A idéia é começar por isolar o partido nos três maiores colégios eleitorais
DORA KRAMER
O tucano José Serra deixa hoje a Prefeitura para se candidatar ao governo de São Paulo; em Minas Gerais o governador Aécio Neves fecha ampla aliança para disputar uma reeleição praticamente sem concorrentes; e no Rio de Janeiro não é absurdo pensar que o PFL venha a fazer vista grossa para o apoio do PSDB ao candidato do PMDB, Sérgio Cabral Filho, o favorito nas pesquisas.
Está assim, desenhado, o ponto de partida do cerco eleitoral que a oposição - aí considerados por maiores partidos - pretende fazer ao PT na execução do projeto comum de impedir a reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva e colaborar com o já previsto enfraquecimento da representação petista no Parlamento a partir de 2007.
São Paulo, Rio e Minas somam 42% do eleitorado nacional, num conjunto conhecido na política como Triângulo das Bermudas: quem cair ali, reza o dogma, será tragado pelas urnas.
E é exatamente isso o que pretendem, prioritariamente, o PSDB, o PFL e a ala oposicionista do PMDB. Tão empenhadas estão essas três forças na execução do projeto (para o qual esperam também contar com o auxílio de legendas menores como PDT, PPS e PSOL), que já trataram de arquivar velhas arestas acumuladas durante os oito anos de governo Fernando Henrique e expostas à visitação pública na campanha de 2002.
A lembrança do fracasso, aliás, serve de freio aos ensaios de atritos. O prefeito do Rio, por exemplo, adepto pioneiro e ferrenho da candidatura de José Serra à Presidência, tornou-se um soldado de Geraldo Alckmin.
Quem quiser constranger um pefelista, basta lembrar o rompimento com FH, o lançamento da candidatura de Roseana Sarney (depois aliada de Lula) e as agressivas acusações de que o então governo federal havia posto a Polícia Federal à caça de Roseana para expor o dinheiro armazenado nos cofres da empresa da candidata.
Os tucanos também estão dispostos a esquecer que fundaram o PSDB porque não queriam conviver no PMDB com figuras por eles consideradas de baixa estatura moral, como Orestes Quércia.
O plano de "espremer" os petistas em São Paulo inclui uma aliança com Quércia, agora já promovido, na percepção tucana, à condição de correligionário eficaz.
O mesmo ocorre em relação a Anthony Garotinho, cujos porcentuais nas pesquisas, a natureza populista do discurso e a já exibida capacidade de se opor a Lula com agressividade ímpar tiveram o condão de dissolver desqualificações de outrora e guindá-lo à condição de interlocutor de Fernando Henrique Cardoso.
Para a oposição, a luta, óbvio, é para eleger o presidente da República. Mas, se porventura os votos não derem para tanto, desde já dão como certas e satisfatórias as vitórias no "triângulo", com especial atenção para São Paulo, onde reside a força maior do PT.
Isonomia
A despeito de alguns arroubos oposicionistas em defesa da inclusão no relatório final da CPI dos Correios de julgamentos mais severos em relação ao presidente Lula, o PSDB se deu por satisfeito com o texto do relator Osmar Serraglio.
Agora, se o PT insistir em cobrar igualdade de critérios, o tucanato vai propor o indiciamento do presidente da República por uso de caixa 2. Tal como ocorreu com o senador Eduardo Azeredo.
História, volver
A ato público patrocinado pela OAB em desagravo a Francenildo Costa remete aos tempos da ditadura, quando era comum entidades saírem em defesa de cidadãos ameaçados pelo Estado autoritário.
O gesto agora soa algo passadista, mas não deixa de ter caráter preventivo contra outras ousadias institucionais.
Fina estampa
Diz o código de conduta da Comissão de Ética Pública federal: "Constitui infração quando a autoridade se manifestar publicamente sobre a honorabilidade e o desempenho funcional de outra autoridade federal."
Um artigo que expõe a advertências os ministros Gilberto Gil, da Cultura, e Hélio Costa, das Comunicações. A menos que, pelos critérios da comissão, não configure ofensa trocarem referências na base do "vil" e do "boçal".
Brancaleone
Governistas e petistas tanto fizeram para proteger Paulo Okamotto naquele padrão de dar o passo seguinte de modo a sempre piorar o anterior, que conseguiram dirimir qualquer dúvida a respeito das suspeições que cercavam o presidente do Sebrae em suas atividades de trem pagador.
Essa última de Okamotto se esconder no gabinete para não receber a convocação para acareação com Paulo de Tarso Venceslau vai entrar para a antologia da central petista de produção de armas à oposição.
Compõem ainda a galeria a dança da Guadagnin, os dólares nas cuecas vindas lá do Ceará, o aval de Lula à prática do caixa 2, o Land Rover do Silvinho e a espionagem nas contas do caseiro.