Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 20, 2006

FHC diz que Lula corre o risco de "jogar no lixo sua história"

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem que "falta grandeza" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e repetiu Leonel Brizola (1922-2004) para dizer que, nesta campanha eleitoral, o petista deixou o estilo "Lulinha paz e amor" e voltou a ser "um sapo barbudo".
"Ele [Lula] ganhou as eleições com o slogan "Lulinha paz e amor". Um pouco hippie, né? Tem um lado dele que é assim. Mas agora voltou a ser, como dizia Brizola, um sapo barbudo. Tomara que seja somente na campanha", declarou FHC, considerando a hipótese de que o presidente seja reeleito.
Em 1989, quando apoiou Lula no segundo turno contra Fernando Collor, Brizola disse que, em razão das circunstâncias, teria de "engolir o sapo barbudo".
Ontem, o ex-presidente tucano disse que "Lula ficou muito eleitoreiro" e, com isso, corre o risco de "jogar no lixo sua história". "Lamento que (...) Lula que sempre foi um símbolo, que veio do Nordeste, pobre, operário e chegou à Presidência, tenha se tornado um político qualquer", disse.
"Acho uma pena que ele [Lula] não tenha entendido o papel dele na história", complementou. "Politicamente, perdeu altura. [Isso] não é mau para ele, é mau para o país. O país precisa não de um, mas de vários líderes que se contraponham, mas a partir de uma certa visão de grandeza. Falta grandeza."
Segundo FHC, na obsessão de ganhar, Lula está "destroçando seu simbolismo". "Um líder tem sempre de pensar a longo prazo. Tem de tratar de não ser somente um ganhador de eleições."
O tucano também respondeu às declarações do presidente durante a sabatina da Folha anteontem. Lula afirmou que FHC "falou demais como ex-presidente" e que a relação entre os dois, que "sempre foi muito boa", "ficou truncada".
"Não é que eu falei demais, eu critiquei demais. Se eu falasse a favor, estava como o presidente [José] Sarney, que ele [Lula] acha que é o xodó dele", disse.
Acrescentou ainda que nunca trocou ofensas pessoais com Lula, que não o vê "como a encarnação do mal" e que "sempre criticou a política". "Eu não estou truncando nada. (...)Ele não gosta do que eu falo, mas tenho obrigação de dizer o que penso. Não vou abdicar de ter opinião", disse. "Tenho obrigação de dizer o que eu penso e não tenho obrigação de agradar o presidente Lula."
De acordo com FHC, em vez de dialogar, o governo petista transformou o PSDB em "inimigo, não em adversário" e que, Lula se aliou "aos setores mais atrasados". Antes, havia dito que, no Brasil, "setores que se chamam de esquerda são conservadores e não sabem". Questionado se acreditava que era mais de esquerda do que Lula, disse que, "em algumas questões", as posições do petista são mais conservadoras que as suas.
No caso de vitória de Lula, FHC disse não acreditar em reações extremadas para tirá-lo do poder. "Nós [do PSDB] não somos golpistas", afirmou. "Sou um democrata. Se ganha Lula, Lula será o presidente. Se ele cometeu erros, a Justiça julgará."

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