Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 10, 2006

AUGUSTO NUNES O mantra dos mentirosos


Coisas da Política
10/10/2006

Augusto Nunes
augusto@jb.com.br


O mantra dos mentirosos

A ladainha foi entoada, de novo, no primeiro debate do segundo turno. "Corrupção existiu em todos os governos", desconversou na TV Bandeirantes o presidente-candidato. "A diferença é que nós punimos". Na primeira fila da platéia, Marta Suplicy até conseguiu distender a musculatura facial aprisionada a cada três dias. Feliz, repetiu o mantra no fim do debate: "Só o nosso governo pune".

Pune coisa nenhuma, informa a vida real. As evidências são muitas e penosas. O extorsionário Waldomiro Diniz, por exemplo, não foi sequer demitido. Foi exonerado "a pedido". José Dirceu viu confiscada por Roberto Jefferson a tarja de capitão do time, mas mantém o direito de ir e vir (sempre à caça de negócios espertos). O estuprador de contas bancárias Antonio Palocci, deputado eleito, vai homiziar-se numa bancada feita de mensaleiros, vampiros e sanguessugas, todos beneficiários da mão amiga da impunidade.

O trem-pagador Paulo Okamotto ainda não sofreu a mais que recomendável quebra do sigilo bancário e fiscal, fundamental para o esclarecimento de suspeitíssimas doações à Primeira Família. Algumas o vinculam a Marcos Valério, outro que não sabe o que é dormir num catre.

Silvinho Pereira nem explicou direito que fim levou aquele Land Rover. Delúbio Soares, o modernizador do assalto a banco, gasta o tempo em churrascos com amigos no sítio em Goiás. Poderá agora melhorar a comida: despedido do PT (e em liberdade), Jorge Lorenzetti está disponível. Liberado das maracutaias de campanha, o churrasqueiro do rei saberá cuidar da qualidade da carne oferecida aos convivas.

A Polícia Federal tem colecionado operações que identificam bandidos. Mas o doutor Márcio está aí para poupar de dissabores os capturados em meio a patifarias necessárias ao desenvolvimento do partido e da nação.

A polícia prende, o governo solta. Não há na cadeia um único bandido federal. Confrontado com essa evidência, Lula deu-se mal no debate. De onde veio o dinheiro para a compra do dossiê criminoso?, quis saber três vezes Geraldo Alckmin. Três vezes Lula se esquivou. Terá de esquivar-se nos próximos debates. Não há o que dizer. Resta-lhe tentar impedir que as investigações cheguem às cabeceiras do rio de lama.

Se chegarem, Lula perderá todos debates. E a eleição.

O pregador iluminado

Reproduzidas pela TV, as aparições do presidente-candidato em comícios recentes informam que o deslumbramento com o poder acaba de impor outra mudança ao estilo do orador Luiz Inácio Lula da Silva. Até recentemente, ele discursava como discursam todos os políticos, em todos os palanques. O corpo permanece hasteado à frente do microfone. O gestual se restringe a oscilações corporais, movimentos de mão ou recados fisionômicos. Já não é assim.

Lula deve ter decidido que isso é para gargantas comuns, não para a campeã do improviso. E incorporou a fórmula popularizada por oradores evangélicos brasileiros. Como um Grande Pastor, agora fala caminhando de um lado para outro. Já não faz discursos. Faz pregações. Não defende idéias. Enuncia dogmas. Não propõe. Decide. Não tem dúvidas a examinar. Só revelações a fazer.

Depois de quase quatro anos no poder, Lula enxerga em Lula um pregador iluminado. Essas coisas acabam mal.

Arquivo do blog