Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 15, 2006

DANIEL PIZA

Dez anos, vinte listas

Daniel Piza

Para comemorar dez anos desta coluna, dois terços deles neste local, decidi fazer listas do que li, vi e ouvi de bom no período, baseado em meus próprios balanços anuais de 1996 até agora. Excluí das listas as reedições ou relançamentos e, no caso dos livros, as novas traduções de clássicos. Atenção: são dicas de obras de arte e pensamento que me deram prazer, não uma lista dos “melhores”, cânone ou o que quer que seja. Que sirva ao menos para mostrar que existe energia na vida cultural recente:

Dez romances de autores estrangeiros: Reparação, de Ian McEwan; Doces Sonhos, de Doris Lessing; Desonra, de J.M. Coetzee; O Animal Agonizante e A Marca Humana, de Philip Roth; Realidade e Sonhos, de Muriel Spark; Mason & Dixon, de Thomas Pynchon; Submundo, de Don DeLillo; O Paraíso na Outra Esquina, de Mario Vargas Llosa; Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez.

Cinco romances de autores brasileiros: Dois Irmãos e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum; O Piano e a Orquestra, de Carlos Heitor Cony; Budapeste, de Chico Buarque; Mongólia, de Bernardo Carvalho.

Dez biografias: Pablo Picasso, de John Richardson; Tchecov, de Donald Rayfield; Keats, de Andrew Motion; Keynes, de Robert Skidelsky; Isaac Newton, de James Gleick; Goya, de Robert Hughes; Stalin, de Volkogonov; Beethoven, de Lewis Lockwood; Matisse, de Hilary Spurling; De Amor e Trevas, de Amós Oz.

Três livros de poesia: Birthday Letters, de Ted Hughes; Muitas Vozes, de Ferreira Gullar; Cinco Marias, de Fabrício Carpinejar.

Dez livros sobre ciência: O Mistério da Consciência, de Antonio Damasio; Como a Mente Funciona, de Steven Pinker; O Ambientalista Cético, de Bjorn Lomborg; Armas, Germes e Aço e Colapso, de Jared Diamond; O Relojoeiro Cego, de Richard Dawkins; Os Fantasmas do Cérebro, de V.S. Ramachandran; Science, de John Gribbin; O Que nos Faz Humanos, de Matt Ridley; Breve História de Quase Tudo, de Bill Bryson.

Dez livros de história brasileira e mundial: Maldita Guerra, de Francisco Doratiotto; Ilusões Armadas, de Elio Gaspari; Um Imenso Portugal, de Evaldo Cabral de Mello; Cidadania no Brasil, de José Murilo de Carvalho; Cinco Dias em Londres, de John Lukacs; The First World War, de Hew Strachan; Tempos Interessantes, de Eric Hobsbawm; Para Entender Hitler, de Ron Rosembaum; Tempos muito Estranhos, de Doris Kearns Goodwin; Cadeia de Comando, de Seymour Hersh.

Dez livros de ensaios culturais: Paisagem e Memória, de Simon Schama; Nenhuma Paixão Desperdiçada, de George Steiner; American Visions, de Robert Hughes ; The Metaphysical Club, de Louis Menand; No Coração do Mar, de Nathanael Philbrick; O Atiçador de Wittgenstein, de David Edmond e John Eidinow; A Geração Romântica, de Charles Rosen; A Era dos Festivais, de Zuza Homem de Mello; O Século da Canção, de Luiz Tatit; Futebol - O Brasil em Campo, de Alex Bellos.

Dez filmes de diretores estrangeiros: Fargo, dos irmãos Coen; Razão e Sensibilidade, de Ang Lee; Tudo sobre Minha Mãe, de Almodóvar; Em Busca do Tempo Perdido, de Raoul Ruiz; O Quarto do Filho, de Nani Moretti; Mulholland Drive, de David Lynch; O Pianista, de Roman Polanski; As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand; Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood; Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michael Gondry e Charlie Kaufmann.

Cinco filmes de diretores brasileiros: Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho; Cidade de Deus, de Fernando Meirelles; O Invasor, de Beto Brant; Carandiru, de Hector Babenco; Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.

Cinco documentários em cinema ou TV: Nelson Freire, de João Moreira Salles; Paulinho da Viola, de Izabel Jaguaribe; Ingmar Bergman, de Marie Nyreröd; Jazz, de Ken Burns; Blues, de Martin Scorsese.

Cinco filmes infantis: Shrek; Monstros S.A.; Procurando Nemo; Os Incríveis; Viagem de Chihiro.

Dez discos internacionais de canção (jazz e pop): Punishing Kiss, de Ute Lemper; Painted from Memory e North, de Elvis Costello e Burt Bacharach; For the Stars, de Anne Sofie von Otter e Elvis Costello; Alice, de Tom Waits; Bebo & Cigala; The Girl in the Other Room, de Diana Krall; Careless Love, de Madeleine Peyroux; Hail to the Thief, do Radiohead; Get behind me Satan, de White Stripes.

Cinco discos de música erudita: Suítes para Violoncelo de Bach, de Antonio Meneses; Nelson Freire (Great Pianists); Sinfonias de Beethoven, Claudio Abbado e Filarmônica de Berlim; Sonatas para Piano de Schubert, com Alfred Brendel; Angels Hide Their Faces, de Dawn Upshaw.

Cinco discos de MPB: Songbook de João Donato; Casa (Tom Jobim), de Riyuchi Sakamoto e Jacques Morelembaum; North and South, de Luciana Souza; 4, de Los Hermanos; Cru, de Seu Jorge.

Cinco shows inesquecíveis em São Paulo: John Pizzarelli; Yamandú Costa, Armandinho e Paulo Moura; Jason Moran; Brad Mehldau; Ibrahim Ferrer.

Dez concertos inesquecíveis em São Paulo: Pierre Boulez; Cecilia Bartoli; Yo-Yo Ma; Quarteto Alban Berg; Filarmônica de Viena, com Simon Rattle; Nelson Freire com Martha Argerich; Daniel Barenboim; Rostropovitch; Yehudi Menuhin; Joshua Bell.

Cinco exposições montadas em São Paulo: 23ª Bienal Internacional (1996); retrospectiva de Frans Weissmann; A Arte da África; Miguel Rio Branco; Cristiano Mascaro.

Cinco peças montadas em São Paulo: A Gaivota, de Chekhov, com Fernanda Montenegro; A Importância de Ser Fiel, com Grupo Tapa; Master Class, de Terrence McNally, com Marília Pêra; A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, com Marco Nanini; Rei Lear, de Shakespeare, com Paulo Autran.

Cinco programas da TV brasileira: Comédia da Vida Privada, Memórias de um Sargento de Milícias e O Auto da Compadecida, de Guel Arraes; Os Maias e Hoje É Dia de Maria, de Luiz Fernando Carvalho.

Cinco coisas que não cabem nas listas acima: a maioria dos espetáculos do Grupo Corpo; The Complete New Yorker, em oito DVDs; as séries de TV Os Sopranos e Sex and the City; o álbum À Sombra das Torres Ausentes, de Art Spiegelman.

POR QUE NÃO ME UFANO

No debate de domingo passado, Geraldo Alckmin foi mais incisivo do que vinha sendo e tentou expor o comportamento omisso de Lula como presidente. Lula sentiu o golpe. Estava nervoso e precisou ler para fazer as perguntas. Perdeu, mas também marcou alguns pontos, em especial ao se valer da comparação entre São Paulo - Alckmin falou demais em São Paulo - e o Brasil, como na referência às 11 milhões de casas beneficiadas com a Bolsa Família. Também insistiu na estratégia de se medir o tempo todo com o governo Fernando Henrique Cardoso, ciente de que boa parte da população acha que ele merece ficar oito anos como seu opositor ficou. Alckmin, além da linguagem nem sempre cristalina, não consegue se desvencilhar do “vocês” que Lula usa e abusa ao se referir ao governo do antecessor. Nem sequer se deu ao trabalho de lembrar o quanto as exportações de hoje devem às privatizações de ontem e falou pouco sobre o programa de governo, embora tenha mencionado corte de impostos.

Não à toa o PT, novamente usando a técnica alarmista de que antes era vítima, passou a semana tentando dizer que ele vai fazer coisas que não pretende. A sensação, porém, é a de que não existe muita diferença. Ainda que a maioria das pessoas trate o panorama como se o voto do pobre fosse ou menos qualificado porque ignorante ou mais qualificado porque carente, os dois candidatos parecem que estão brigando para ver quem vai fazer o governo FHC IV (o FHC I foi de 1995 a 1998, o FHC II de 1999 a 2002 e o FHC III de 2003 até o momento)... E, sendo assim, com a popularidade que tem, a tendência continua a ser a de que Lula vença. Tanto é que o Datafolha mostrou que Alckmin, embora tenha “vencido” o debate para mais pessoas (43% a 41%), não consegue angariar mais votos. Na verdade, passado o efeito do dossiê Vedoin, o tucano vem perdendo eleitores, em parte porque os de Heloísa Helena e Cristovam Buarque seguem o PT na maioria, em parte porque muitos que votaram para que houvesse segundo turno agora se sentem mais à vontade para escolher Lula.

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