Celso Ming celso.ming@grupoestado.com.br
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que a pilha de reservas externas atingiu a marca dos US$ 75 bilhões. Isso significa que, antes do final deste ano, chegarão a US$ 80 bilhões e daí a US$ 100 bilhões será um tirico de espingarda.
Isso está acontecendo em plena campanha eleitoral. Na anterior (2002), havia fuga de capitais, as reservas minguavam, o dólar chegou a R$ 4 e o prêmio de risco bateu nos 2.144 pontos (hoje, está nos 210).
Os grandes incentivadores de que o Banco Central se dedicasse à formação de reservas foram os exportadores. Para eles, as compras de dólares são a melhor forma de impedir a derrubada das cotações do dólar no câmbio interno.
Só não entra nas contas deles o efeito colateral do giro dessa roda. À medida que o Banco Central vai acumulando reservas, aumenta a confiança externa nas condições da economia, cresce o chamariz para aplicações em títulos brasileiros, mais cairá o prêmio de risco, maiores serão as condições para a derrubada interna dos juros, maior a tendência para a queda das cotações do dólar... e a roda terá completado um giro de 360 graus.
Como faz todas as segundas-feiras, ontem o Ministério do Desenvolvimento divulgou o resultado da balança comercial da semana anterior. Quem imaginava que o feriadão da semana passada derrubaria as exportações deve ter-se surpreendido quando conferiu um superávit semanal acima de US$ 1 bilhão.
Este ano comercial vai fechar com um saldo positivo (exportações menos importações) ao redor dos US$ 46 bilhões. Com essa exuberância exportadora, não há o que impeça a valorização do real, a não ser que seja providenciado um empurrão extra às importações.
Um dos equívocos mais disseminados na praça é o de que a queda dos juros tenderá, por si só, a reverter a trajetória do câmbio. Vai mesmo chegar o ponto em que todos os fundamentos da economia estarão no seu devido lugar e aí os juros poderão trabalhar a favor da desvalorização cambial. Mas, enquanto isso não acontecer, a tendência continuará sendo de valorização do real.
A US$ 100 bilhões de reservas, por exemplo, praticamente desaparecerá o risco de calote. O grau de investimento para a dívida brasileira estará bem mais próximo, o proprietário de capital estrangeiro perderá o medo de investir no Brasil, mais recursos chegarão - e não serão para especular.
Quem está defendendo a desvalorização cambial como recurso para puxar o crescimento econômico tem antes de responder a três perguntas:
(1) Como reorganizar os atuais pilares da economia (câmbio flutuante, meta de inflação e formação de superávit primário de 4,25% do PIB)?
(2) Como evitar que o real desvalorizado (supondo-se que essa desvalorização se faça sem problemas) incentive ainda mais as exportações e continue seu jogo de derrubar as cotações do dólar no câmbio interno?
(3) Onde arrumar R$ 100 bilhões para que o Banco Central siga amontoando reservas da ordem de US$ 40 bilhões por ano - supondo-se que tenha de comprar a R$ 2,50 por dólar?