Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

Eliane Cantanhede - Sem mortos e feridos



Folha de S. Paulo
24/10/2006

Lula, caso reeleito, como é provável, vai ter que dar uma nova cara e uma nova dimensão ao seu governo, deformado pelos escândalos e pela conseqüente queda de seus homens de confiança no Executivo, no Legislativo e no PT.
Vai ter que deixar para trás a legião de mortos e feridos e tocar adiante, mantendo a agora essencial Dilma Rousseff e o ascendente Marco Aurélio Garcia, recolhendo velhos nomes que saíram ilesos, como Ciro Gomes, e sobretudo providenciando novos nomes de onde não se esperem novos escândalos, como Nelson Jobim, Jorge Viana, José Sérgio Grabrielli. Duro vai ser pescar nas águas turvas do PMDB, mas não tem jeito.
Além de recomeçar sem o time titular, Lula vai ter de admitir um estelionato eleitoral, coisa já quase rotineira no Brasil. Em 1986, Sarney lançou o Plano Cruzado 2, com choque fiscal, fim do congelamento de preços e aumento de combustíveis e tarifas públicas. Em 1998, FHC segurou o câmbio sobrevalorizado para além dos limites da responsabilidade, só flexibilizando depois de reeleito. Agora, Lula vai ter que prorrogar CPMF e DRU, engavetar promessas de redução de impostos e já preparar os ânimos para um aumento menor do salário mínimo a partir de 2007.
"Um senhor desafio", diz o economista Raul Velloso, conhecido expert em contas públicas. Mas o pior não é refazer a equipe e ajeitar o cobertor curto enquanto articula uma base minimamente confiável de apoio parlamentar. O pior é enfrentar tudo isso num ambiente pesado na área ética, a mais ferida durante o primeiro mandato.
O dossiê paira como fantasma. Lula tem muitos batalhas pela frente, especialmente nos primeiros meses, mas a prioridade é manter sua popularidade, é alimentar a crença de milhões de eleitores que só vêem o que querem ver. Tempos difíceis virão. Eles, os eleitores, serão seu maior aliado.

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