Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 20, 2006

CLÓVIS ROSSI Hipótese maldita

SÃO PAULO - Pelo menos na sabatina desta Folha, na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muitíssimo mais sensato que alguns dos pitbulls que o cercam ao admitir que, se o dinheiro para a compra do dossiê tiver saído de sua campanha, ele terá que pagar o preço, porque caracterizar-se-ia "crime eleitoral". Punível com a impugnação da candidatura.
Nessa hipótese, requerê-la não seria "golpismo", mas mero cumprimento da lei, a que todos estão sujeitos, inclusive o presidente da República.
A sensatez de Lula não impede, no entanto, constatar o tremendo imbróglio a ser gerado, a começar pela pergunta óbvia: o Brasil é suficientemente sólido do ponto de vista institucional para suportar a decapitação de um presidente recém-reeleito?
É importante saber que, nessa hipótese, não entra Geraldo Alckmin, mas será convocada nova eleição direta, a qual Lula não poderá concorrer. Se o afastamento do presidente se der na segunda metade do mandato, a eleição será indireta (pelo Congresso Nacional).
A hipótese de que o caso se arraste por dois anos ou mais não é descabelada, não. Fernando Rodrigues lembra que Ronivon Santiago, sobre o qual pesavam evidências contundentes, manteve o mandato por três anos.
Tudo somado, há o risco de que a maldição do segundo mandato, de que tanto se falou, seja mais maldita do que jamais se imaginou.
No noticiário sobre a sabatina desta Folha com o presidente, faltou registrar uma promessa (ou "ameaça", ao gosto do freguês) feita quando os gravadores já estavam desligados ou sendo desligados: "Vou encher a paciência de vocês de tanto dar entrevistas" [no eventual segundo mandato]. Paciência não foi exatamente a palavra empregada, mas vale o registro.

Arquivo do blog