Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

Clóvis Rossi - A civilização e a minha rua



Folha de S. Paulo
24/10/2006

Não podia jamais imaginar que tivesse partido de John Major, o herdeiro do maior totem do neoliberalismo (Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra britânica), uma iniciativa intervencionista, contrária por definição ao liberalismo puro e duro.
Refiro-me às limitações impostas por Major à expansão das grandes superfícies (shoppings, megalojas de departamentos) para evitar que mate o comércio de rua (não, não se trata de camelôs). A informação está na preciosa entrevista que o excelente repórter Raul Juste Lores fez com o arquiteto britânico Richard Burdett, publicada ontem na Ilustrada.
O comércio de rua, muito característico das cidades européias, representa a humanização da vida urbana, pelo menos para o meu gosto. Você, com o tempo, sabe o nome e a história de vida tanto do "quiosqueiro" que vende o jornal do dia como do dono/dona da padaria em que compra o pão.
Supermercados, com todas as vantagens que oferecem em matéria de preços mais baixos e de diversidade de produtos, acabam sendo linha de montagem impessoal.
No Brasil, ou ao menos em São Paulo, a vendinha da esquina, a quitanda, o sapateiro foram todos atropelados, exceto em ruas especificamente comerciais de cada bairro. É diferente, por exemplo, de uma mercearia no andar térreo de um edifício residencial.
Na vizinhança de casa, o único pequeno (aliás não tão pequeno) negócio é uma loja de material de construção, obviamente de freqüência muito esporádica. Já em Madri, minha mais recente residência no exterior, havia "jamoneria", peixaria, padaria, pequeno supermercado, farmácia, tinturaria, agências bancárias, pequenas imobiliárias e muito mais -tudo ao alcance da vista na "minha" rua.
Suspeito de que esse modelo torne as cidades menos inóspitas. Só não sei se terá longa vida.

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