Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 21, 2006

Lorenzetti chefiou compra do dossiê, diz PF

Para a polícia, ex-analista da campanha de Lula visava prejudicar Serra em SP; inquérito pode ser prorrogado por 30 dias

Documento parcial aponta haver "fortes indícios" de que o R$ 1,7 milhão que seria usado na compra dos papéis teve origem ilegal


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório parcial do delegado federal Diógenes Curado Filho aponta, por ora, Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco e mídia da campanha de Lula, como "a pessoa que articulou em âmbito nacional a compra do dossiê". Entregue ontem à Justiça Federal do Mato Grosso e obtido pela Folha, o relatório de Curado afirma que Lorenzetti tinha "tudo sob seu comando e, estranhamente, não sabia do dinheiro".
Encarregado do inquérito do dossiegate, o delegado da PF sugere que Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, seja o homem da mala porque "está cada vez mais difícil acreditar na sua versão". Lacerda nega ter transportado o dinheiro.
"O dossiê, com certeza, visava alterar o rumo das pesquisas do eleitorado paulista, fazendo uma relação do candidato José Serra [do PSDB, eleito em 1º de outubro] com a máfia dos sanguessugas", diz Curado. A PF pretende ouvir o candidato derrotado do PT ao governo paulista, Aloizio Mercadante.
Curado não cita Freud Godoy, ex-assessor especial de Lula, entre os suspeitos. O nome de Godoy aparece apenas uma vez no documento. "Negou qualquer envolvimento com o escândalo do dossiê, dizendo que não deu apoio às pessoas envolvidas."
O delegado também não mostrou interesse em ouvir de novo o ex-assessor especial.

Entrevista à "IstoÉ"
No relatório, o delegado narra que Valdebran Padilha recebeu R$ 1 milhão antecipadamente de Gedimar Passos em "garantia" para que Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, concedesse entrevista à revista "IstoÉ" envolvendo José Serra no escândalo.
Esse R$ 1 milhão é parte do R$ 1,7 milhão apreendido pela PF em 15/9, quando flagrou a negociação entre Valdebran e Gedimar, subordinado de Lorenzetti na campanha de Lula e único indiciado por ora no inquérito (supressão de provas).
No relatório, o delegado diz que Luiz Antonio "Vedoin e outros tramaram a venda de documentos e informações de interesse do Judiciário a terceiros". Afirma que as investigações demonstraram que Vedoin "manipulava documentos e informações para achacar pessoas envolvidas" com a máfia das ambulâncias.

Origem do dinheiro
Após um mês de investigação, Curado diz "sem medo de errar" que "em todas as declarações, depoimentos e interrogatórios juntados nos autos não se retira uma indicação sobre a origem do dinheiro".
No entanto, o delegado diz ter "fortes indícios" de que "parcela do numerário veio do jogo do bicho carioca". Ele avalia que todo o dinheiro é ilegal e oriundo de fontes diversas.
Numa resposta indireta à crítica da oposição de que a PF estaria atrasando a investigação para beneficiar o presidente Lula, Curado declara que "desde o início, os trabalhos estão sendo feitos e tratados em caráter institucional".
Ele pediu à Justiça a prorrogação do inquérito por 30 dias.
Nas "diligências restantes", Curado afirma que falta concluir os "trabalhos sobre a origem dos dólares". Antes, relata que "começaram a surgir fraudes" para esconder a real origem da moeda americana por meio de "laranjas".
O delegado diz que ainda faltam algumas investigações para "comprovar que parte do numerário em reais veio" do jogo do bicho no Rio de Janeiro.
Afirma que, "no devido tempo", tomará o depoimento de Mercadante, do responsável pela "IstoÉ", de Darci Vedoin e "de pessoas identificadas no decorrer das diligências".
Ele relata ainda que precisará ouvir novamente Valdebran Padilha, Gedimar Passos, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti e Luiz Antonio Vedoin. Por último, diz que fará "conclusão das perícias do dinheiro e das imagens do Hotel Íbis".
Curado afirma que "quebras de sigilo telefônico identificaram outros envolvidos", mas não diz nomes. Ele afirma que pedirá mais quebras de sigilos telefônicos e bancários.

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