Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 04, 2006

Clóvis Rossi - Candidatos de plástico




Folha de S. Paulo
4/10/2006

Se ainda fosse necessário, as primeiras entrevistas dos dois finalistas já mostraram que correm sério risco de frustração e desencanto aqueles que esperam debates de verdade e apresentação de propostas de verdade no segundo turno.
O marketing político é hoje tão poderoso que tanto Luiz Inácio Lula da Silva como Geraldo Alckmin parecem de plástico, repetindo bordões que sabem ser o que esperam seus eleitores e, ao mesmo tempo, não agridem os eleitores dos outros.
Alckmin ataca de "o Brasil pode fazer mais" (todo mundo pode, sempre) e de "ética e política não são incompatíveis", tese controversa, ao menos no Brasil. Lula vai encadear a sua série de "nunca neste país...".
Como seria bom se os dois tivessem um lampejo de sinceridade e deixassem ver a alma, como aconteceu com o presidente na entrevista que deu a um pequeno grupo de jornalistas, a bordo do avião, reproduzida nesta Folha pela colunista Mônica Bergamo.
Disse Lula: "A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém em meu governo". Uma frase, duas revelações, ainda que uma desnecessária. Primeira revelação (conhecida): os ricos é que realmente ganharam dinheiro em seu governo. Logo, a imagem de "pai dos pobres" é pura demagogia.
Os números dão razão a Lula: R$ 110 bilhões para remunerar os detentores dos títulos da dívida pública (todos ricos, alguns podres de ricos) e apenas R$ 7 bilhões para o Bolsa Família, destinados aos pobres entre os pobres. A segunda revelação é o incontido desejo, típico em novo rico, de ser querido e amado pelos "velhos ricos". Não há mal nisso. É humano. O mal está em apresentarem-se, ambos, como se fossem de plástico.

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