Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 16, 2006

FERNANDO DE BARROS E SILVADinheiro, eleição e riscos

SÃO PAULO - Daqui a duas semanas o Brasil já terá escolhido seu presidente. As pesquisas apontam a vantagem relativamente folgada de Lula. E nove entre dez analistas palpitam que só um novo escândalo (ou, antes, uma revelação muito bombástica dentro do escândalo do dossiê) poderia ainda deixar a reeleição escapar das mãos do petista.
Sabe-se que o impacto da imagem da montanha de notas foi decisivo para levar a eleição ao segundo turno. Ganhou o país. Lula se viu obrigado a voltar à Terra. Foi desalojado de sua onipotência. O PT experimentou um limite à impunidade que se autoconcedeu desde o mensalão. Há, enfim, um ambiente de disputa e de enfrentamento reais -se não entre dois projetos políticos ao menos entre duas personalidades e delas com a sociedade.
Lula terá concedido até o fim deste mês mais entrevistas do que permitiu em quatro anos. É um avanço para quem se mostrou refratário à idéia de que prestar contas -de seus atos e dos atos de seus comandados- faz parte da rotina do poder numa sociedade democrática.
"De onde veio o dinheiro?" Geraldo Alckmin transformou a pergunta numa espécie de mantra de campanha. Repete-a por toda parte como um sonâmbulo. Se as fotos derrubaram Lula no primeiro round, a superexposição da imagem e a repetição da pergunta tendem a provocar agora o efeito inverso: passa-se do choque à hipnose, da indignação ao tédio -aquele que se diz porta-voz do Brasil decente corre o risco de ser tachado de oportunista.
Não havia, de resto, a propalada "onda Alckmin". A inépcia política da campanha tucana e a mobilização da máquina de guerra do governo no segundo turno enredaram Alckmin de novo na agenda de Lula.
O governo, de um lado, amplifica as dicotomias entre os candidatos; de outro, aposta na confusão para diluir e dividir os estragos do dossiêgate. Tem dado certo até agora. Mas será muito ruim para o país e arriscado para Lula se ele for reconduzido ao poder sem antes ter respondido à questão que o tucano soletra em desespero de causa.

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