Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 08, 2006

DORA KRAMER

Como uma onda sem mar

Tucanos esperavam mais das pesquisas para alimentar 'onda' contra Lula

dora.kramer@grupoestado.com.br

A primeira pesquisa de intenções de voto do segundo turno frustrou as expectativas dos adversários do presidente Luiz Inácio da Silva. O PSDB passou a semana confiando em pesquisas de rastreamento regional que indicavam que no Nordeste era impossível piorar a situação de Geraldo Alckmin, mas mostravam também a ampliação da dianteira do tucano em Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Politicamente fortalecido com a decisão da eleição presidencial no segundo turno, Alckmin ficou, na primeira pesquisa, numericamente muito mais distante do candidato à reeleição do que indicavam as consultas regionais e sinalizava a onda de otimismo que tomou conta da oposição. Em dado momento, mais exatamente no dia seguinte à oficialização do resultado, os tucanos nutriram a esperança da segurança na virada certa.

Na sexta-feira à noite, quando o Datafolha divulgou a primeira pesquisa levando em conta só os finalistas, a oposição percebeu que começava a segunda etapa do mesmo tamanho que terminara a primeira: 7 pontos porcentuais atrás do adversário.

O peso das confusões patrocinadas pelo PSDB em suas articulações para alianças da reta final é uma hipótese ainda a ser medida. O fato nu e cru, por enquanto, é que o ânimo inicial foi contaminado pela possibilidade de a 'onda' pró-oposição se quebrar na praia.

A aliança PSDB-PFL ainda considera possível tirar a diferença e conta para isso com o empenho dos governadores eleitos de São Paulo, José Serra, e Minas, Aécio Neves. Alvos de desconfiança inicial entre os próprios aliados sobre a disposição real deles para eleger Alckmin, ambos já são objeto de análises onde são levadas em conta as perdas e os ganhos de cada um.

Internamente ninguém acredita que o PT vá se dedicar com afinco real à tarefa de acabar com o instituto da reeleição.

Se a reeleição se mantiver, Aécio fica numa posição privilegiada dentro do PSDB, pois em 2010 será o único tucano de expressão nacional inteiramente disponível. Não concorrerá mais à reeleição, embora possa disputar uma vaga no Senado.

Aécio fica livre enquanto Serra permanece retido à possibilidade de outro mandato pela frente, o que o prenderia ao Palácio dos Bandeirantes pela mesma lógica que o impeliu a concorrer ao governo: a manutenção do poder no maior Estado da Federação e a interdição do acesso a ele pelo PT.

Nessa conta, conviria muito mais a Aécio do que a Serra a eleição de Alckmin para a Presidência da República. De onde se explica a promessa do governador de Minas de dar 60%, contra 40% no primeiro turno, dos votos de Minas a Geraldo Alckmin que, em São Paulo, credita sua dianteira ao próprio desempenho e à herança de Mário Covas, não ficando, na sua visão, a dever um só voto a José Serra.



Fim de linha

Em reunião de Executiva Nacional, o PFL pedirá amanhã abertura de processo disciplinar contra a candidata ao governo do Maranhão, a senadora Roseana Sarney. Motivo: o apoio ao presidente Lula, em ritmo de indiferença total à aliança nacional do pefelê com o PSDB.

O processo pode até não dar em nada nem resultar em expulsão, mas explicita a insatisfação com Roseana pela fidelidade a Lula, usando o horário e a estrutura do partido para tentar se eleger.

No PFL, a avaliação é a de que chega ao fim da linha a relação com a família Sarney. Que antes tinha o apoio, mas agora conta com a oposição do grupo do senador Antonio Carlos Magalhães.



Rumo novo

Depois de viver o mais tenso dos seus cinco mandatos como deputado, o petista Paulo Delgado perdeu a eleição em Minas, vítima do voto de 'opinião' contra o PT.

Agora, pensa fazer o que, segundo ele, deveria ter feito antes, mas não fez por noção de dever partidário: atracar seu barco em outro e ainda não escolhido porto.



Só depois

A despeito do discurso governista pedindo pressa para a conclusão das investigações sobre o dossiê Vedoin, a Polícia Federal usará o prazo legal para conclusão do inquérito. Levando em conta a prorrogação permitida, a data final é 15 de novembro.

O lema na PF hoje é trabalhar nem tão devagar que denote proposital leniência nem tão depressa que antecipe conclusões para antes do dia 29 de outubro. Por isso, o apego ao formalismo dos prazos é a melhor solução.



Máquina

Os funcionários na Petrobrás estão recebendo e-mails da direção da empresa 'informando' que, se votarem em Alckmin, contribuirão para pôr em risco seus empregos, pois o candidato do PSDB, dizem, vai privatizar a empresa.

Em Manaus, é disseminada a versão de que Alckmin acabará com a Zona Franca.

Se tiverem tutano e argumentos consistentes, os tucanos explicam-se ao eleitor com clareza e objetividade. Se não tiverem, sucumbirão ao que, quando era contra o PT em 2002, convencionou-se chamar de 'terrorismo eleitoral'.

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