Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 10, 2006

Clóvis Rossi - A assombração




Folha de S. Paulo
10/10/2006

É complicada a vida de um governante que, chamado reiteradamente de mentiroso por seu principal oponente do momento, não consegue demonstrar, em momento nenhum, que quem mente é o acusador. Aconteceu domingo com Luiz Inácio Lula da Silva ante um Geraldo Alckmin subitamente transformado de "picolé de chuchu" em atirador de facas.
O debate da Band serviu para demonstrar, uma vez mais, que, apertado, Lula entrega os companheiros sem a menor cerimônia para tentar livrar-se do fantasma que persegue o seu governo e o seu partido. Já havia ocorrido em entrevistas a William Bonner/Fátima Bernardes e, antes, a Pedro Bial, todos da Globo.
O presidente entrega seus auxiliares e seus amigos para poder refugiar-se no cantochão de que não pode saber de tudo o que acontece nos cantos de seu governo, em especial, os cantos escuros, que não são poucos.
Mesmo que seja verdadeiro, o argumento tem, por baixo, por baixo, dois graves inconvenientes:
1 - Dá a Alckmin um habeas corpus preventivo. Se Lula não sabe do que se passa em seu próprio governo, como Alckmin poderia saber, ainda mais quando a suspeita recai sobre governo alheio (no caso o de Fernando Henrique Cardoso)?
2 - Permite a dúvida que foi explicitada na pergunta do jornalista Franklin Martins. Se Lula não sabe das coisas, quem pode garantir que, no futuro, não se repitam os crimes cometidos (e confessados) às costas do presidente? Pior: quem pode garantir que neste exato minuto algum "aloprado", como diz Lula, não esteja tramando algum novo trambique em alguma sala do próprio Palácio do Planalto?
Significa dizer que a assombração continuará pairando sobre um eventual segundo governo Lula, mesmo que não seja suficiente para impedir agora a sua vitória.

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