"Alckmin, sem o dossiê ou uma provocação
terrorista do PT, parece incapaz de alçar-se
acima de dolorosas platitudes"
A melhor coisa que aconteceu na campanha de Geraldo Alckmin foi o escândalo do dossiê – e não porque o catapultou para a disputa no segundo turno, ao refrescar a memória do eleitorado sobre o alcance do banditismo petista, mas simplesmente porque lhe deu um assunto. Examinando-se sua campanha no segundo turno, percebe-se que, quando o dossiê sai do foco central do noticiário, Alckmin precisa que o próprio PT se encarregue de colocar alguma coisa no lugar – as mentiras sobre privatização, a falsa divisão entre ricos e pobres, o que for. Se isso não acontece, Alckmin parece ficar desorientado quanto ao que dizer. Parece que tudo o que lhe ocorre é pedir ao eleitorado um cheque em branco para os próximos quatro anos, pois não diz nada que seja esclarecedor – e não deixa os outros dizerem. Alckmin, sem o dossiê ou uma provocação terrorista do PT, parece incapaz de alçar-se acima de dolorosas platitudes. Coisas assim:
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Alckmin disse que "o Brasil pode ir melhor, pode ir mais rápido, pode avançar mais". Também disse que, se eleito, vai "fazer um bom mandato de quatro anos" e que vai "trabalhar para melhorar a vida do povo". No debate no SBT, fez o seguinte raciocínio: "O Brasil está com a receita errada. Nós vamos trabalhar para pôr a receita certa. O governo não pode ser caro, pesado, mas tem de ter ativismo econômico. Estabilidade não é plano econômico. Plano econômico é crescimento. O Brasil pode mais e merece mais". Entendeu agora como seria um governo Alckmin? Dias antes, em seu programa eleitoral, o tucano disse que "o novo presidente tem de ter a coragem de mudar o que está errado, tem de ter capacidade para atrair investimento para cá, trazer os empregos aqui para o nosso país. É assim que eu vou agir como presidente". Entendeu agora?
Na quarta-feira, a jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, escreveu em sua coluna um comentário sobre a entrevista que fizera com Alckmin no dia anterior. Ela conta que, diante das críticas do tucano à política macroeconômica, perguntou o que ele faria diferente. Alckmin respondeu que faria uma política de "câmbio flutuante administrado". A jornalista escreveu: "Quis saber o que era isso e ele disse que é como o atual; que, quando fala em 'administração do câmbio', está falando em compra de reservas, como é feito atualmente". Entendeu agora? No seu programa eleitoral de quinta-feira, Alckmin abriu dizendo que "o que interessa é o futuro, emprego, Bolsa Família mais forte, oportunidade para a moça, para o moço poder arrumar emprego e ser feliz na vida. Enfim, esse clima de otimismo, de investimento, o Brasil indo para a frente, o governo dando o exemplo, suando a camisa".
Segundo as últimas pesquisas, Alckmin está conseguindo realizar uma proeza: seu balaio de votos no segundo turno está menor do que no primeiro. Informam as pesquisas que 3,6 milhões dos seus eleitores em 1º de outubro estão pensando em votar em Lula em 29 de outubro. Repetindo: 3,6 milhões de eleitores. Para promover essa sangria, é preciso algum empenho.