Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 10, 2006

A farsa da humildade e o jornalismo chapa-vermelha


Certa imprensa brasileira é tão vagabunda, mas tão vagabunda, que se dedicou a fazer uma catilinária sobre a agressividade de Alckmin no debate. Humilde foi Lula. Nos melhores momentos, dizia coisas como: “Eu pensei, Alckmin, que você fosse me agradecer por causa da reforma do Aeroporto de Congonhas”. Quando fez uma pergunta sobre a Febem, acusando o governo de São Paulo de nada ter feito, perguntou se o outro precisava de ajuda para responder. Humilíssimo. Irônico, dizia: “Não sei por que você está nervoso; você não é assim”. Ou ainda: “Fez psicodrama?”. Tudo, claro, prova inconteste de humildade.

A sugestão de que Alckmin lhe devia agradecimento diz bem qual é a sua concepção de democracia. Não se trata de dois entes do Estado Brasileiro, a Federação e São Paulo, que celebraram um acordo para reformar o aeroporto. Nada disso! Lula julga ter feito um favor pessoal ao Estado e ao seu então governador. E o outro, seu vassalo, deve obrigações ao suserano. A nova classe social que chegou ao poder com Lula não é republicana. Trata-se de uma nova aristocracia. Até na impunidade que advoga para si mesma. São todos fidalgos. Acima da lei.

Mas, como se vê, isso não chocou a sensibilidade de nenhum jornalista. Afinal de contas, de súbito, o Lula do debate começou como presidente da República e, à medida que o tempo ia passando e que o médico Alckmin ia desmistificando a figura, Lula voltava a ser o operário do sonho do jornalismo. Começava, de novo, a provocar aquelas reações de solidariedade burra e bronca, que o blindaram em 2002; que lhe permitiram, no fim das contas, liderar o governo mais corrupto da história republicana. E, não fosse alguém de dentro do esquema roer a corda, estaria aí, ainda agora, sendo aplaudido.

E vejam lá, hein: Alckmin só pôde bater como bateu porque, afinal, Lula já tem uma história de quatro anos à frente da Presidência da República, com praticamente todos os seus homens de confiança com a cabeça sob a espada da lei. Imaginem só o que era debater com Lula em 2002, como fez Serra. A quem não tem memória ou não sabe, vai aqui uma informação ou um refresco. Lembro-me muito bem de Ricardo Noblat fazendo um texto censurando o então presidenciável José Serra. Por quê? Porque correu um boato de que o PSDB teria um vídeo devastador para Lula. Era conversa mole. O vídeo não existia. Tratava-se de uma dessas lendas que se criam na política.

Mesmo assim, para todos os efeitos preventivos, Noblat convidou Serra a ser superior e não aderir à baixaria política. Mas como ele poderia saber que era baixaria se o vídeo nem mesmo existia? Ah, amiguinhos: eram os tempos em que o PT e Lula eram os imaculados da política. A simples sugestão de que Lula pudesse ser um ignorante merecia apedrejamento. Esse Lula do “coitadismo” andava sumido, depois de muitos escândalos. Preservado de críticas mais duras, até os adesistas ensaiavam uma contraposição ou outra para disfarçar que têm lado na batalha.

Bastou o “doutor” Alckmin chamar as coisas pelo nome, os setores petistas da imprensa não resistiram. Estão, mais uma vez, protegendo o seu mártir. E o fazem de duas maneiras principais: a) acusando o excesso de fúria do candidato do PSDB; b) sugerindo que havia um jogo de cartar marcadas entre PT e PSDB. E os fatos que se danem.

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