Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 14, 2006

Augusto Nunes

Sete Dias

15/10/2006
jb
augusto@jb.com.br


Os estafetas do reino

O serviço dos estafetas do reino, dirigido pelo ministro Tarso Genro, capricha na difusão da mensagem malandra: debates na TV se prestam a discussões sobre planos de governo, não a denúncias. Traduzida para língua de gente, a mensagem quer dizer que Lula quer mais espaço para gabolices ou promessas inviáveis - e nenhum minuto para incursões pela roubalheira.


O Grande Pastor não está interessado em debater projetos sérios - até por falta de. O que deseja é pendurar-se na discurseira, e sem interrupções incômodas.


''Posso ter errado de não ter dado entrevista'', claudicou Lula na Rádio Bandeirantes. ''Só que poucos presidentes fizeram a quantidade de discurso que eu fazia''. O boxeador convalescia das pancadas sofridas horas antes. Mas não estava grogue. No dia seguinte, repetiu o recado.


Na abertura da conversa com jornalistas de O Globo, pediu ''uma entrevista menos ideológica e mais programática''. Preferia, claro, declamar maluquices, liberado de contestações. Por exemplo: ''O Brasil vai crescer mais de 5% ao ano, sem novas reformas, sem cortar gastos, sem privatizações, sem diminuir o tamanho da máquina estatal''. Desses milagres Lula gosta de falar. Detesta é entrar no terreno pantanoso da Ética.


Para contorná-lo, os estafetas de Tarso difundem mentiras sobre o adversário, simulam armazenar acusações inexistentes e embaralham dados do Ibope e do Datafolha. Alckmin venceu o debate na Bandeirantes, certo? Mas perdeu pontos no Ibope e no Datafolha, certo? Portanto, o eleitorado não gostou da tática, usada pelo ex-governador, que levou Lula às cordas - e à ante-sala do nocaute.

Se sucumbir à falácia, Alckmin merecerá a mais contundente das derrotas. O ex-governador tem o dever de apresentar projetos e diretrizes que o diferenciem de Lula. Mas sem abandonar as perguntas e cobranças atravessadas nas gargantas do Brasil que pensa. De onde veio o dinheiro do dossiê da vigarice? Por que o presidente não divulga os números da gastança com os cartões de crédito usados por perdulários de estimação e pela Primeira-Família?


É muito assunto para pouco debate. Como registrou Arnaldo Jabor, já se viu o essencial no interminável cortejo dos patifes. ''Tudo foi decifrado, a verdade foi descoberta, todos os crimes estão desvendados, os culpados são conhecidos, tudo está decifrado, mas o governo nega e Lula ignora''.


Por que o Judiciário permanece inerme? Eis aí um bom tema para o próximo debate.


Cabôco Perguntadô

Comovido com as lamúrias de Lula, o Cabôco resolveu admitir a tese segundo a qual um presidente da República não pode saber de tudo (nem mesmo da roubalheira na sala ao lado). Já um pai de família, pondera o craque das perguntas, não pode ser tão distraído.


A interrogação, portanto, é dirigida não ao chefe de governo mas ao chefe de família: Lula achou que Lulinha ganhara aquela bolada de R$ 4 milhões da Telemar por ser o Primeiro-Filho ou um jovem gênio da linguagem virtual?


Yolhesman Crisbelles

Criada também para premiar delírios retóricos, a taça da semana vai para a professora Marilena Chauí, que já tinha dois Yolhesman na sala de troféus. Ganhou o terceiro ao explicar o que é privatização:

Significa, primeiro de tudo, a entrada na área de educação de grupos empresariais norte-americanos e ingleses, que não são grupos educacionais, mas empresas que criam franquias no mundo inteiro.

Beleza, professora. Agora ficou tudo muito claro.


Sai o menino, fica o maluquinho

A última do Ciro Gomes: se o inimigo assumir o poder central, adverte o ex-ministro de Itamar Franco e Lula, ''o Brasil sofrerá um processo de venezuelização''. O bravo cearense não explicou direito o que é isso. Pelo tom de voz, parecia coisa muito grave.

Aos 30 e poucos anos, Ciro ganhou o apelido de Menino Maluquinho. O tempo passa. Agora só vale o adjetivo.


A infâmia interminável

Um dos executores da Chacina da Baixada, Gilmar da Silva Simão, cabo da PM do Rio de Janeiro, não pôde contar tudo o que sabia sobre a noite da infâmia. Na terça-feira, ao sair da delegacia onde começara a depor, foi liquidado com 15 tiros. Até os quepes dos policiais encarregados de investigar o caso conhecem os responsáveis pela queima do arquivo. É só ir lá e prender.


Olha a biografia, Excelência

Na presidência da CPI dos Sanguessugas, o deputado Antônio Carlos Biscaia, do PT fluminense, comportou-se como homem de bem. No começo da semana, saiu da linha: resolveu empurrar para depois do segundo turno depoimentos de alguns bandidos do escândalo do dossiê.

Biscaia não foi reeleito. Perder a eleição não obriga ninguém a perder a vergonha.


À disposição dos gatunos

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional constatou que, nos últimos 20 anos, mais de mil obras de arte desapareceram de museus, igrejas, bibliotecas e arquivos. Não se sabe quantas escaparam dos ladrões: cerca de 500 mil peças nem sequer foram inventariadas. Que tal se a Polícia Federal começasse a investigar certos colecionadores especialmente vorazes?


Entre o mato e a capoeira

Está decidido: se Márcio Thomaz Bastos não continuar no Ministério da Justiça, será substituído por Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e fundador da Pastoral Companheira.


Márcio tenta adiar para o próximo século o fim das investigações sobre o dossiê. Jobim, se assumir o cargo, é capaz de engavetar o assunto e condecorar os bandidos.

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