O Estado de S. Paulo |
11/10/2006 |
Quando o presidente Lula inventa novo personagem, como o tal "delegado de porta de cadeia", figura desconhecida nestas paragens, tudo é levado na galhofa, como mais uma incursão presidencial no domínio da confusão de linguagem, campo em que era imbatível o inolvidável presidente do Corinthians Vicente Matheus. Mas quando um economista que trabalhou ativamente na elaboração do Programa de Governo de um candidato à Presidência da República tasca uma declaração sem pé nem cabeça, em áreas tremendamente sensíveis, como câmbio e juros, a reação das pessoas resvala para a preocupação com o futuro. Ontem, o professor Yoshiaki Nakano (foto), da Fundação Getúlio Vargas, um dos principais integrantes da equipe de Política Econômica do candidato Geraldo Alckmin, fez afirmações que, se fossem levadas às últimas conseqüências, produziriam um terremoto. Disse ele ontem, em seminário na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que "a política monetária deve ser usada para equilibrar a conta de capitais". O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central Alexandre Schwartsman, agora no cargo de economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Bank, tratou o assunto com ironia: "Essa idéia é uma invenção do Yoshiaki." E acrescentou: "Não adianta se estabelecer uma meta de inflação se os juros estiverem sendo usados para controlar a conta de capitais. Sou obrigado a recorrer ao papa Bento XVI, que diz que sem Deus essa conta não fecha." Política monetária (ou política de juros) é o fole pelo qual o Banco Central injeta ou retira dinheiro do mercado. Pela política adotada, o Banco Central só tem um critério para acionar os juros: é garantir a meta de inflação fixada pelo governo. Se a inflação tende a resvalar para baixo da meta, o Banco Central deve injetar mais dinheiro na economia (reduzir os juros); se tende a superar a meta, deve retirar dinheiro (aumentar os juros). Enfim, mais oxigênio despejado pelo fole reaviva o fogo; menos oxigênio, reduz o fogo. O que o professor Nakano está dizendo é que os juros têm de ser derrubados até chegarem aos níveis dos juros externos, não para cumprir meta de inflação, mas para impedir que capitais especulativos entrem ou permaneçam no País para tirar proveito da diferença de juros internos mais altos. Essa decisão implica, em princípio, mudança radical na política de metas de inflação. Ou seja, a política monetária seria manejada para obter outra meta, o equilíbrio da conta de capitais. E o que fazer para controlar a inflação? Para Nakano, o controle deve ser obtido por meio da política fiscal, que é outro fole do governo, o que lida com receitas e despesas públicas. Aparentemente, a idéia de Nakano é dar um tranco nas despesas públicas de modo a que sobrem recursos para pagamento de parcelas maiores da dívida, o orçamento se reequilibre e a inflação seja controlada sem necessidade de puxar os juros. Nesse caso, os juros cairiam sem artificialismos, a política monetária continuaria sendo usada para calibragem da meta, sem necessidade de usá-la no controle do fluxo de capitais. Examinada por outro ângulo, a proposta de Nakano contém um diagnóstico certo e outro errado. O diagnóstico certo é o de que a principal causa da inflação é fiscal, é a gastança do governo federal. O diagnóstico errado é o de que o dólar despencou porque os especuladores estão abusando das operações de arbitragem com juros: estão tomando empréstimos externos em dólares a juros baixos para aplicar em reais a juros altos. Daí a inundação de dólares que derruba as cotações do câmbio. Sobre o diagnóstico correto, não há o que acrescentar. Sobre o errado, há a relembrar que, em 12 meses, os juros básicos (Selic) já caíram 5,5 pontos porcentuais. Deveriam ter produzido algum efeito no câmbio e, no entanto, o dólar segue escorregando - apesar das compras do Banco Central. De mais a mais, não se nota nada de anormal na conta de capitais que explique a valorização do real diante do dólar. A principal causa desse fenômeno é a exuberância das exportações, que neste ano vão proporcionar um desempenho ainda melhor do que o do ano passado na conta de comércio (exportações menos importações), apesar desse câmbio aí. Geraldo Alckmin percebeu o poder incendiário da declaração de Nakano e não vacilou em desautorizá-lo: "Pelo meu governo só falo eu". |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 11, 2006
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