Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 06, 2006

Luiz Garcia - Meu herói

Luiz Garcia - Meu herói


O Globo
6/10/2006

Está bem, a guerra ainda não acabou, mas cada um já pode escolher seus heróis da primeira batalha. Como não fica bem para feros jornalistas admitirem admiração e respeito por seres humanos - pior ainda, conterrâneos -, proponho campeão de outra natureza: o sistema brasileiro de apuração de eleições.

Nada igual existe por aí, em termos de rapidez e precisão. E graças a Deus. Já pensaram como se organizaria o segundo turno deste ano, se eleitores e candidatos tivessem de esperar semanas ou mais de mês pelo fim da contagem manual? E o risco de urnas roubadas ou violadas, presente em todas as eleições antigas? Sem falar em mais tempo para fazer bobagens entre a primeira e a segunda votação?

Não é preciso, mas sempre dá prazer lembrar o acontecido nos Estados Unidos, na primeira eleição de George Bush. Roubaram um caminhão de votos na Flórida, todo mundo viu, mas até hoje lá não se fala em mexer no sistema de apuração.

O problema é complicado. Vem da forma como nasceu a federação americana - o oposto do que aconteceu aqui. Lá, estados independentes abriram mão de parte de sua autonomia em benefício do poder central. Compreensivelmente, abriram o menos que podiam. Uma das conseqüências disso: cada condado, em cada estado, tem seus métodos de registrar eleitores, votar e contar votos. Lentidão e fraude são previsíveis - e acontecem.

Aqui, a federação nasceu por decisão do poder central, o qual, embora permita aos estados alguma medida e forma de autonomia, mantém um sistema eleitoral nacional, padronizado. A Justiça Eleitoral, quando teve meios para isso, partiu para a informatização - e criou um mecanismo até hoje impecável, funcionando no Brasil inteiro. Respeita a vontade do eleitor e produz resultados em curtíssimo prazo.

O processo teve um mau prólogo na tentativa de informatizar a totalização dos votos em 1982 - quando ocorreu o nunca inteiramente esclarecido escândalo da Proconsult --, mas começou para valer em 1985, com a sanção da lei que unificou o cadastro de eleitores num sistema de computação. Dez anos depois, outra lei instituiu o uso das urnas eletrônicas que usamos outro dia.

Há críticos. Defendem salvaguardas variadas - por exemplo, a emissão automática de um comprovante de voto para o eleitor. São poucas vozes, pouco ouvidas. Fala mais alto o fato de que até hoje nenhum partido ou candidato, por maior que tenha sido a surra nas urnas, sequer insinuou fraude ou falha no sistema.

Claro, votos ainda podem ser comprados. Mas o safado comércio ocorre longe das seções eleitorais. Nenhum computador poderia evitar, por exemplo, o famoso "voto botina", comum nos cafundós (o eleitor recebe o pé esquerdo ao fechar negócio, e o pé direito se o candidato for eleito). O que interessa de verdade: em todos os pleitos, temos apuração rapidíssima, e, até hoje, sem qualquer contestação dos resultados.

Obrigado, computador. Não saia daí.

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