Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 06, 2006

LULA PEDE CABEÇA DE BERZOINI NO PT

LULA PEDE CABEÇA DE BERZOINI NO PT PARA SE LIVRAR DO DOSSIÊ VEDOIN

Vera Rosa, Vanice Cioccari
O Estado de S. Paulo
6/10/2006

Preocupação do presidente é chegar ao debate de domingo com o discurso de que o partido tomou providências

Pressionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula do PT inicia hoje um expurgo interno, na tentativa de salvar o projeto de poder do partido para os próximos quatro anos. A 24 dias do segundo turno, numa reunião extraordinária da Executiva Nacional do PT, em São Paulo, dirigentes petistas proporão o afastamento do deputado Ricardo Berzoini (SP) da presidência do partido e a expulsão dos cinco filiados envolvidos na tentativa de compra do dossiê Vedoin.

Lula ordenou à coordenação de sua campanha que encontrasse uma 'solução definitiva' para o escândalo no PT antes do debate marcado para o domingo com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, na TV Bandeirantes. O presidente quer chegar ao confronto sem esse peso e com o discurso de que o PT tomou providências.

Até ontem à noite, Berzoini resistia muito a passar o bastão e a transferir o comando do PT para Marco Aurélio Garcia, primeiro-vice-presidente, apesar do apelo de Lula. Sua tendência, Unidade na Luta, estava dividida e desnorteada. Mas alguns de seus amigos prometiam conversar com ele na manhã de hoje, horas antes da reunião, pedindo que se antecipasse e tomasse a iniciativa do afastamento. Berzoini não queria convocar a Executiva para hoje, mas não teve escolha.

Desde que foi confirmado o segundo turno, Lula culpa os 'aloprados' do partido - como definiu os antigos companheiros - por não ter conseguido vencer na primeira etapa. Em conversas reservadas, não se cansa de repetir que sua reeleição está ameaçada por causa de 'imbecis' do PT.

Os petistas que deverão ser submetidos à comissão de ética são Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Valdebran Padilha, Expedito Veloso e Hamilton Lacerda. A Polícia Federal descobriu que todos integravam um 'grupo de inteligência' do PT que tentou comprar um dossiê do lobista Luiz Antônio Vedoin, por R$ 1,75 milhão.

Composto por fotos e um DVD, o dossiê conteria denúncias que ligariam o então candidato José Serra, hoje governador eleito de São Paulo, à máfia dos sanguessugas. A trama tinha o objetivo de impulsionar a candidatura de Aloizio Mercadante (PT) ao Palácio dos Bandeirantes.

O escândalo derrubou Berzoini da coordenação da campanha de Lula e teve efeito dominó sobre outros petistas graúdos. Freud Godoy, assessor especial do presidente, também caiu, mas até agora a PF não encontrou provas contra ele.

'Se Berzoini não pode ser coordenador da campanha, como pode ser presidente do PT?', perguntou Jilmar Tatto, terceiro-vice-presidente do partido. 'Não adianta fazer campanha e ignorar o dossiê nem tapar o sol com a peneira: há um defunto na sala.'

Tatto disse não acreditar no envolvimento direto de Berzoini com a negociata. 'Até agora, ninguém quer pedir comissão de ética para ele, mas o problema é de falta de condição política para dirigir o partido', argumentou Tatto, que chegou a propor a renúncia coletiva da cúpula do PT, mas voltou atrás. Berzoini foi eleito há um ano para mandato até 2008.

Na desesperada tentativa de estancar a sangria causada pela crise, petistas de várias facções engalfinham-se em mais uma luta interna. Da Articulação de Esquerda, o secretário de Assuntos Internacionais, Valter Pomar, disse que a Executiva deve aprovar uma resolução defendendo a expulsão dos cinco envolvidos no escândalo. 'Mas a situação de Berzoini é diferente e ainda será dirimida, porque, apesar de assumir que o grupo de inteligência estava sob sua coordenação, disse desconhecer o conteúdo de seus atos', comentou.

O estatuto do PT prevê a suspensão da filiação e a instalação de comissão de ética com prazo de 60 dias para concluir as investigações. Mas, como não menciona a degola sumária, a resolução é a alternativa para uma resposta imediata. Um dos poucos que se posicionaram contra a punição, neste momento, foi o secretário de Mobilização do PT, João Felício. 'Eu acho que deveremos tratar disso depois', disse. Berzoini não atendeu aos pedidos de entrevista feitos pelo Estado.

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