Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 04, 2006

Dora Kramer - Eleitos serão trunfo de Lula



O Estado de S. Paulo
4/10/2006

O presidente Luiz Inácio da Silva emprestou seu prestígio, e, em alguns casos, até pagou o preço da perda de espaço na propaganda gratuita para aparecer no horário de candidatos a governador e ajudá-los a ganhar a eleição e agora terá a retribuição.
Na reunião de hoje de manhã com governadores aliados eleitos no primeiro turno, Lula distribuirá tarefas a cada um deles, cuja função primeira será a de percorrer o País, compartilhando com o presidente candidato à reeleição o simbolismo de suas vitórias.
O mais precioso desses troféus, o homem que derrotou de virada Antonio Carlos Magalhães, o autoproclamado rei da Bahia e o opositor mais agressivo do presidente da República, Jaques Wagner, é apontado como substituto de Marco Aurélio Garcia na coordenação-geral da campanha.
Ele nega e avisa que, se convidado, não aceitará. Isso ele dizia ontem depois de uma reunião pela manhã com o presidente no Palácio da Alvorada, antes de uma nova conversa à tarde e muito antes do encontro dos eleitos com Lula.
Essa reunião, aliás, inaugura oficialmente a renovação da parceria com o PMDB, pois lá devem estar também os vitoriosos do partido em primeiro turno.
Wagner acha que pode contribuir mais na rua, em busca de votos - "Fazendo discurso em São Paulo, por exemplo" -, do que fechado num gabinete de coordenador em Brasília, dando ordens e administrando problemas.
Além do trunfo da mais vistosa vitória petista da temporada, Jaques Wagner integra o grupo dos petistas não contaminados pelos escândalos, como também fazem parte dele os governadores eleitos de Sergipe, Acre e Piauí.
Como Lula precisa abrir espaço de atuação em campo moralmente desinfetado e também necessita readquirir terreno no tocante à expectativa de vitória, os governadores já vitoriosos funcionam como cabos eleitorais de primeira grandeza e ainda podem retribuir a ajuda recebida no primeiro turno.
Ainda que não assuma mesmo o posto de coordenador, Jaques Wagner estará entre os conselheiros mais próximos do presidente na campanha do segundo turno.
Ele é contra "pirotecnias" de qualquer natureza, acha que Lula deve tocar a campanha como vinha fazendo até então, mas baixando um pouco o tom. "Humildade nunca é demais", diz Wagner.
Não vê espaço para grandes invenções para ganhar votos, além do que já vinha sendo feito: reforço na agenda positiva, de realizações do governo, e empenho na comparação com o antecessor para atingir Geraldo Alckmin.
Mas, e os efeitos do dossiê? Jaques Wagner aposta que vão se enfraquecer. Tem até uma frase pronta para demonstrar menosprezo aos prejuízos do escândalo: "É mais do mesmo." Por via das dúvidas, não deixa o curso dos acontecimentos nas mãos do acaso e trata de atacar o adversário: "O eleitor vai perceber que não serão o PSDB e o PFL que darão aulas de pós-graduação em moralidade." O problema talvez resida no fato de o eleitor ter acreditado que o PT, então, assumiria na matéria o papel de professor e não o do aluno transgressor.

Agora é o presidente quem vai se valer do prestígio de aliados vitoriosos

A musa
A mulher de Jaques Wagner, Maria de Fátima de Mendonça, tem todo o instrumental para assumir em breve o posto de musa da estação.
Bonita, falante, politicamente atuante, dividiu com o marido o palanque, apareceu três vezes no horário eleitoral e recebeu de Lula o reconhecimento por uma parte da vitória baiana.
Amiga quase irmã do presidente - foi também chegada a Leonel Brizola ( "tio Briza" ) -, vira onça quando se fala mal dele. É louca por sapatos (ontem os calçava vermelhos de verniz, em modelo meia bota), tem predileção por observar em detalhes os trajes das noivas em casamentos e, não sendo educado qualificá-la como ciumenta, digamos que cerca de acentuado zelo o companheiro. É personagem emergente desta eleição.

Pé atrás
O candidato Geraldo Alckmin gostou, é claro, de ter recebido apoio de Anthony Garotinho e de sua mulher, Rosângela Matheus, governadora do Rio de Janeiro.
Mas não recebeu sem alguma preocupação.
Assessores de campanha fizeram discretas sondagens para saber como seria a repercussão do anúncio. Acabaram concluindo que vale mais a máxima segundo a qual apoio não se recusa e avaliaram que se Lula não pagou preço pelo apreço manifestado por Fernando Collor, Alckmin também não pagaria pela simpatia da família Garotinho.
Além do mais, o tucano precisa de votos no Estado do Rio, pois a candidata ao governo Denise Frossard teve bom desempenho, mas faz sucesso basicamente na capital.

Armadilha
Corre no PT a versão de que o dossiê Vedoin foi uma armadilha montada pelo Ministério Público de Mato Grosso. O partido só não investe na história porque, se arapuca foi, seus "aloprados" caíram nela, tornando-se cúmplices.

Arquivo do blog