Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 21, 2006

Secretário de Lula ligou para Lorenzetti ao saber de prisões


Conversa ocorreu antes de vir a público a ligação do churrasqueiro do presidente com dossiê

"Disseram que o Lorenzetti estava no rolo. Então, liguei pra ele", afirmou Gilberto Carvalho, se referindo às prisões de emissários do PT


JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quebra do sigilo telefônico do petista Jorge Lorenzetti, personagem central do dossiegate, revela que ele trocou telefonemas com Gilberto Carvalho, secretário particular de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia em que o esquema veio à tona.
As ligações telefônicas entre os dois ocorreram num momento em que o nome de Lorenzetti, amigo do presidente Lula, ainda não estava vinculado ao caso, o que veio a acontecer somente três dias depois.
Lorenzetti e Carvalho conversaram pelo menos duas vezes em 15 de setembro, dia em que veio a público a tentativa de compra de um dossiê contra políticos tucanos por petistas.
Lorenzetti está sob investigação da PF por conta de seu envolvimento no caso do dossiê. Por isso teve o sigilo telefônico quebrado. Ele chefiava o birô de "inteligência" do comitê de campanha de Lula, onde estavam lotados os principais "aloprados" do dossiê.
Deu-se pouco depois das 10h da manhã do dia 15 de setembro o primeiro contato telefônico entre Lorenzetti e Carvalho. Quem ligou foi o secretário de Lula. Pouco antes das 19h do mesmo dia, foi a vez de Lorenzetti telefonar. Carvalho contou o seguinte:
1) Carvalho estava com Lula na produtora do jornalista João Santana, responsável pelo marketing da campanha, quando recebeu um telefonema. Foi informado de que a PF prendera Gedimar Passos e Valdebran Padilha, ligados ao PT.
2) "Assim que recebi essa informação, deixei o presidente na produtora e vim pra cá [Planalto]. A informação chegou muito atravessada. Disseram que o Lorenzetti estava no rolo. Então, liguei pra ele. Era a pessoa mais próxima que eu conhecia dessa gente", disse Carvalho. "Perguntei: "Lorenzetti, que loucura é essa?" Ele estava muito assustado. Explicou que tinham ocorrido as prisões".
3) De volta das gravações, Lula compareceu a um compromisso de agenda no Planalto. Em seguida, Carvalho foi ao presidente. "Antes de ele ir para o almoço, falei: tem uma coisa chata. Não sei direito o que é. Prenderam duas pessoas em São Paulo, com dinheiro. Parece que é negócio de dossiê. Falei com o Lorenzetti, mas ele não soube precisar o que é. O presidente pôs a mão na cabeça e disse: "Não acredito que isso possa estar acontecendo nesse momento da campanha"."
4) No final da tarde do mesmo dia 15, Lorenzetti discou para Carvalho. "No primeiro telefonema, ele não sabia direito o que tinha acontecido. Voltamos a falar às 18h41min. Aí ele deu mais informações, que as pessoas tinham sido presas e estavam tentando saber o que estava acontecendo. Depois, não falei mais com ele, até por prudência."
Consultando os registros da Presidência, o secretário de Lula diz que, antes do dia 15 de setembro, a última vez que falara com Lorenzetti fora em 28 de agosto. "O Lorenzetti intermediava as idas do presidente a Santa Catarina. Várias vezes eu falei com ele por conta desse negócio da agenda."
A partir de setembro, informa Carvalho, a responsabilidade pela montagem da agenda de campanha de Lula foi transferida para César Alvarez, assessor da Presidência que se licenciou do cargo para trabalhar no comitê. Desde então, Carvalho diz não ter mais conversado com Lorenzetti, exceto no dia 15 de setembro.
A quebra dos sigilos revela que Gilberto Carvalho trocou telefonemas também com Freud Godoy. São ligações "funcionais", diz Carvalho. Godoy era assessor especial da Presidência, lotado no gabinete pessoal de Lula, que é chefiado por Carvalho. A PF não exclui a hipótese de convocar Carvalho para prestar esclarecimentos. A própria polícia informa, porém, que ele não está sendo tratado como suspeito no caso do dossiê. "Não tenho nada a esconder", disse Carvalho.
Sub-relator da CPI dos Sanguessugas, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou ontem que não tem mais dúvida de que o Palácio do Planalto sabia da tentativa de compra do dossiê antitucano.
"A ligação telefônica do Gilberto Carvalho para uma pessoa que naquele momento era desconhecida da imprensa e das autoridades é uma mostra inequívoca que o Palácio do Planalto, por meio do assessor direto do presidente, sabia de toda a armação", afirmou.

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