Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 02, 2006

Editorial de O Estado de S Paulo Colhendo os frutos

Colhendo os frutos

A Petrobrás obteve, em 2005, lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, recorde que deve ser creditado apenas em parte à sua atual administração. Na verdade, a origem do resultado está nas políticas de longo prazo da empresa, adotadas principalmente nas décadas de 80 e 90, combinadas com os preços altíssimos alcançados pelo petróleo no mercado internacional.

Entre os pontos altos dessa história estão os investimentos maciços no domínio da exploração de petróleo em águas profundas, a partir da descoberta do poço de Garoupa, na Bacia de Campos, em 1974 e trouxe reconhecimento internacional aos seus quadros técnicos.

Mas sem a ampla reforma administrativa por que passou entre o final da década passada e o início desta, iniciada na gestão Philippe Reichstul, os resultados da companhia não seriam tão expressivos.

Investimentos crescentes foram feitos na África, no Golfo do México e na América Latina, política que foi mantida na gestão atual, que aumentou os investimentos no exterior. Em 2005, a Petrobrás investiu US$ 1,3 bilhão no exterior, montante inferior apenas ao US$ 1,6 bilhão investido em 2002. Fechou contratos ou acordos na Venezuela, China, Líbia, Tanzânia, Colômbia, Nigéria, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Arábia Saudita.

Medido em dólares, o lucro líquido da empresa foi de US$ 5 bilhões, em 2000; US$ 4,2 bilhões, em 2001; US$ 6,1 bilhões, em 2003; US$ 6,7 bilhões, em 2004; e US$ 10,1 bilhões, no ano passado. Com esses recordes, a Petrobrás ingressou de fato no clube das multinacionais do petróleo. Seus lucros ainda são nominalmente menores do que os de companhias como Exxon, Shell e British Petroleum, na casa dos US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões anuais, mas, em relação ao faturamento, a Petrobrás apresentou índices melhores do que os dessas companhias.

Medida pelo valor de mercado de suas ações cotadas em bolsa, de R$ 218 bilhões, em janeiro, a Petrobrás já é a oitava entre as maiores empresas petrolíferas do mundo.

São frutos de uma longa semeadura que o governo Lula tenta apresentar como colheita do que ele semeou. Em 2005, a produção de petróleo no País cresceu 13%, atingindo a média de 1,68 milhão de barris/dia. O reajuste de 10% nos preços da gasolina e de 12% no diesel contribuiu para o lucro líquido de R$ 8,1 bilhões, no último trimestre, superior em 92% ao do mesmo período de 2004. Até o desaquecimento econômico favoreceu os resultados, pois houve menor necessidade de importação e mais petróleo para exportar.

Aos governos federal, estaduais e municipais, a Petrobrás recolheu, em 2005, R$ 49,3 bilhões, 10% mais do que em 2004, e os acionistas receberão R$ 7 bilhões em juros sobre capital próprio e dividendos, contra R$ 4,3 bilhões, no balanço de 2004.

A importação de 446 mil barris/dia, em média, caiu 20% entre 2004 e 2005, e a exportação atingiu a média de 504 mil barris/dia, com aumento de 23%. O Brasil ainda depende do petróleo leve importado e exporta petróleo pesado, cujas cotações são mais baixas. Ainda assim, a balança comercial do petróleo tendeu ao equilíbrio, em 2005, e deverá ser superavitária, a partir deste ano, com a entrada em funcionamento de novas plataformas e a consolidação da auto-suficiência brasileira em petróleo.

A Petrobrás pretende ampliar ainda mais sua atuação internacional, prevendo investimentos externos de US$ 7,1 bilhões entre 2006 e 2010. Segundo o diretor da Área Internacional, Nestor Cerveró, "a Petrobrás não atua mais no exterior com o objetivo de assegurar o abastecimento do mercado brasileiro". Os 270 mil barris/dia que extrai no exterior não vêm para o Brasil, sendo distribuídos nos mercados locais ou exportados. Até 2010, a empresa pretende produzir 613 mil barris/dia no exterior.

Com os preços altos da commodity, as perspectivas da Petrobrás continuam a ser muito favoráveis. A produção prevista para o final de 2006 é de 1,91 milhão de barris/dia e ela tenderá a gerar forte superávit para a conta petróleo. A Petrobrás diminuiu seu endividamento em 14% e tem uma classificação de risco melhor que a do País, podendo tomar recursos a custo baixo. Mas essas vantagens não a desobrigam de aplicar criteriosamente seus recursos, em especial num ano eleitoral.

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