diz José Márcio. Muitos economistas criticam a política monetária e acham que juros e câmbio estão provocando desequilíbrios na economia. Não é a preocupação de José Márcio Camargo. Ele acha que os juros estão, sim, altos demais, mas continuarão a cair: - Estou convencido de que os juros estão muito acima da taxa real de equilíbrio, que deve estar em torno de 6% ao ano. Portanto, acho que os juros continuarão caindo nas próximas reuniões do Copom, mas isso não será suficiente para o país aumentar a taxa de crescimento, porque o problema é a falta de investimento. A maioria dos economistas do mercado está prevendo uma queda de mais 0,5 ponto percentual na reunião do Copom da próxima semana. Logo após a última reunião, a aposta mais freqüente era de 0,25 ponto percentual, porém, de lá para cá, confirmou-se o cenário mais benigno. Apesar desse quadro, não há ninguém otimista sobre o país. Uma das grandes preocupações é a falta de garantia de investimento em infra-estrutura para crescer. Neste ano, eleitoral, o investimento tanto estadual quanto federal aumentou um pouco, mas ele foi muito baixo nos anos anteriores. Segundo Raul Velloso, o investimento público em 2005 foi 0,5% do PIB, o menor em 40 anos. Observando os setores em separado, vê-se que, nos transportes, por exemplo, em que há forte presença do Estado, houve poucos avanços. Muitos portos que estão precisando de obras continuam sem ter o problema resolvido. No transporte terrestre, não saiu nenhuma concessão de rodovia, e a primeira PPP está agora em consulta pública: a BR-116/324, que liga o Sul da Bahia a Feira de Santana e depois ao porto de Aratu (BA), dificilmente começará a ser feita este ano. A única coisa que avançou foi, em 2006, a recuperação de rodovias, que ficou mais conhecida como Operação Tapa-Buraco. O que foi bem, segundo Paulo Godoy, presidente da Associação da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), foi a parte de obras nos aeroportos, onde se continuou o programa de modernização. No caso do saneamento, a Abdib considera que o investimento ainda é muito baixo. Atualmente, segundo a Associação, o setor público investe 0,18% do PIB ao ano, quando seria necessário, pelo menos, 0,63% do PIB para universalizar o acesso ao saneamento daqui a 20 anos. Em setembro, eles lançaram uma agenda para os anos do próximo mandato; de 2007 a 2010. Ela foi entregue aos dois candidatos que hoje disputam o segundo turno. A Abdib acredita que o investimento necessário para a infra-estrutura seria R$87,7 bilhões anuais. A maior parte iria para petróleo e gás: R$31,5 bilhões. Energia e transportes ficariam com R$16 bilhões cada, telecomunicações (só a parte de infra-estrutura) precisaria de R$13 bilhões e saneamento, de R$9,6 bi. Nos últimos quatro anos, em média, o investimento público foi equivalente a 60% deste valor. Mas, excluindo petróleo, a média é de apenas 50%, a metade do investimento considerado necessário. Paulo Godoy, contudo, acha que, mais que aumentar seu investimento, o governo tem que criar condições de atrair investimento privado: - O grande investimento deve ser feito pela iniciativa privada, através de PPPs e concessões. Também é preciso o restabelecimento do investimento do poder público - diz ele. O presidente da Abdib acredita que, sim, a queda da TJLP, o BNDES mais ágil e a redução dos spreads facilitaram na hora da realização de obras de infra-estrutura, mas acha que ainda é preciso melhorar: - A queda da TJLP foi uma boa coisa neste governo, mas vamos continuar brigando até ter um custo de crédito coerente com as características do país e com os países com os quais competimos. O custo de crédito aqui é mais alto que no México, no Chile e na Coréia. Na visão de Godoy, é necessário que o investidor privado acredite que a economia brasileira tem capacidade de crescer: - Ninguém vai querer vir para o Brasil para fazer uma hidrelétrica apenas. Quer vir para se estabelecer. É preciso uma agência reguladora forte, ágil solução de conflitos. Ontem, houve um novo leilão de energia. A quantidade licitada foi ainda baixa. Além disso, o governo continua sem considerar nos leilões e nos preços uma possível falta de gás. Para completar todo esse cenário desanimador no investimento, no próximo ano, pós-eleição, com a necessidade de ajustes, o investimento público em infra-estrutura será ainda menor. Como diz José Marcio Camargo, no curto prazo, está tudo bem; mais adiante, são muitos os obstáculos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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