Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 13, 2006

Dora Kramer - Esquentando os tamborins




O Estado de S. Paulo
13/10/2006

No horário eleitoral, o pugilato do debate sumiu das versões de Lula e Alckmin

A estréia dos programas eleitorais de rádio e televisão dos finalistas da eleição presidencial mostrou o presidente Luiz Inácio da Silva e Geraldo Alckmin ainda receosos de partir para a ofensiva pesada contra o adversário. Como se estivessem ambos esperando para ver a extensão e o peso do passo do oponente.

Os dois usaram o debate da TV Bandeirantes, mas nas versões que mais lhes convinham. E, pelo visto, nem à campanha de Lula nem à de Alckmin era conveniente explorar o clima quente de combate intenso em que transcorreu o programa.

Lula e seus correligionários passaram os últimos dias posando de agredidos, mas não levaram isso para o horário gratuito. Nada de vitimização, ao contrário.

Alckmin e seus aliados a semana toda celebraram a vitória da veemência sobre a apatia, mas ontem optaram pela moderação. Deixaram às falas de "populares" a apreciação positiva sobre o desempenho do candidato, que praticamente limitou-se ao uso da frase síntese sobre a origem do dinheiro encontrado com os petistas para pagar o dossiê da discórdia.

O programa não reproduziu os momentos mais fortes dos ataques de Alckmin e o fez com receio de transmitir excesso de agressividade do candidato. Segundo análise interna, o confronto pesado pode funcionar na hora do embate, mas fora daquele contexto denota arrogância e, sobretudo, grosseria.

De qualquer modo, os tucanos mostraram, em tela dividida, a fisionomia irritada e o nervosismo do presidente. Cenas cuidadosamente, como de resto não poderia deixar de ser, banidas do programa de Lula.

Na edição do programa petista, apareceu para o grande público que não viu o embate, mas verá duas vezes por dia o programa eleitoral, o estadista propositivo e professoral, "ensinando" ao oponente como se governa um país.

A título de vacina, Lula tocou no assunto do dossiê, mas como se fosse ele o maior interessado em descobrir quem urdiu uma trama para ele altamente prejudicial, numa inversão dos fatos cuja repetição muito possivelmente vai se sobrepor à realidade, caso não apareçam dados novos daqui até a eleição.

De um modo geral, na comparação dos dois primeiros programas, o de Alckmin foi melhor. No primeiro turno, o de Lula ganhou em todos os itens: forma, conteúdo, originalidade (a representação étnica dos apresentadores) e trilha sonora.

Agora, o tucano deixou de lado a maçante apresentação de credenciais do "moço bom de Pindamonhangaba" e, na estréia, usou melhor o tempo. Enquanto Lula gastou muitos minutos com a reprodução de falas do debate - talvez na suposição de que Alckmin fosse se valer desse recurso - e no mais repetiu o roteiro anterior, o tucano exibiu de tudo um pouco: fala direta ao espectador, promessas, cenas de dinamismo administrativo, depoimentos "populares", sem deixar de recorrer ao trunfo da pergunta: "De onde veio o dinheiro do dossiê?"

Nas trilhas sonoras de encerramento dos dois programas, os resumos dos conceitos a serem transmitidos ao eleitorado: Lula apela que o deixem trabalhar e completar sua obra e Alckmin aposta na comparação de condutas, ressaltando atributos como decência e confiabilidade.

Ausências bem marcadas nos primeiros programas: os apoios políticos tão cobiçados e procurados nos primeiros dias após o término do primeiro turno.

Muita coisa ainda está para ser mostrada e explorada nos horários eleitorais, ontem só foram exibidos aperitivos típicos da etapa inicial em que se esquentam os tamborins.

De qualquer modo, fica claro: no espaço diário de rádio e televisão os candidatos não querem se mostrar de muita briga, muito menos exibir as companhias com as quais andam na política. Exatamente o contrário do que fazem no cotidiano da campanha.

Neste aspecto, empatam no quesito artificialismo. E, nele, não vence necessariamente o melhor nem o mais convincente, mas o que contrata o produtor mais competente.

Batata

Na avaliação dos colegas - governistas e oposicionistas - de Aloizio Mercadante no Senado, seja qual for o resultado da eleição, chegue aonde chegar (se chegar a algum lugar) a investigação sobre o dossiê contra os tucanos, a segunda parte do mandato dele será marcada pela adversidade.

No mínimo, Mercadante está fadado a uma atuação muito discreta.

Recado

No oficial, as relações continuam boas. No paralelo, porém, o governo já fez chegar às Organizações Globo que o presidente Lula atribui a perda da oportunidade de ganhar a eleição no primeiro turno à atuação da empresa - aí incluídos todos os seus veículos - nos últimos dias antes da votação.

Máquina

Funcionários públicos que divulgam mensagens eleitorais para contribuir com a campanha de Lula via internet deveriam tomar o cuidado de usar e-mails particulares. Luciene.cordeiro@saude.gov.br e arone.alves@caixa.gov.br, por exemplo, não prestam um bom serviço à candidatura do presidente.

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